
Este é um resultado forte, mas não nos diz nada sobre como os adoçantes causam tal efeito. Nos últimos anos, entretanto, a pesquisa de diabetes apontou o dedo para as bactérias simbiontes que vivem em nosso trato digestivo – chamadas de “microbiota intestinal”. Estes organismos tem a oportunidade de digerir tudo o que nós comemos, e podem tanto alterar os nutrientes aos quais nossas células tem acesso, quanto liberar químicos que influenciam a saúde humana.
Os autores se perguntaram se as bactérias intestinais poderiam agir como intermediários entre os adoçantes artificiais e a resposta à glicose. O seu primeiro teste da idéia foi simplesmente exterminar as bactérias com uma dose pesada de antibióticos. Quando fizeram isso, a diferença entre os animais que recebiam glicose e os que recebiam adoçantes artificiais, desapareceu. Para realmente fechar o caso, os autores obtiveram material fecal dos ratos que receberam adoçantes artificiais e o transferiram para os ratos que haviam sido tratados com antibióticos. Os animais que receberam o transplante mostraram tolerância reduzida à glicose.
Isso poderia ser realmente relevante para a saúde humana ? Para ter uma pista, o time fez 7 voluntários saudáveis começarem a consumir altos níveis de sacarina (a dose máxima recomendada pela FDA). Ao final de 1 semana, quatro deles terminaram com uma resposta a insulina reduzida. Novamente, os pesquisadores recolheram amostras de fezes e as deram aos ratos que haviam sido livrados das bacterias. Transplantes fecais daqueles que tiveram resposta à insulina ruim, transferiram esse comportamento aos ratos; transplantes fecais dos que não foram afetados pela sacarina, não tiveram efeito.
O que poderia ter acontecido com estas bactérias ? Para descobrir, os pesquisadores fizeram uma análise de DNA nas amostras fecais. Usar adoçantes artificiais claramente mudou as espécies bacterianas presentes na microbiota intestinal, fazendo com que os números de alguns grupos aumentassem e outros diminuíssem. O mesmo resultado ocorreu se as amostras fossem cultivadas em culturas. Além disso, os genes expressados pelas populações resultantes eram diferentes. Alguns caminhos metabólicos tornaram-se mais ativos, enquanto outros foram desacelerados. (Não está claro se essa alteração é decorrente da mudança das populações bacterianas do comportamento metabólico diferente entre quaisquer espécies de bactérias presentes)
Isso terá dois efeitos: vai mudar os nutrientes disponíveis para as células humanas, e vai mudar os produtos metabólicos liberados pelas bactérias. Presumivelmente, um ou ambos os efeitos alteram como o corpo lida com a insulina e a glicose, apesar de o mecanismo preciso precisar esperar mais estudos.
Para aqueles de vocês que lembram-se dos medos de antigamente, sobre adoçantes artificiais, e agora estão pensando “Viu ? Eles estavam certos!” – eles não estavam. Tais preocupações eram focadas nos efeitos dos produtos químicos por si. As novas descobertas são generalizáveis para qualquer adoçante artificial, mesmo que tenham propriedades químicas distintas.
Isso também não significa que estes adoçantes são o puro mal. Os testes em humanos foram extremamente curtos, e tiveram população pequena, então ainda precisam de acompanhamento mais longo. Ainda assim, ficou claro que nem todo mundo tem a mesma resposta a adoçantes artificiais. Isso não deveria ser uma surpresa. Pessoas tem microbiotas muito mais variadas do que ratos de laboratório geneticamente iguais, criados em condições estéreis, e estas microbiotas vão interagir com as diferentes coisas que as pessoas comem como parte de suas dietas normais.
Compreender os detalhes de quando e como a microbiota influencia os níveis de insulina vai consumir muito trabalho adicional. Apenas quando este estiver pronto, teremos um panorama claro de quem provavelmente vai ver efeitos negativos do uso de adoçantes artificiais. Então, apesar de este ter sido um estudo abrangente sobre o que acontece em ratos, a ênfase precisa estar na palavra “podem”, quando os autores concluem: “nossas descobertas sugerem que os adoçantes artificiais podem ter contribuído diretamente para aumentar a epidemia que foram concebidos para combater”.