Nova enzima descoberta evita que o açúcar seja armazenado como gordura
Bonito, não é ?
Agora, com essa nova enzima, logo-logo vão soltar (mais) um remédio que evita o armazenamento do açúcar como gordura. E que tal comer menos açúcar ? Ah, isso não vende.
A maneira como a indústria farmacêutica e a medicina raciocinam é clara: tem um jeito direto de fazer o problema sumir ? (Veja bem, não-necessariamente falamos de cura – e sim de eliminação de sintomas). Quanto custa ? Por quanto dá para vender ? Se existir e for lucrativo, farão.
Foi a mesma coisa com a insulina e a metformina: até 1922, o único tratamento que existia para diabetes era dieta. O jeito era reduzir os carboidratos. Quando descobriram a insulina e posteriormente sintetizaram a metformina, o raciocínio mudou para “agora eu posso deixar o diabético comer o que ele quiser, e abaixo a glicemia à força”.
Quando começaram aplicar dieta cetogênica para tratamento de epilepsia (década de 1920), não havia anticonvulsivantes. Com a sintetização da difenil-hidantoína (o primeiro anticonvulsivante), dieta cetogênica foi caindo em desuso até os anos 1990, quando começou a ser retomada (com uso em pessoas que não respondem aos medicamentos).
Na década de 1960, descobriram que o glicogênio era o responsável por prover energia para atividades de tiro curto. Com isso, o raciocínio foi “então para tiro longo, eu preciso ir repondo o glicogênio”. Tome-lhe uma indústria de géis e bebidas energéticas para reabastecer os carbos do cara enquanto ele corre. Só “recentemente” começaram a falar abertamente que o corpo pode usar a gordura armazenada para o tiro longo. Afinal, a gordura do corpo não está lá para enfeite – é energia armazenada, então por que não usá-la ?
Uns meses atrás, eu vi pesquisas sobre o uso de corpos cetônicos para combate de Alzheimer. Os resultados são promissores. O raciocínio do artigo que li era “que legal, parece que funciona! Podemos pensar então em um medicamento/suplemento de corpos cetônicos para tratar Alzheimer”. E que tal reduzir os carbos ao mínimo, e deixar os corpos cetônicos serem naturalmente produzidos pelo corpo ? É um estado fisiológico descrito há 60 anos, e tem estudos de média duração (5-6 anos) mostrando que manter-se em cetose (ou seja, produzindo quantidades altas de corpos cetônicos) não é deletério à saúde. Não vale a pena insistir em estudos mais longos, e jogar o suplemento para escanteio ?
Você percebe que todos os casos seguem um mesmo padrão ? É o que chamamos de “síndrome da janela do porão”.
Pense no seguinte: você precisa pintar a janela do porão da sua casa, que fica ao nível da rua. Para fazer isso, você cava um buraco bem fundo ao lado da janela, do lado de fora da casa. Aí você coloca uma escada dentro dele e sobe nela até ter altura suficiente para a pintura.
Não era mais fácil simplesmente ter abaixado-se para pintar ?
Teimamos em inventar soluções complicadíssimas para problemas simples. Mas nesse caso, onde ficaria o lucro das empresas que vendem equipamento para abrir buracos e escadas ?
Veja bem, certamente há quem prefira tomar metformina a restringir os carboidratos. Certamente haverá quem prefira tomar os tais suplementos para Alzheimer a praticar dieta cetogênica. Cada um é dono do seu time. O que mata é o direcionamento dado: uma vez que se conheça um caminho que envolve dinheiro, é difícil sair dele – e quem sofre com isso é o público consumidor, que muitas vezes não fica sequer sabendo da possibilidade. Quantos diabéticos você conhece, que sabem que o diabetes é perfeitamente controlável apenas com dieta ?
Reflita.