A política sombria da Indústria do Refrigerante
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Johnny Adamic
As pessoas estão bebendo menos açúcar líquido que em décadas passadas, e a indústria do refrigerante está fazendo tudo o que pode para voltar ao jogo.
Os seus avós contam histórias de como o refrigerante custava centavos, e era servido em garrafinhas de vidro de 250ml, tipicamente desfrutadas nas tardes de sábado como guloseima ?
Bem, aqueles dias morreram rapidamente.
Ao longo do último século – particularmente entre as décadas de 1950 e 2010 – o refrigerante vai entrar para a história como a força-motriz da epidemia da obesidade. Nós demonizamos a gordura, mas o açúcar é provavelmente a maior ameaça. Eu até cunharia esse período como "os anos do açúcar líquido" – também conhecidos como "quando o refrigerante venceu".
Mas em 2015, o açúcar líquido pode ter encontrado seu rival. Uma nova cultura de saúde está explodindo, e tem sido assim pelos últimos anos. É nela que grandes ativistas da saúde, cidades inteiras (Berkeley, San Francisco, New York), e a mídia finalmente compreenderam os efeitos que o açúcar líquido deflagra sobre o corpo e o cérebro.
Mais importante, compreendemos o arsenal – marketing, lobby e filantropia – que as grandes indústrias do refrigerante têm usado para enfeitiçar a sociedade, levando as massas a consumirem o que antes era uma guloseima de ocasiões especiais como um vício diário.
"[As indústrias do refrigerante] estão frenéticas para descobrirem o que fazer", diz Marion Nestle, professora do departamento de nutrição, estudos alimentares e saúde pública da Universidade de New York, e cujo novo livro Soda Politics: Taking on Big Soda (and Winning) (N.T.: em tradução livre, "Política do Refrigerante: Atacando a Indústria do Refrigerante (e vencendo)") será publicado em outubro.
Entretanto, os grandes jogadores – Coca-Cola e PepsiCo, apoiados pela Associação Americana de Bebidas (ABA) e a indústria do açúcar – estão fazendo tudo o que podem, como desviar a culpa pela obesidade para longe das dietas ruins, de modo a evitar que as vendas caiam ainda mais. Mas as vendas vêm caindo desde a última década.
"A palavra foi lançada: beber açúcar em forma líquida não é boa idéia", diz Nestle. "A publicidade dada ao financiamento que a Coca-Cola fez a pesquisadores foi uma revelação para muita gente. Eles ficaram chocados que uma empresa conhecida como a Coca fizesse tal coisa".
Caso você tenha perdido, Nestle está referindo-se a uma análise recente de estudos sobre bebidas publicada no jornal PLOS Medicine, conforme apontado recentemente pelo New York Times, de que estudos financiados pela Coca-Cola, PepsiCo, ABA e indústria do açúcar têm probabilidade 5 vezes maior de não achar qualquer ligação entre consumo de refrigerante e ganho de peso.
"O Departamento de Saúde da Cidade de New York tem uma campanha de pôsteres que mostra a relação entre atividade física e dieta: você precisa andar 4.8km para gastar as calorias de um refrigerante de 600ml", diz Nestle.
Nestle acompanha tanto os estudos cujas descobertas favorecem o patrocinador, quanto aqueles que acham fazem o oposto.
"Tenho monitorado estudos financiados por indústrias alimentícias e postando-os no meu blog, foodpoltics.com, a cada vez que junto 5. Fiz isso desde março desse ano, e até o momento postei 65 estudos, todos com resultados que favorecem o patrocinador", explica. "Apesar das minhas solicitações de que leitores enviem estudos que não demonstrem resultados favoráveis a quem paga a conta, eu só tenho 3. Esse é um vácuo maior que o encontrado em estudos sistemáticos do financiamento industrial, mas não muito maior".
Mas o quão corruptíveis são as comunidades acadêmicas, de pesquisa e científicas para fazer a (aparentemente imprópria) "afirmação baseada em ciência" de que exercício é mais importante que dieta ? Mesmo o leigo pode te dizer que a dieta afeta mais a cintura do que puxar ferro.
"Os recipientes de financiamentos da indústria do refrigerante negam que isso tenha qualquer efeito no desenho ou na interpretação de suas pesquisas, mas a evidência sugere o contrario", diz Nestle. "A maioria da pesquisa financiada pela indústria do refrigerante produz resultados favoráveis aos refrigerantes como fatores benignos na saúde. Pesquisas independentemente financiadas chegam à conclusão oposta. Uma coincidência ? Dificilmente".
Se já é o princípio do fim para a indústria do refrigerante, por que escrever um livro sobre ela ?
"É um modelo perfeito, pois dá para perceber o todo pela parte. Se você entender como a indústria do refrigerante opera, você entende como todas as indústrias alimentícias fazem marketing, usam filantropia e lobby, e usam o sistema político para proteger as vendas de seus produtos", diz Nestle. "As empresas de refrigerantes não são agências de serviço social. Como qual outra corporação, seu trabalho é vender produtos, alcançar metas de crescimento e devolver dividendos aos investidores. É mais fácil para as pessoas compreenderem como o sistema funciona com uma empresa de refrigerante do que com uma indústria química ou petroleira,".
E para todos aqueles possam não estar a par da grande guerra aos refrigerantes, ou que podem não se importar, Nestle aborda o novo livro de maneira que as pessoas possam aplicar as lições aprendidas em outros campos da saúde com os quais tenham mais paixão.
"O Departamento de Saúde da Cidade de New York tem uma campanha de pôsteres que mostra a relação entre atividade física e dieta: você precisa andar 4.8km para gastar as calorias de um refrigerante de 600ml", diz Nestle.
Nestle acompanha tanto os estudos cujas descobertas favorecem o patrocinador, quanto aqueles que acham fazem o oposto.
"Tenho monitorado estudos financiados por indústrias alimentícias e postando-os no meu blog, foodpoltics.com, a cada vez que junto 5. Fiz isso desde março desse ano, e até o momento postei 65 estudos, todos com resultados que favorecem o patrocinador", explica. "Apesar das minhas solicitações de que leitores enviem estudos que não demonstrem resultados favoráveis a quem paga a conta, eu só tenho 3. Esse é um vácuo maior que o encontrado em estudos sistemáticos do financiamento industrial, mas não muito maior".
Mas o quão corruptíveis são as comunidades acadêmicas, de pesquisa e científicas para fazer a (aparentemente imprópria) "afirmação baseada em ciência" de que exercício é mais importante que dieta ? Mesmo o leigo pode te dizer que a dieta afeta mais a cintura do que puxar ferro.
"Os recipientes de financiamentos da indústria do refrigerante negam que isso tenha qualquer efeito no desenho ou na interpretação de suas pesquisas, mas a evidência sugere o contrario", diz Nestle. "A maioria da pesquisa financiada pela indústria do refrigerante produz resultados favoráveis aos refrigerantes como fatores benignos na saúde. Pesquisas independentemente financiadas chegam à conclusão oposta. Uma coincidência ? Dificilmente".
Se já é o princípio do fim para a indústria do refrigerante, por que escrever um livro sobre ela ?
"É um modelo perfeito, pois dá para perceber o todo pela parte. Se você entender como a indústria do refrigerante opera, você entende como todas as indústrias alimentícias fazem marketing, usam filantropia e lobby, e usam o sistema político para proteger as vendas de seus produtos", diz Nestle. "As empresas de refrigerantes não são agências de serviço social. Como qual outra corporação, seu trabalho é vender produtos, alcançar metas de crescimento e devolver dividendos aos investidores. É mais fácil para as pessoas compreenderem como o sistema funciona com uma empresa de refrigerante do que com uma indústria química ou petroleira,".
E para todos aqueles possam não estar a par da grande guerra aos refrigerantes, ou que podem não se importar, Nestle aborda o novo livro de maneira que as pessoas possam aplicar as lições aprendidas em outros campos da saúde com os quais tenham mais paixão.
"Leia os capítulos sobre marketing infantil, minorias e pessoas em países em desenvolvimento, e aplique as lições de promoção a questões com as quais elas se importam", diz.
Derrubar o refrigerante ainda é a linha de frente dos ativistas de saúde, e vai permanecer no topo da agenda de saúde americana nos níveis municipal e estadual.
"Tivemos uma votação bem-sucedida sobre taxação em Berkeley, Califórnia – com 76%, nada menos. A votação em São Francisco teve 56%, mas precisava de 2/3 para ser aprovada", Nestle diz. "Eu tenho certeza que o povo de São Francisco está se preparando para tentar novamente, e outros lugares também vão. Em algum ponto, a indústria do refrigerante vai cansar-se de gastar milhões para derrotar tais medidas e desistir".
Derrubar o refrigerante ainda é a linha de frente dos ativistas de saúde, e vai permanecer no topo da agenda de saúde americana nos níveis municipal e estadual.
"Tivemos uma votação bem-sucedida sobre taxação em Berkeley, Califórnia – com 76%, nada menos. A votação em São Francisco teve 56%, mas precisava de 2/3 para ser aprovada", Nestle diz. "Eu tenho certeza que o povo de São Francisco está se preparando para tentar novamente, e outros lugares também vão. Em algum ponto, a indústria do refrigerante vai cansar-se de gastar milhões para derrotar tais medidas e desistir".
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