Como reintroduzir os carboidratos na sua vida
por Rafael Araújo
Vamos pensar que nossa vida antiga, tomada de produtos industrializados, cheias de açúcar, farinhas, aditivos, estabilizantes e outros, parecia como alguém muito, muito sujo. Pense em um sujeito que mergulhou numa poça de lama. Pensou? Agora imagine que você joga um balde de água mais ou menos suja nele. Possivelmente, ele estará mais limpo do que estava, mas ainda assim sujo.
É com essa analogia que gostaria de afirmar que, ao estar numa situação crítica, qualquer medida razoavelmente melhor do que aquela que lhe pôs em tal situação, produzirá algum resultado. É por isso que um novato consegue muito resultado nos primeiros meses de dieta ou prática esportiva. Mesmo que esteja fazendo tudo errado. Qualquer coisa, mesmo que feita porcamente, produzirá resultados.
Mas à medida que melhoramos, ou seja, ficamos mais “limpos”, novas medidas precisam ser tomadas. Usando a analogia de cima, uma pessoa que por algum motivo ficou absurdamente suja de lama, deveria a partir deste momento ter medo de lama? Evitar qualquer lugar enlameado? Ou apenas reavaliar a forma de ação para evitar ficar tão suja quanto antes?
Um dia tivemos medo da gordura. Fomos manipulados pela mídia. Estávamos errados. E agora, devido a extremos, iremos cometer o mesmo erro com o carboidrato? Seria estupidez. Existem pessoas com medo de consumir ovo por possuir 1g de carboidrato. Ou pior, com medo de consumir vísceras, principalmente fígado, por acreditar que é reserva de glicogênio, logo, para eles, carboidratos. Isso é o que foi apelidado de carbofobia. É preciso lembrar, a ideia é LOW (baixo) e não NO (nenhum) carboidrato.
É possível construir músculos sem carbos? Sim, mas é muito mais difícil. É possível ter um bom desempenho em algumas práticas esportivas sem carboidratos? Sim, mas será bem mais dolorido. Então, se ele pode servir à meu favor, porque não usá-lo?
Alguns motivos para repensar nos carboidratos:
- Energia rápida e direta. Carboidratos são convertidos em glicose, que por sua vez repõe seu estoque de glicogênio, abastecendo seus músculos para práticas esportivas de força, média e longa duração.
- Diminuição dos níveis de cortisol. Carboidratos complexos ajudarão a controlar o cortisol, um hormônio catabólico. Ou seja, ele atrapalha o ganho de músculos, além de elevar seu stress.
- Sono melhor. Ingerir carboidratos à noite, principalmente, ajudará na captação de triptofano e a sua conversão em serotonina no cérebro. Essa substância também regula o ciclo do sono, e em quantidades adequadas pode induzir a sonolência.
- Maior queima de gordura. Existe uma frase antiga que diz “A gordura queima numa chama de carboidrato”. Imagine a gordura como um pedaço de lenha na lareira, esperando pegar fogo. Os carboidratos são os fósforos que acendem a lenha. Se não houver carboidratos suficientes disponível nos estágios mais importantes do processo de produção de energia, a gordura apenas produzirá muita fumaça, em outras palavras, não queimará bem e nem completamente.
Mas como saber qual a quantidade ideal? Aqui um texto que poderá lhe ajudar.
Dicas de como introduzir carboidratos
Coma mais frutas, todas elas. De preferência como sobremesa. Existem frutas com mais e menos carboidratos, se você está neste estágio, talvez isso não seja mais importante. Mas saiba, os antigos efeitos continuarão existindo: logo, elas abrirão seu apetite.
Alguns cereais e leguminosas, como arroz e feijão, podem voltar a fazer parte da sua dieta. Arroz é limpo, facilmente digerível e fonte rápida de energia, uma das fontes de carbo preferida dos praticantes de atividade física. O feijão precisa de um preparo especial, mas ainda assim uma boa fonte.
Raízes de volta ao prato, principalmente à noite. Muitas receitas poderão voltar à sua rotina. Sai a lasanha de abobrinha e entra o escondidinho de batata.
Cuidados ao retornar com carboidratos
Como indicado no texto que escrevi anteriormente, adicionar mais carbos depende da sua necessidade. Não é uma obrigatoriedade. Mais importante do que isso, o consumo de carboidratos não pode ser um tabu, uma prática proibida. Sob a luz do conhecimento conseguirá tudo que almeja.
Então, uma vez que você voltou a se relacionar com alimentos com maior quantidade de carbo, alguns botões ou gatilhos podem ser ligados, alguns sabores e texturas lhe trarão lembranças. Há risco nisso: sem perceber, alimentos industrializados podem voltar fazer sentido novamente em sua vida. O resultado nós já sabemos qual seria.
Como relato pessoal posso dizer que sou apaixonado por arroz. Recentemente tentei introduzi-lo à minha dieta e não tive bons resultados. Sem perceber, aumentei a quantidade, ele me fez lembrar de sabores que tinha deixado sob controle, não foi legal. Hoje, prefiro evitá-lo na maior parte do tempo. Logo, você precisa se ouvir, entender o que lhe faz bem e o que lhe puxa para um caminho ruim
Como dica pessoal, prefiro condensar minha necessidade de carboidratos (algo entre 50 a 100 gramas) entre antes de depois do treino. Apenas isso. Isso depende ainda do que irei treinar naquele dia.
O objetivo final é o equilíbrio, a flexibilidade, mas para isso exige-se controle, auto-domínio e esclarecimento. Ouça seu corpo e descubra como lidar com isso ao seu modo.
Rafael Araújo é lifter, praticante de jiujitsu e muay-thai, estudioso do mundo low-carb e criador do Método MCM. O caso de sucesso dele foi contado aqui no Paleodiário um tempo atrás.
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