TDAH e dieta de eliminação

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Emily Deans

Há pouca discussão de que a dieta contribui para as maiores doenças da civilização, tais como doença cardíaca e diabetes tipo 2. Entretanto, o efeito da doença nas doenças mentais permanece controverso nos círculos convencionais. Não é inteiramente claro para mim o motivo, dado que já se sabe há mais de uma décda que diferentes tipos de inflamação mediam tanto a síndrome metabólica quanto depressão e esquizofrenia. Parece lógico para mim, observar os insultos dietéticos ou ambientais que predisporiam alguém a desenvolver tais distúrbios, e não apenas em publicações obscuras ou na Austrália.

Mas então eu também acho que é lógico que nossos sistemas imunes sejam responsáveis por doença cardíaca e colesterol alto, não que nossos fígados (em um esforço desesperado para nos salvar) despeje colesterol na corrente sanguínea e entupa nossas artérias como uma meia velha jogada na privada. A razão que vejo para que o sistema imune seja um culpado lógico é que todo o seu propósito é MATAR COISAS e gerar caos. Às vezes o seu general se volta contra você. Lei da selva. Mas estou divagando.

TDAH em crianças. Controversa, é claro, já que estimulantes são o tratamento primário. A controvérsia apresenta-se grande em parte porque o comportamento é primariamente percebido como um problema disciplinar ou dos pais. E há sempre a idéia de que "açúcar" torna as crianças "hiper" – então temos esse meme cultural de pais preguiçosos e crianças mimadas mastigando balas e lixo, deixando os professores malucos – os professores sendo eles mesmos preguiçosos, querem as crianças medicadas até o talo, de maneira que ninguém prccise trabalhar (especial e presumivelmente o psiquiatra que alegremente prescreve drogas viciantes em uma visita de 4 minutos para manter as famílias voltando e ganhar um cheque gordo). Nós realmente vivemos em um mundo em que todo mundo que recebe a tarefa de manter nossos filhos felizes e seguros é completamente preguiçoso e corrupto ? Porque se esse meme cultural é verdade, estamos lascados.

Vamos para a realidade, na qual famílias realmente sofrem com a desordem, e professores querem que seus alunos melhorem, e médicos tentam investir tempo em maneiras variadas de ajudar. TDAH é uma lista de sitnomas - hiperatividade e falta de atenção sendo os primários. Parte do problema é a própria lista idiota – sintomas de TDAH são uma função dos problemas do lobo central do cérebro, e embora muitos neurotransmissores estejam envolvidos, uma ineficiência da transmissão de dopamina pode ser o ponto-chave. E, de fato, há algumas famílias com muitos casos de TDAH que têm problemas genéticos com seus receptores de dopamina. Pronto. Simples. É a dopamina. Uma criança tem sintomas, dê dopamina em um comprimido de ritalina, e caso encerrado.

Não tão rápido. O problema é que um monte de questões diferentes podem causar problemas com o lobo frontal e outras áreas associadas com TDAH, não penas a genética. Depressão, por exemplo, parece acabar com a nossa capacidade de permanecer focados. O mesmo vale para a ansiedade. Falta de sono (eu serei mais específica sobre sono e sintomas de TDAH e comportamento desafiador em outro artigo). Outros tipos de inflamação. Problemas com um córtex frontal que se afina em desenvolvimento. A vulnerabilidade aos diferentes insultos será genética, e as famílias em eral enfrentam ambientes ismilares, então uma família com péssimos sono ou hábitos alimentares pode acabar tendo sintomas de TDAH, da mesma maneira que uma família que tem o problema primário de dopamina. Estimulantes vão geralemente ajudar o lobo frontal e mudanças comportamentais podem ajudar também, independente da causa – mas nunca se deve ignorar um insulto ambiental constante que está danificando o cérebro enquanto você corrige os sintomas com um band-aid.

Há muito em jogo. Crianças com TDAH têm probabilidade muito maior de crescerem e se divorciarem, perder empregos, envolver-se em acidentes de trânsito e cometer crimes. Nós não queremos descartar o problema como inexistente e focarmos apenas nos tratamentos comportamentais, mas também não queremos empurrar ritalina em cada garoto que arranja problemas na escola. É uma situação complexa, uma desordem multifacetada e complicada, e por algum tempo eu tenho suspeitado que causas dietéticas sejam o problema para algumas crianças. Eu até já escrevi sobre isso algumas vezes – na maioria delas, revisando o trabalho de um grupo britânico que fez um estudo bem-projetado com 300 e poucos garotos em 2007, chamado Estudo de Southampton.

Resumindo, os pesquisadores deram a garotos da comunidade (um grupo aleatório de garotos, nenhum particularmente diagnosticado com TDAH, embora alguns deles pudessem ser diagnosticados), em teste cego cruzado, bebidas placebo ou dois tipos de bebidas com aditivos alimentares, com períodos de arrefecimento entre os testes. Os garotos que beberam a bebida com aditivos ficaram significativamente mais "hiper" na avaliação de pais, professores e observadores independentes. É o tipo de estudo que deveria realmente fazer as suas orelhas se levantarem – claro, ele precisaria ser repetido, mas os resultados foram bastante definitivos. (Quando eu falo sobre a falta de apoio da medicina convencional pela ideia de que a dieta poderia estar ligada à doença mental, o título de um arquivo da Revista de Saúde Mental de Harvard em junho/2009, dois anos após o Estudo de Southampton, foi "Dieta e TDAH – Alguns aditivos alimentares ou nutrientes podem afetar os sintomas ? O júri ainda não deliberou")

Bem, os pesquisadores britânicos continuaram a cavar a fundo nos resultados do Estudo de Southampton, e ano passado publicaram outro estudo no Jornal Americano de Psiquiatria (esses caras fazem um excelente trabalho, e conseguem publicar em todos os grandes jornais). Eu escrevi sobre isso aqui - TDAH, Aditivos alimentares e Histamina. Novamente, para resumir, os pesquisadores verificaram a genética daqueles mesmos garotos do Estudo de Southampton, e descobriram que aqueles que ficaram mais "hiper" com os aditivos tinham probabilidade significativamente maior de ter certos problemas com genes regulando seu sistema de histamina. Qualquer um que já tomou difenidramina para tratar olhos inchados e um nariz escorrendo em um dia de muito pólen vai saber mais ou menos o que é histamina. Nossos corpos a liberam em resposta a algum estímulo alergênico. Eu afirmei no meu blog que o estudo de Southampton parece nos mostrar que, de fato, em algumas crianças (não todas!) os sintomas de TDAH são uma alergia alimentar.

Essa semana, outro excelente estudo foi publicado no Lancet, e deu o próximo passo lógico para a exploração científica. Há também um editorial. (Nenhum dos dois é grátis, infelizmente). O estudo INCA é belga e envolveu um estudo randomizado controlado com uma fase aberta (parece ser um simples-cego) seguida por um teste duplo-cego cruzado de uma dieta de eliminação versus uma "dieta saudável" (controle). As 100 crianças estudadas tinham 4-8 anos de idade e diagnóstico de TDAH.

Os resultados foram assombrosos (bem, talvez não para mim, ou para um monte de pais – mas para os céticos sobre dietas por aí, deveriam ser sim, assombrosos). Aproximadamente 2/3 das crianças na dieta de eliminação por 9 semanas tiveram redução significativa dos sintomas de TDAH e do comportamento desafiador. Os sintomas retornaram quando as crianças voltaram à "saudável" dieta de controle. Os seguidores de dieta paleo mais atualizados vão sorrir quando ouvirem qual foi a dieta de eliminação: ela foi restrita a arroz (alguns podem evitar arroz branco pelo excesso de carboidratos e baixo valor nutricional, mas a maioria vai concordar que é um amido "seguro" e essencialmente livre de toxinas e objeções), carne, legumes, pêras e água. Houve uma dieta menos estrita na qual pequenas quantidades de batatas, trigo e outras frutas foram permitidas, mas ao fim da semana 2 dessa dieta, 41% dos garotos não tinha resposta à versão menos estrita e foi posta na mais estrita.

Houve algumas coisas interessantes. Os garotos foram todos testados para anticorpos IgG contra comida, supostamente para ajudar a identificar intolerâncias alimentares. Tais testes são amplamente usados por médicos e profissionais de saúde para diagnosticar alergias alimentares, mas quando você entra no detalhe, não há muita evidência de que tais testes te digam muito sobre o que poderia te causar alergia na prática. Anticorpos IgG simplesmente significam que em algum ponto do caminho a sua corrente sanguínea foi exposta a alérgenos alimentares. Para ser honesta, eu acho que pessoas com montes de alergias alimentares IgG positivas têm intestinos permeáveis, que o trigo e um microbioma intestinal ruim são culpados razoavelmente prováveis e que os alimentos que aparecem num teste IgG são amostras aleatórias do que conseguiu vazar pelo intestino permeável. No estudo INCA, os garotos foram cuidadosamente re-testados com os alimentos que lhes eram IgG positivos, e seus sintomas de TDAH pareceram não ter nada a ver dom o teste IgG. Então eu estou certa :-) (talvez).

Uma citação do artigo da Medscape que sumariza os resultados e o editorial:

O time do Dr. Pelsser conclui que uma dieta de eliminação restrita e estritamente supervisionada "é um instrumento de valor para verificar se o TDAH é induzido por alimentos, [mas] a prescrição de dietas com base em testes de IgG sanguíneo deveria ser desencorajada".

Em seu editorial, o dr. Ghuman nota que estudos com dieta de eliminação são "complexos e desafiadores". O estudo INCA foi "bem-desenhado e cuidadosamente feito, mostrou um beneficios com uma dieta de restrição supervisionada e provê uma opção adicional de tratamento para crianças pequenas com TDAH". "Para pais interessados", disse o Dr. Ghuman ao Medscape Medical News, "os clínicos deveriam encorajá-los a buscarem aconselhamento com os cuidadores primários das crianças e um nutricionista para monitoramento do estado e necessidades nutricionais destas. Os pais precisarão de diretrizes e supervisão apropriadas para um protocolo estruturado que determine quaisquer benefício e identifique alimentos incriminados".

Então mais evidências se acumulam. Na prática, os mesmos pesquisadores executaram um estudo randomizado piloto com 27 garotos, publicado em 2009 e descobriram que 11 em 15 crianças melhoraram em no mínimo 40%  com a dieta do estudo – enquanto nenhuma das 12 crianças na dieta de controle melhorou.

Eu posso não estar completamente alienada com a minha premissa básica, afinal.

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