Associação de Pediatras diz que aditivos alimentares causam danos e precisam ser revistos

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Norra MacReady



Mais informações são urgentemente necessárias sobre os efeitos fisiológicos e cognitivos dos aditivos no suprimento alimentar americano, de acordo com uma nova declaração de política divulgada pela Academia Americana de Pediatria (AAP) e publicada online na revista Pediatrics.

O atual marco regulatório para proteger o público tem "falhas sérias" por causa de "noções antiquadas de segurança" e "necessita seriamente de reformas", disse ao Medscape Medical News o principal autor do comunicado, Dr. Leonardo Trasande. "Os estudos mais antigos foram baseados em uma visão mais simplista da saúde humana", explicou ele.

Por exemplo, o processo pelo qual os aditivos são designados como "Geralmente Reconhecidos como Seguros" (GRAS) pela FDA (N.T.: órgão equivalente à ANVISA nos EUA) tem sido usado em demasia e é insuficiente para proteger contra conflito de interesses, Trasande e colegas no Conselho de Saúde Ambiental da AAP escreveram na declaração.

"Devido ao uso excessivo do processo GRAS e outras falhas importantes dentro do sistema de segurança alimentar, existem lacunas substanciais nos dados sobre os possíveis efeitos à saúde dos aditivos alimentares", acrescentam eles em um relatório técnico.

De fato, muitos dos produtos químicos atualmente presentes nos alimentos "não foram testados, enquanto outros não foram testados com relação a desregulação endócrina ou seu impacto no desenvolvimento do cérebro, e seu efeito sobre a saúde das crianças ainda é desconhecido", disse Trasande, que é professor associado de pediatria da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, em uma entrevista por telefone.

Como resultado, os dados para apoiar o uso desses compostos geralmente são inexistentes ou obsoletos, e um conjunto crescente de evidências sugere que elas podem ter sérias conseqüências para a saúde. "As crianças podem ser particularmente suscetíveis aos efeitos desses compostos porque têm maior exposição relativa em comparação aos adultos (por causa da maior ingestão por quilo), seus sistemas metabólicos (ou seja, a capacidade de desintoxicação) ainda estão em desenvolvimento e os principais sistemas de órgãos estão passando por substanciais mudanças e maturações que são vulneráveis ​​a rupturas", escrevem os autores no relatório técnico.

Particularmente preocupantes são "substâncias associadas à disrupção do sistema endócrino no início da vida, quando a programação de desenvolvimento dos sistemas de órgãos é suscetível a perturbações permanentes e duradouras", acrescentam.

O relatório técnico lista a desregulação endócrina, atividade obesogênica, imunossupressão, cardiotoxicidade e diminuição do peso ao nascer como alguns dos efeitos mais sérios identificados em algumas classes amplamente utilizadas de aditivos, que podem incluir produtos químicos adicionados a embalagens ou materiais de embalagem, bem como aqueles adicionados diretamente à comida.

Os médicos deveriam assumir a liderança para pressionar por mudanças, advogando por novos procedimentos regulatórios e educando seus pacientes, particularmente aqueles pertencentes a minorias e famílias de baixa renda, que parecem ser os mais afetados, disse Trasande. "Gostaríamos de ver a remoção de conflitos de interesse do processo de teste e aprovação, e a FDA assumir um papel mais importante em realizar seus próprios testes de toxicologia", em vez de confiar em pesquisas patrocinadas pela indústria.

Além disso, os consumidores podem começar a tomar medidas simples para limitar sua exposição a esses compostos, como escolher mais frutas e verduras frescas, limitar a ingestão de carnes e outros alimentos altamente processados, e não aquecer no microondas alimentos ou bebidas em recipientes de plástico sempre que possível, porque alguns aditivos podem vazar para a comida quando aquecidos. Por esse mesmo motivo, não é recomendável colocar recipientes de plástico na máquina de lavar louça.

Os pediatras também podem recomendar que seus pacientes e familiares evitem certos tipos de plásticos, porque eles contêm aditivos específicos. "Veja o código de reciclagem na parte inferior dos produtos para encontrar o tipo de plástico e evite plásticos com códigos de reciclagem 3 (ftalatos), 6 (estireno) e 7 (bisfenóis), a menos que os plásticos sejam rotulados como 'biobaseados' ou 'verdes' "indicando que eles são feitos de milho e não contêm bisfenóis", escrevem os autores na declaração de política.

Os piores infratores


A declaração aborda duas grandes categorias de aditivos: diretos e indiretos. Aditivos indiretos referem-se a substâncias em "materiais de contato com alimentos", como "adesivos, corantes, revestimentos, papel, papelão, plástico e outros polímeros", explicam os autores da declaração de política. Os aditivos alimentares diretos incluem produtos químicos, como corantes, aromatizantes e conservantes adicionados aos alimentos durante o processamento.

Dentro dessas duas categorias, os autores identificaram seis tipos de aditivos de maior preocupação, com base no acúmulo de evidências resumidas no relatório e em um comunicado de imprensa anexo:

  1. Bisfenóis: Utilizados na fabricação de embalagens plásticas e latas de alimentos e bebidas, esses compostos têm sido associados à ruptura endócrina e neurodesenvolvimental e à atividade obesogênica, com alterações no calendário da puberdade, redução da fertilidade e comprometimento do desenvolvimento neurológico e imunológico. Um deles, bisfenol A, já foi proibido de mamadeiras e copos de canudinho.
  2. Ftalatos: Como componentes de filme plástico e tubos de plástico e recipientes, os ftalatos foram implicados de forma semelhante na desregulação endócrina e na atividade obesogênica. "Uma literatura robusta" mostra que estas substâncias químicas afetam adversamente o desenvolvimento sexual masculino, podem contribuir para a obesidade infantil e resistência à insulina, e também podem contribuir para doenças cardiovasculares.
  3. Perfluoroalquílicos: Estes produtos químicos são utilizados na fabricação de embalagens de papel e papelão à prova de gordura. Eles têm sido associados com imunossupressão, desregulação endócrina, como função tireoidiana diminuída e diminuição do peso ao nascer.
  4. Perclorato: Muitas vezes adicionado a embalagens plásticas para alimentos secos para controlar a eletricidade estática, o perclorato tem mostrado interromper a produção do hormônio tireoidiano, com implicações para a função cognitiva subsequente. Particularmente preocupante é a exposição entre mulheres grávidas, "dado que o feto em desenvolvimento é inteiramente dependente do hormônio da tireoide materna durante o primeiro trimestre da gravidez", escrevem os autores no relatório técnico. Eles sugerem que o perclorato "pode ​​estar contribuindo para o aumento do hipotireoidismo neonatal e outras perturbações do sistema tireoidiano documentadas nos Estados Unidos".
  5. Nitratos e nitritos: Como aditivos alimentares diretos, esses compostos são usados ​​como conservantes e realçadores de cor em carnes curadas e processadas, peixe e queijo. Tem havido "preocupação de longa data" sobre o seu uso, escrevem os autores, por causa de uma associação com cânceres do sistema nervoso e gastrointestinal e metemoglobinemia em crianças. Eles foram classificados como "prováveis ​​carcinógenos humanos" em 2006 pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer.
  6. Corantes alimentares artificiais: Muitas vezes adicionados a produtos que atraem as crianças, como bebidas à base de sucos, cores artificiais de alimentos têm sido associadas em alguns estudos com um risco aumentado de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Embora seus mecanismos de ação ainda não sejam completamente compreendidos, e a pesquisa "deva ser interpretada com cautela", os autores recomendam "uma reavaliação completa" dos corantes alimentares artificiais para garantir sua segurança.

Algumas mudanças, como a revisão dos procedimentos de teste da FDA, exigem ação do Congresso, reconhece Trasande. No entanto, "essa não é a única oportunidade de ação proativa aqui", disse ele ao Medscape Medical News. O próprio fato de que a AAP emitiu este relatório "esperançosamente aumentará o alarme".

O atual clima político pode ser difícil, disse ele no comunicado à imprensa, mas "há uma necessidade urgente de que os tomadores de decisão consigam resolver essa questão, começando por reverter a presunção de segurança dos produtos químicos adicionados aos alimentos".

Os autores não revelaram relações financeiras relevantes.

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