A sensibilidade ao glúten está na sua cabeça ?
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Mark Sisson
Primeiramente, a sensibilidade não-celíaca ao glúten/trigo (SNCG) era uma enganação e todo mundo afirmava que as pessoas que sofriam com ela eram parte de um delírio coletivo. Então alguns estudos recentes apareceram, e pareceu que SNCG era condição real. Pouco depois, pesquisadores ofereceram teorias diferentes. Talvez fosse intolerância a FODMAPs. Talvez fosse culpa de toda aquela fibra de trigo bagunçando o intestino. Talvez fosse fibra de menos e outros substratos fermentáveis, e na prática nós estávamos na prática matando nossas bactérias intestinais e compromentendo a saúde das nossas tripas. Talvez não fosse realmente o glúten. E talvez fosse na realidade algum tipo de placebo. Uma das descobertas mais recentes é que a SNCG pode nem sequer existir. Qual é a verdade?
A resposta à controvérsia na mídia é previsível. "Sem glúten" era apenas uma moda e nós eramos "bobos" por segui-la. Paleo e sem glúten são apenas “mentiras que contamos a nós mesmos”, e elas estão literalmente nos destruindo. O lado bom disso é esse vídeo viral hilário, mas não é ele que afasta as pessoas que poderiam realmente se beneficiar ao evitar glúten/grãos. Ou as pessoas que já se beneficiaram mas continuam duvidando e renegando a dieta. Eu não tenho nenhum dado concreto, mas já recebi feedback suficiente de leitores confusos perguntando se os benefícios reais e mensuráveis que eles tinham estava apenas em suas cabeças.
Talvez não estejam.
Um novo estudo acaba de introduzir outro ponto: pessoas que reportam ter SNCG mostram evidência de ativação do imunológica sistêmica e permeabilidade intestinal prejudicada. Resumindo, SNCG é caracterizada por intestino permeável, translocação aumentada de conteúdo intestinal – incluindo toxinas microbianas – para a circulação, e reatividade imune moderada à presença de glúten. Certamente parece real.
Como o estudo foi conduzido ?
Pesquisadores recrutaram um grupo de 160 adultos, 80 dos quais tinham SNCG comeram uma dieta normal. 40 eram celíacos, 40 eram saudáveis (controles). Eles procederam alguns testes para determinar o status inflamatório inicial dos sujeitos, e aqui está o que encontraram:
Sujeitos com SNCG mostraram mais reatividade imune ao glúten que os controles saudáveis, mas menos que os celíacos. Essa reatividade aumentada por parte dos SNCG não foi mediada pelos genes tipicamente associados aos celíacos
Os SNCGs tiveram elevação de biomarcadores que indicam dano ao revestimento intestinal. Isso é intestino permeável, a condição que as pessoas "racionais" ainda insistem que só existe na sua imaginação.
Os SNCGs tiveram maiores níveis de proteína ligadora de lipopolissacarídeos (LBP) e sCD14 do que controles e celíacos. Lipopolissacarídeo (LPS) é uma endotoxina bacteriana que tem alguns efeitos nocivos à saúde se tiver acesso sistêmico. Nossos corpos despacham LBP e sCD14 para regular a toxicidade do LPS, evitar dispersão sistêmica e manter uma resposta inflamatória saudável. Altos níveis de LBP e sCD14 indicam elevada inflamação sistêmica. Os SNCGs também tiveram elevados níveis de anticorpos para LPS. Isso sugere que o LPS estava chegando à circulação – talvez através de um revestimento intestinal comprometido – e disparando a resposta inflamatória.
Os SNCGs tiveram elevados níveis de anticorpos contra flagelina. Flagelina é a principal proteína em bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, e os anticorpos contra flagelina ficam tipicamente elevados durante infecções envolvendo bactérias. Uma vez que os SNCGs não estavam infectados, um aumento nos anticorpos contra flagelina poderia indicar a translocação de produtos bacterianos do intestino para a circulação (novamente, através de um intestino permeável).
Elevada inflamação sistêmica foi ligada à permeabilidade intestinal. Mais danos à parede intestinal, maior inflamação.
Depois das medidas iniciais, os pesquisadores colocaram 20 dos sujeitos com SNCG em uma dieta sem glúten por 6 meses para determinar o efeito da retirada nos biomarcadores. Trigo, centeio e cevada foram todos restrivos. O que aconteceu então ?
Remover os grãos que contêm glúten melhorou tanto a permeabilidade intestinal quanto a inflamação sistêmica. LBP, sCD14, anticorpos para flagelina e endotoxinas, e marcadores de intestino permeável, todos melhoraram. Eles mostraram menos reatividade a produtos microbianos vazando através do intestino. Seus sintomas, que previamente tinham incluído reclamações tanto intestinais (diarréia, gás, inchaço, dor) e extraintestinais (confusão, fadiga, declínio cognitivo), diminuíram. No geral, remover os grãos com glúten teve benefícios reais que foram refletidos tanto por medidas objetiva quanto subjetivas.
É um estudo bem bacana que suporta muito do que as pessoas têm reportado (e experienciado) por anos.
Entretanto, ele não identifica a fonte dos problemas nesses pacientes. Eles ainda não sabem o que causa a quebra primária da integridade intestinal.
Eu poderia identificar, entretanto. E acho que há maneiras de corrigir.
Nem sequer irei passar por cada uma das recomendações para evitar e curar um intestino permeável. Você pode (e deveria) ler a segunda metade desse post específico sobre intestino permeável, no qual eu destrincho a maioria das causas e soluções possíveis para a condição. Nada será muito surpreendente. Você provavelmente já faz a maioria delas. Mas leia assim mesmo. É um belo aconselhamento suportado por ciência.
Mas para constar, eu vou discutir a evolução da minha relação com o glúten. Eu não o como com frequência, mas consumo raramente aquela crosta de pão embebida em azeite de oliva ou lambuzada de manteiga quando estou em um restaurante particularmente bom. Eu uso molho de soja comum, se só ele estiver disponível. Eu tomo uma boa cerveja algumas vezes por ano. Eu belisco pedacinhos de um bolo ou torta de qualidade se estiver em uma festa de aniversário. Esses pouquinhos costumavam me deixar remorsos, mas não mais. Já percebi uma melhora enorme na minha reação ao glúten, e acho que diversas coisas conjuntamente fizeram uma grande diferença.
Meus treinos: por mais de uma década eu implorei para as pessoas tornarem os treinos longos mais longos e mais leves, e os seus treinos curtos mais curtos e mais intensos. Mas desde que trabalhei com o Primal Endurance, realmente abracei isso de uma maneira que agora percebo que eu mesmo não fazia o que falava. O meu "eu " que é atleta de resistência de elite ficava me cutucando com "faça mais uma série" e "vamos lá, você consegue fazer mais uma subida/circuito/sprint". Eu tenho feito mais movimentos lentos por longa duração (caminhadas, remando) e fiz com que meus treinos pesados ficassem mais curtos que nunca. Tenho evitado o treino intenso e prolongado que induz intestino permeável e favorecido as coisas fáceis que o melhoram. Isso provavelmente melhorou a função da minha barreira intestinal.
Mais colágeno: tenho feito um esforço concentrado para comer mais colágeno via caldo de ossos, barrras de chocolate, cortes gelatinosos de carne como rabada e músculo, e mesmo uma dose de gelatina em pó para engrossar um caldo (pessoal, é sério: adicionem gelatina em pó a um molho de coco com curry e sejam recompensandos). Colágeno é bom para o intestino.
Menos (e melhores) vinhos: quando eu fiz o meu auto-experimento sem álcool, percebi que tanto meu sono quanto meu intestino melhoraram. Tomar vinho natural, mais baixo em álcool e mais livre de adulterantes, preservou tais efeitos ao mesmo tempo que me permitiu ficar alegre.
Mais fibra fermentável: muitos anos atrás, comecei a alimentar minhas bactérias intestinais mais regularmente com substratos fermentáveis como inulina e amido resistente. Smoothies de banana verde, fécula de batata crua, chocolate amargo, e toda a vegetação fibrosa que eu consigo comer tornaram as bagunças do glúten mais toleráveis.
Agora, se minhas recomendações vão funcionar para você, ainda precisa ser verificado. Estou otimista, entretanto.
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