Cientistas acham que descobriram um quarto tipo de combustível para humanos – além dos carbos, proteínas e gorduras

Primeiro: esqueça o título sensacionalista. Quem está ligado no mundo paleo/lowcarb já sabe de longa data sobre cetonas.

Mas veja o sinal dos tempos: agora que os pesquisadores já têm espaço para falar sobre dietas lowcarb, o mercado está acompanhando. Algum tempo atrás eu escrevi sobre um suplemento para pessoas com Alzheimer, que era basicamente composto por cetonas. Isso foi no início de 2015. Eis que estamos no final de 2017, e está chegando ao mercado um suplemento de cetonas voltado para atletas (a priori – na prática, sabemos que com o tempo ele vai se popularizar e provavelmente a molecada vai tomar com vodca na balada).

Lado bom: que maravilha ver a ciência andando e quebrando paradigmas.

Lado ruim: como eu já cansei de bater na tecla, o sistema nunca perde. Ele apoiou a guerra contra a gordura quando interessava, e agora apoia a guerra contra o excesso de carbos. E para variar, a estratégia é sempre a mesma: transforme qualquer coisa "que pareça funcionar" em um produto. Se antes tínhamos iogurte zero gordura, no presente temos barrinhas industrializadas livres de carbos – e no futuro teremos mais e mais produtos como o descrito abaixo: uma maneira "rápida e garantida" de obter resultados (no caso, melhorar a performance via cetose).

Mas e sobre ter um bom protocolo de dieta cetogênica, usar jejum intermitente, comer comida de verdade? Ah, isso aí não vende não...

Assim caminha a humanidade.

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Erin Brodwin e Melia Robinson



As informações nutricionais em uma garrafa de tamanho desse líquido incolor e inodoro desafiam a explicação tradicional. Ela contém 120 calorias – aproximadamente o equivalente a uma bela fatia  de pão – ainda que não tenha nenhuma gordura, proteína ou carboidrato.

Essas calorias, em vez disso, provêm de cetonas, um ingrediente que Geoff Woo, co-fundador e CEO de uma startup focada em desempenho humano baseada em São Francisco, chamado HVMN (pronunciado "Human"), gosta de chamar de "o quarto macronutriente".

"Não é uma gordura, não é uma proteína, não é um carboidrato, mas é combustível para seu corpo", disse Woo ao Business Insider.

Com isso em mente, Woo lançou o primeiro produto de cetonas de sua empresa, uma garrafa de 70ml de éster de cetona chamado Ketone. A bebida, agora disponível para pré-venda a US$33 por garrafa, promete melhora da habilidade atlética e da energia, e dar uma maior sensação de foco.

Para fazer o produto, a HVMN alavancou mais de uma década e US$60 milhões em pesquisas científicas através de uma parceria exclusiva com a Universidade de Oxford.

Ketone poderia aumentar o desempenho "diferente de tudo o que já vimos"


A maioria dos alimentos que comemos contém carboidratos. Os carboidratos das frutas provêm de açúcares que ocorrem naturalmente; aqueles nas batatas, legumes e macarrão provêm do amido. Todos eles são quebrados em açúcar, ou glicose, para gerar energia.

Quando privado de carboidratos, o corpo volta-se para gordura como combustível.

No processo de cavar em suas reservas de gordura, o corpo libera moléculas chamadas cetonas. Uma dieta rica em gordura e baixa em carboidratos (também conhecida como dieta cetogênica) é um atalho para o mesmo objetivo.

Ao invés de ficar sem comer, alguém na dieta keto "engana" o corpo que esse acredite que está morrendo de fome. Isso é feito tirando carboidratos, sua principal fonte de combustível.

É por isso que, enquanto você não estiver comendo carboidratos, você pode acelerar a ingestão de alimentos gordurosos como manteiga, bife e queijo e ainda perder peso. O corpo torna-se uma máquina de derretimento de gordura, produzindo cetonas para continuar funcionando.

Se você pudesse ingerir essas cetonas diretamente, ao invés de ficar morrendo de fome ou se voltar para uma dieta keto, você poderia praticamente ganhar um superpoder.

Brianna Stubbs, uma estudante de pós-graduação da Universidade de Oxford, que lidera a pesquisa na HVMN, colocou desta forma: "Você poderia até subir uma parede correndo".

Estudos com atletas descobriram que a combinação de cetonas e carboidratos produz o que Stubbs chamou de "efeito de empilhamento".

Esse aumento de desempenho é "diferente de qualquer coisa que já vimos antes", disse Kieran Clarke, professor de bioquímica fisiológica em Oxford, que lidera o esforço de traduzir seu trabalho sobre cetonas e desempenho humano no "Ketone" da HVMN.


Esta é uma bebida energética que vai muito além da cafeína


Em um pequeno estudo publicado em julho de 2016 na revista Cell Metabolism, Clarke deu uma versão inicial da bebida cetona da HVMN a um grupo de ciclistas de elite (alguns dos quais foram atletas olímpicos) e comparou a forma como eles se exercitaram em um treino de ciclismo de 30 minutos, com um grupo que recebeu uma bebida rica em carboidratos e uma outro que recebeu uma bebida rica em gordura.

Os ciclistas de alto desempenho que beberam cetonas andaram em média 400 metros mais do que os melhores resultados dos grupos de carboidratos e gorduras. Provavelmente nem sequer sentiram uma diferença, disse Clarke.

"Não é como a cafeína ou similares - não é um estimulante", disse Clarke. "Se você não estiver prestando atenção no que está fazendo, você pensa: 'Ah, estou bem, tudo está normal', mas então você olha para trás, e de repente você percebe: "Uau, eu andei muito mais do que o habitual!'. Você vai se dar conta, em uma máquina de remo, por exemplo, que está indo muito mais rápido, e você nem sequer tinha notado".

Uma garrafa de Ketone de HVMN oferece 25 gramas de beta-hidroxibutirato, uma das substâncias que o corpo produz durante um período de fome ou jejum. Embora não haja estudos de longo prazo sobre o que acontece com o corpo na nova bebida da HVMN, existem vários estudos de longo prazo dos efeitos da fome periódica no corpo - principalmente em adultos colocados em dietas de jejum intermitentes. No geral, esses estudos são muito positivos, sugerindo que o jejum intermitente pode ajudar as pessoas obesas a perder peso, mantendo a massa muscular. Vários outros estudos de jejum intermitente in vitro, e também em camundongos e macacos, sugerem benefícios ainda maiores ligados à dieta, como aumento do tempo de vida e redução do risco de câncer, mas esses achados ainda não foram replicados em seres humanos.

Dentro de uma hora após consumir a o produto da HVMN, você pode aumentar os níveis de cetona a um nível semelhante ao que você veria após pelo menos 7 dias de jejum, disse Woo. Isso é baseado em dois pequenos estudos publicados na revista Frontiers in Physiology, em que adultos receberam bebidas que contêm ésteres ou sais de cetona, um suplemento que combina cetonas e sódio.

Quando nós (Erin Brodwin, uma correspondente de ciência e Melia Robinson, uma repórter de inovação) testamos Ketone em nós mesmas em outubro, medimos os níveis de glicose e cetona no sangue antes e depois de beber. Para nossa surpresa, vimos resultados imediatos e mensuráveis.

O nível de cetonas de Erin subiu 21.6 para 75.6mg/dl. O nível de cetonas de Melia subiu de 10.8 par  108mg/dl, um estado profundo de cetose que geralmente pode ser alcançado apenas através do jejum.

Os níveis de cetona da maioria das pessoas são de cerca de 1.8mg/dl, mas começamos com níveis mais altos porque uma de nós estava tentando um jejum, enquanto a outra estava comendo uma dieta pobre em carboidratos.

Mas esses aumentos refletem uma diferença no desempenho? É difícil dizer.

Duas pessoas não compõem uma amostra de tamanho suficiente para um estudo sobre os efeitos da bebida, e é impossível separar nossa percepção de qualquer efeito placebo. Ainda assim, ambas percebemos alguma melhora no foco, e ambas pulamos nosso café habitual das 15h – uma mudança que não notamos até horas mais tarde.

Ketone "como que facilita a vida", disse Clarke. "Em vez de fazer você se sentir como se seu coração estivesse disparando ou você estivesse exausto... você tem energia – energia que você normalmente normalmente não tem".

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