O motivo pelo qual o LDL pode ser superestimado em uma dieta LCHF

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Axel Sigurdsson



Colesterol LDL elevado (LDL-C) é comum entre as pessoas que adotam um estilo de vida pobre em carboidratos, com alto teor de gordura (LCHF). É por isso que muitos médicos e nutricionistas permanecem duvidosos quando se trata de LCHF, apesar da evidência esmagadora de que tal abordagem dietética melhora vários outros parâmetros lipídicos, geralmente leva à perda de peso e afeta positivamente o metabolismo da glicose.

Vários estudos mostraram que o LDL-C constitui um importante fator de risco para o desenvolvimento da doença cardiovascular aterosclerótica ( 1 ). Reduzir o LDL-C é considerado um dos principais objetivos para reduzir o risco. O Colegiado Americano de Cardiologia (ACC) e a Associação Americana do Coração (AHA) defendem o tratamento com estatinas para indivíduos com LDL-C acima de 190mg/dl.

No entanto, LDL-C não é um marcador de risco confiável para todos. O principal motivo é que geralmente não é medido no laboratório. Embora as medidas diretas estejam disponíveis, elas são raramente realizadas devido ao custo. Um exame lipídico padrão mede o colesterol total, triglicerídeos (TG) ( 2 ) e colesterol HDL (HDL-C) ( 3 ). LDL-C é indiretamente estimado a partir dessas variáveis.

A maior parte do colesterol no sangue é transportada por três lipoproteínas, LDL (lipoproteína de baixa densidade), HDL (lipoproteína de alta densidade) e VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade). Outras lipoproteínas existem em quantidade insignificante. Assim, se subtraímos o colesterol carregado pelo HDL e VLDL do colesterol total, teremos uma estimativa do LDL-C. O HDL-C está disponível no exame de lipídios padrão, de modo que não é um problema. Mas, como podemos estimar o VLDL-C?

VLDL é um transportador importante para TG no sangue. Embora ele também leve colesterol, geralmente é classificado como uma lipoproteína rica em TG. A proporção da massa de TG para a do colesterol na VLDL parece ser relativamente constante e cerca de 5:1 em indivíduos saudáveis.

Então, se nós subtramos a massa de HDL-C e 1/5 da massa de TG do colesterol total, teremos uma estimativa de LDL-C. Esta é a equação de Friedwald ( 4 ), em homenagem a William Friedewald, cientista americano e ex-professor de saúde pública. Esta equação tem sido utilizada por décadas em todo o mundo para calcular LDL-C.


A equação de Friedewald é usada para estimar o LDL-colesterol (LDL-C)

Colesterol LDL = [colesterol total] - [colesterol HDL] - [TG] / 5

Os inconvenientes do cálculo do colesterol LDL


A principal desvantagem de usar a fórmula de Friedewald para calcular o LDL-C tem a ver com a suposição de que a proporção de TG para colesterol no VLDL é sempre a mesma, o que não é o caso. O LDL-C será subestimado se a proporção de TG para colesterol for superior a 5 e superestimado se for inferior a 5.

Após uma refeição gordurosa, os níveis sanguíneos de TGs aumentarão. No entanto, o aumento de TG no sangue após uma refeição é causado por quilomícrons produzidos no intestino, enquanto os níveis elevados em jejum são devidos ao VLDL produzido a partir de TG no fígado. Os quilomícrons desaparecem da circulação logo após os TG terem sido entregues aos tecidos. Portanto, usar a fórmula de Friedewald para calcular LDL-C só é aplicável quando os quilomícrons não são detectáveis, e todos os TGs estão sendo transportados pelo VLDL. Por isso, uma amostra de sangue em jejum é necessária.

A equação de Friedewald não é aplicável quando os TG são altos. Um estudo recente sugeriu que a equação de Friedewald tende a subestimar o LDL-C entre pessoas com baixo LDL-C, se os níveis de triglicerídeos forem moderadamente elevados (≥ 150mg/dl) ( 6 ).

Atualmente, apenas uma concentração de TG superior a 400mg/dl é considerada um fator limitante para a aplicação da equação rotineira de Friedewald. No entanto, o fato de que os baixos níveis de TG podem superestimar o LDL-C também precisa ser destacado, principalmente porque isso pode ter implicações práticas para o crescente número de pessoas que adotam o estilo de vida da LCHF.


Perfil lipídico (Desejável / Limítrofe / Alto risco)

Apresentando a Equação Iraniana para Calcular o LDL-Colesterol


Em um artigo publicado em 2001, Wang e colegas descreveram um paciente com baixo valor de TG de aproximadamente 50mg/dl, um alto nível de colesterol e um nível discrepante de LDL-C ( 7 ). O nível de LDL-C usando o cálculo de Friedewald mostrou-se muito mais alto do que o nível LDL-C usando medição direta. Os autores sugeriram pela primeira vez que, na presença de TG baixos e níveis elevados de colesterol, o nível de LDL-C deve ser medido diretamente em vez de usar o cálculo de Friedewald.

Esses resultados foram posteriormente confirmados em um artigo publicado em 2008 por pesquisadores iranianos mostrando que com baixas concentrações de TG, a equação de Friedewald pode superestimar o LDL-C até certo ponto que pode afetar a tomada de decisão clínica ( 8 )

Os investigadores iranianos sugeriram uma equação diferente para o cálculo do LDL-C:

Colesterol LDL = [Colesterol total] /1.19 + TG / 1.9 - [colesterol HDL] /1.1 - 38

Os pesquisadores concluíram que, ao usar a equação de Friedewald não-modificada, o TG sérico baixo pode afetar positivamente o cálculo de LDL-C. Para corrigir esse erro, o nível de LDL-C deve ser diretamente medido ou ajustado por uma fórmula modificada.

Isso poderia ter implicações práticas para as pessoas que seguem um estilo de vida LCHF, que é bastante comum hoje em dia. Uma das primeiras coisas que acontece durante a restrição de carboidratos é que os níveis sanguíneos de TG caem, muitas vezes dramaticamente. Vamos dar um exemplo da vida real.

Um homem de 47 anos que adotou um estilo de vida da LCHF há 6 meses:

Colesterol total: 293mg/dl
HDL-C: 60mg/dl
TG: 70mg/dl
O LDL-C calculado pela fórmula de Friedewald é de 219mg/dl
O LDL-C calculado pela fórmula iraniana é de 190mg/dl

Essa é uma grande diferença, não é?

Assim, uma das razões pelas quais o LDL-C parece elevado em uma dieta LCHF pode ser que a equação de Friedewald superestima o LDL-C quando os TG são baixos.

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