A mais nova aventura do menino que nasceu voando

No domingo de Natal do ano passado, minha esposa e eu notamos um inchaço no lado direito do pescoço do Bruno, nosso filho mais novo (aquele que nasceu voando). Fui com ele ao hospital e  fizemos um hemograma (que coisa agoniante é segurar um bebê para que lhe tirem sangue – especialmente quando as veiazinhas são difíceis de achar e são necessários diversos furos). Acusou uma infecção iniciando-se, então o inchaço poderia ser parotidite (caxumba) ou linfadenite.

O médico plantonista sugeriu, dada a pouca idade dele (5 meses) entrar com antibiótico (cefalexina) por precaução. Começamos com a cefalexina no próprio dia 25/12. Na quarta-feira seguinte (28/12) fomos ao pediatra do Bruno, e ele concordou com os procedimentos do plantonista. Nesse mesmo dia, fizemos um ultrassom para detectar quais eram as estruturas realmente comprometidas – resultou que eram mesmo os linfonodos. Descartou-se então caxumba e algum tipo de tumor.

No dia 29/12 percebemos que o inchaço tinha aumentado, e fizemos outro hemograma. O quadro dele havia piorado um pouco, e a médica plantonista decidiu trocar a cefalexina por amoxicilina e clavulanato.

Em todo esse tempo, ele teve apenas um episódio de febre baixa (37.7C) que controlamos com antitérmico. Não deixou de alimentar-se, e embora tenha ficado um pouco choroso, o humor de sempre manteve-se: o menino é um saco de risadas...

Como ele estava bem dada a situação, e como já tínhamos combinado uma festa de reveillon na nossa casa, mandamos as crianças para as casas da vovó e da titia no dia 31/12. (Ainda teve uma mini-aventura na madrugada de reveillon, porque ao dar a dose de antibiótico da madrugada a vovó deixou o frasco cair no chão – saímos correndo da festa, fomos à farmácia 24h, fomos à casa da vovó, demos a dose e voltamos para a festa. Viva o Uber!).

 No dia 01/01, voltei ao hospital para fazer outro hemograma e o quadro dele tinha melhorado um pouco – mas não o suficiente. Fizemos também um ultrassom transfontanela (a "moleira" dele estava um pouco alta) e outro ultrassom do inchaço. Descobriu-se fluído (pus) e foi declarado um abscesso. A médica recomendou a internação para realização de cirurgia e drenagem do líquido...

... e o Bruno fez seu primeiro JI: à força, e de cortar o coração :-( Foram 17 horas sem comer, aguardando a entrada para o bloco cirúrgico. Para um bebê de 5 meses, deve ter sido uma eternidade.

A cirurgia em si foi rápida – menos de 30 minutos. A médica disse que tirou 11ml de pus grosso, verde (ou seja, infecção sob combate acirrado) e mandou para cultura. Ficamos internados até a sexta (06/01), vendo o desenrolar do processo. O antibiótico foi trocado para oxacilina e ceftriaxona (armamento pesado, de amplo espectro), e o corte da cirurgia ficou drenando nesse meio tempo. 

Acabou que a bactéria envolvida era Staphylococcus aureus, um "inquilino" comum da nossa pele. Não sabemos como ela foi parar na circulação do Bruno, já que ele não tinha feridinhas aparentes. Uma vez identificado o inimigo, o antibiótico foi "reduzido" para cefadroxila (bem mais fraco que os anteriores, mas extremamente eficaz contra o Staphylo).

Em pouco mais de 1 semana o corte já estava fechado e o inchaço praticamente havia desaparecido. Agora, quase 1 mês depois, a lembrança física que resta é uma cicatriz pequenininha no pescoço do guri. 

Foi um susto enorme, e nos fez lembrar de quando a Sara tinha só 1 mês e (também) foi internada com suspeita de infecção bacteriana. Fez diversas punções de líquido espinhal, usou acesso venoso na cabeça... Uma semana de coração apertado.

Felizmente, tudo terminou bem em ambos os sustos. Acho até que é uma das funções básicas dos filhos, fazerem os pais passarem aperto :-D

Mas esse blablablá todo é para concluir uma coisa: 

Não subestime os avanços da medicina e da farmácia no tratamento de doenças agudas.

Quem está envolvido no mundo paleo/low-carb geralmente vê os autores dando paulada em estatinas, na maneira convencional de se tratar o diabetes, nos hipotensionantes  e em mais um monte de outras coisas.

Mas se você prestar atenção, vai ver que isso geralmente aplica-se a doenças crônicas derivadas de estilo de vida. Tratar diabetes tipo 2 com metformina sem mexer na dieta é jogar sal no mar. Mas contra uma infecção bacteriana, há pouco que a alimentação possa fazer...

Lembre-se de que a expectativa de vida dos humanos só chegou aos 70 anos no século XX (no Brasil, em 1900 a expectativa de vida era de 29 anos! Só chegamos à expectativa de 70 anos em 2000/2001), e que isso foi devido basicamente a duas coisas: difusão do saneamento básico e descoberta da penicilina.

É inclusive uma das argumentações que o Dr. Loren Cordain faz quando os detratores atacam a dieta paleo dizendo que "antigamente morria-se aos 40 anos": morria-se aos 40 anos, mas era por violência, fome ou doença aguda (malária, tifo, gripe, tétano, varíola, peste bubônica, etc). Hoje morremos aos 60-70 e na maioria dos casos é por doença crônica: diabetes, câncer, hipertensão, Alzheimer, etc.

Assim sendo, entenda isso: o tratamento de doenças agudas é um dos campos onde o gênio humano mais cresceu ao longo da nossa história. Vacinas, soros, antibióticos, antitérmicos, analgésicos. Se nós estamos aqui hoje, no número que somos, devemos isso a eles.

Isso não é dizer que "a humanidade não existiria se não fosse por esse conhecimentos". Nós somos criaturas difíceis de matar, na média. Mas certamente seríamos muito menos, e com uma expectativa de vida bem menor.

Não deixe de vacinar seus filhos, não tente curar infecções só com plantas. A medicina ainda tem muitas falhas, mas no caso específico dos problemas agudos, como se diz aqui em Minas, "é o mió que tá teno".

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