Em casa que tem comida...

Hoje um leitor me mandou o vídeo abaixo...


É uma notícia bacana, mas algumas coisas me incomodaram muito...

  1. Não ficou claro QUAIS bebidas terão o teor de açúcar reduzido. O foco atualmente está sobre os refrigerantes, mas o que aconteceu nos últimos anos foi que as indústrias de refri compraram praticamente todos os fabricantes de suco de caixinha (vide a Coca comprando a Minute Made, Del Valle e outras), de chá e de água mineral. Não é à toa: elas estão vendo o declínio do refrigerante no mundo (já vai tarde!), e não vão se deixar afundar. Só que suco de caixinha em geral tem MAIS açúcar que refrigerante (embora não tenha algumas outras bruxarias químicas), e ainda paga de saudável por aí. É preciso entender se o teor de açúcar neles será reduzido também...
  2. Ok, vão reduzir o teor de açúcar. E trocar pelo quê ? Sabemos que a indústria nunca perde, e que se estão tirando uma coisa vão colocar outra no lugar. Muitas vezes é difícil apreender o conceito de ESCALA. A indústria só tem lucro pela escala monstruosa em que fabrica seus produtos (de que outra forma um pacote de balas, que precisa de mão-de-obra, tecnologia e logística, poderia custar menos do que cenouras ?). Vide a substituição das gorduras trans pelas interesterificadas, que está em andamento e que provavelmente ainda vai matar muita gente. Vão tirar o açúcar e colocar o quê ? Certamente algum adoçante artificial, seja sabidamente perigoso, seja ainda tido como inofensivo. Não se enganem: a probabilidade do uso contínuo de qualquer adoçante ter efeitos danosos no futuro existe. "Pô, Hilton, mas você já falou que consome adoçantes!". Sim, consumo – mas é muito, muito esporádico. Levei meses para me livrar deles, mas agora estou livre para só usar de vez em quando para adoçar aquele chá que a vovó não bebe.
  3. "A mãe se esforça para que a filha coma melhor, mas é difícil". Como assim ? As balas, refris e doces brotam magicamente na geladeira e na despensa ? Eu me lembro da minha mãe me dando um daqueles conselhos que só as mães sabem dar: ao conversarmos sobre criação de filhos anos atrás (antes mesmo de eu adotar a dieta paleo), ela me falou "em casa que tem comida, criança não passa fome". Crianças comem o que há para ser comido na residência. Se os pais não comprarem balas e doces, se os avós não sabotarem trazendo pudim, a criança não vai comer lixo. Fora de casa é outra coisa –  a molecada fica exposta ao mundo, aos coleguinhas e tal. Mas via de regra, crianças ficam mais em casa do que fora. Se não tem lixo para comer, não se come lixo. "Ah, Hilton, mas você já falou que a sua filha come lixo de vez em quando". Come mesmo, mas a opção de comprar uma porcaria (biscoito doce de trigo, por exemplo) é minha e somente minha. Faço isso porque conheço o psicológico da minha menina, porque ela tolera carbos muito bem (sempre foi magra e forte, mesmo antes de eu mexer na alimentação da casa) e porque na maior parte do tempo ela come comida de verdade. Não quero ficar ditando regra para pais não, até porque cada família sabe de si – mas pense na relação que você cria com seu filho: quem vence a maior parte das negociações ? Nas que ele vence, como ele vence ? Conheço uma pessoa que deixava o filho comer apenas iogurte e sucrilhos no almoço, porque senão o moleque "não comia nada". Na casa dos meus pais, e agora na minha, a lei é "não negociamos com terroristas". Se tem comida no fogão para o almoço e você não quer comer, vai ficar com fome – e a próxima refeição que fizer será o almoço.

O melhor, sem dúvida, é começar cedo. Apresente seu rebento à comida de verdade cedinho. Ignore as papinhas industrializadas, macarrão e similares. Leve a criança ao sacolão/hortifruti/açougue. Explique de onde vem cada alimento, qual bem à saúde ele promove. Ensine a reconhecer cada fruta e legume. E não compre lixo para sua casa (ou compre dentro de um contexto controlado). 

Agir assim não garante que seu filho não vai tomar gosto pelo lixo, mas aumenta bastante a probabilidade!

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