Você tem medo de quê ? Parte II
Já falei sobre isso anteriormente: nós temos medo das coisas erradas. Ou pelo menos a maior parte da população tem. Tememos a violência e o trânsito, e dependendo da faixa etária isso pode até fazer sentido. Mas a grosso modo, é apenas FUD.
Na prática, podemos ter medo de morrer devorados por leões (conforme a armadilha cognitiva da saliência garante), mas o que nos mata MESMO são as doenças crônicas. E agora, alguém resolveu desenhar isso com ajuda de um computador.
O CDC (Centro de Controle de Doenças – órgão do governo americano) produziu um banco de dados com as 113 causas de morte mais comuns, agrupadas em 20 categorias, e que leva em consideração as mortes registradas nos EUA entre 2005 e 2014. Agora um fanático por visualização de dados resolveu mastigar os dados e desenhar gráficos bonitões que mostram o percentual de mortes por cada uma dessas categorias, vinculadas ao sexo, etnia e idade.
O resultado não é nada surpreendente para quem está inteirado sobre as verdades que a mídia esconde, mas não deixa de chocar.
O resultado não é nada surpreendente para quem está inteirado sobre as verdades que a mídia esconde, mas não deixa de chocar.
Causas de morte em homens, por idade
Causas de morte em mulheres, por idade
Nos gráficos acima, foi usado um estilo chamado "área empilhada". Isso quer dizer que, para cada faixa etária (eixo X), dos 100% de mortes, cada cor representa o percentual de mortes devida a cada causa (cada faixa colorida).
Por exemplo, aos 20 anos de idade, a chance de você morrer de causas externas (violência, acidentes ou leões) é de mais de 50%. Já a chance de morrer de câncer nessa idade é menor que 10%. Dadas as idiotices loucuras características da juventude (quem nunca ficou de pé no parapeito do 15o andar ou deitou-se no meio da rodovia por causa de uma aposta, quando tinha seus 15-16 anos ?), não é novidade para ninguém.
Já aos 80, a chance de bater as botas por conta de problemas circulatórios beira os 50%
Se considerarmos as áreas cobertas pelas causas externas (cinza escuro) e por "outras causas" (cinza claro), a chance de morte é de 11% para homens e 7% para mulheres ao longo da vida inteira. Na prática, esse risco vai caindo rapidamente com a idade, e depois dos 50 as pessoas "aquietam o facho" (como se diz aqui em Minas) – e passam a morrer por conta de doenças.
Doenças que poderiam ser evitadas, em sua maioria, por hábitos de vida mais seguros – o que inclui fortemente uma alimentação melhor.
Abaixo, a tabela que computa o percentual de mortes por sexo, estratificada por causa:
Causa de morte | % em homens | % em mulheres |
---|---|---|
Doenças infecciosas e parasitárias | 3 | 3 |
Câncer | 25 | 22 |
Doenças do sangue ou órgãos formadores de sangue |
< 1 | < 1 |
Doenças endócrinas, metabólicas e nutricionais | 4 | 4 |
Distúrbios mentais e de comportamento | 3 | 6 |
Doenças do sistema nervoso | 4 | 7 |
Doenças do sistema circulatório | 32 | 33 |
Doenças do aparelho digestivo | 4 | 4 |
Doenças do sistema respiratório | 9 | 10 |
Doenças do sistema músculo-esqueletal e do tecido conjuntivo |
< 1 | 1 |
Doenças do sistema genitourinário | 2 | 3 |
Condições originadas no período perinatal |
1 | < 1 |
Defeitos congênitos | < 1 | < 1 |
Causas externas | 10 | 5 |
hipovitaminoses e outras. Mas não incluem diabetes, por exemplo.
Doenças circulatórias ? Que tal uma alimentação mais pobre em carboidratos simples, que agrida menos o endotélio arterial e reduza a inflamação ?
Câncer ? Que tal uma alimentação mais pobre em carboidratos simples, que vai reduzir a secreção de fatores de crescimento celular como o IGF-1 ?
E por aí vai. A nutrição já foi a única medicina existente, no passado. Remédios eram chás, raízes ou simplesmente jejum. A nossa expectativa de vida era mais baixa que hoje, mas morríamos basicamente por violência e doenças agudas/congênitas.
Com o avanço da ciência da medicina, é óbvio que nossa qualidade e expectativa de vida aumentaram. Mas as duas maiores melhorias foram a penicilina e o saneamento básico – ambas voltadas ao tratamento/prevenção de doenças agudas.
As doenças crônicas, essas que os gráficos mostram que estão nos matando, continuam firmes, fortes e crescendo.
O pensamento médico também mudou com os séculos. Tem um email que circula por aí, cujo conteúdo é mais ou menos assim:
5.000 a. C. — Tome, faça um chá com essa planta.
1.000 a. C. — Planta é coisa pagã! Tome, faça essa oração.
1.700 d. C. — Reza é superstição. Tome, beba essa poção.
1.920 d. C. — Poção é coisa de índio. Tome esse comprimido.
1.960 d. C. — Esse comprimido está ultrapassado. Tome esse antibiótico.
2.000 d. C. — Esse antibiótico não funciona. Tome, faça um chá com essa planta.
Eu espero que em poucos anos a última linha seja alterada para ser algo do tipo "Pare de comer esse lixo. Coma essa planta e esse bicho".
Vamos ver o que acontece.
Comentários
Postar um comentário