Jejum intermitente e depressão (uma ligação com a inflamação?)

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Brad Pilon

A depressão não é divertida. É tipicamente descrita como um estado de baixo humor, mas é realmente muito, muito mais do que isso.

Todos nós passamos por altos e baixos no nosso humor. E a tristeza é uma reação normal às lutas, retrocessos, decepções e perdas que fazem parte da vida humana. Assim, enquanto muitas pessoas usam a palavra "depressão" para explicar esses tipos de sentimentos, é importante notar que a depressão é muito mais do que apenas tristeza.

As pessoas deprimidas podem sentir-se tristes, ansiosas, vazias, desesperadas, preocupadas, desamparadas, sem valor, culpadas, irritadas ou inquietas.

Algumas pessoas descrevem a depressão como "viver em um buraco negro" ou ter um sentimento de desgraça iminente. No entanto, algumas pessoas deprimidas não se sentem tristes – elas podem sentir-se sem vida, vazias e apáticas; os homens em particular podem até se sentir irritados, agressivos e inquietos.

Acontece que a depressão é muito mais complicado do que simplesmente sentir-se "triste".

Sabemos que algumas pessoas parecem estar geneticamente predispostas à depressão e que certos estressores podem provocar ou exasperar um episódio depressivo. Estes eventos podem incluir conflitos pessoais ou disputas com familiares ou amigos, falecimento, mudança, perda de emprego, divórcio, estresse, aposentadoria, menopausa, isolamento social e rejeição social.

Não só a genética e os eventos da vida podem fazer com que uma pessoa seja mais suscetível à depressão, mas certos medicamentos são conhecidos por causar humor deprimido em um número significativo de pacientes.

A depressão tornou-se muito mais comum afetando quase 17% da população. É mais prevalente nas mulheres, fechando-se na marca 1 em 5. Na prática, a depressão unipolar severa é o principal custo de doença (N.T.: no original, "burden of disease". É definido como sendo "o impacto de um problema de saúde em termos financeiros, mortalidade e morbidade") entre mulheres acima de 5 anos no mundo... Complicado, hein?

Eu encontrei estatísticas dizendo que é a 4 ª principal causa de incapacidade em todo o mundo e que distúrbios de humor, incluindo a depressão, levarão a uma epidemia de doença no século 21 no mundo ocidental. É claro que a depressão precisa ser abordada com mais freqüência do que é atualmente pela mídia da saúde e fitness.

Eu acho depressão particularmente interessante por causa da conexão com a inflamação.

Citocinas inflamatórias elevadas são um importante fator de risco para a depressão. Daí vem "A Teoria da Depressão por Citocinas".

Depressão parece envolver alterações em vários aspectos da imunidade, particularmente aqueles que têm a ver com as citocinas inflamatórias. Pessoas com artrite reumatóide, lúpus sistêmico (LES) e outras formas de auto-imunidade são freqüentemente deprimidas.

Embora seja improvável que a depressão seja um distúrbio primariamente "inflamatório", há evidências que sugerem que a inflamação pode desempenhar um papel na sua fisiopatologia.

A maioria da evidência que liga a inflamação às depressões vem de algumas observações consistentes:


  1. 1/3 das pessoas com depressão severa apresentam marcadores elevados de inflamação, mesmo na ausência de outra doença médica;
  2. Doenças inflamatórias estão associadas a maiores taxas de depressão
  3. Pacientes tratados com citocinas têm maior risco de desenvolver uma doença depressiva severa.
  4. Uma meta-análise de 22 estudos de tratamento com antidepressivos mostrou que citocinas inflamatórias diminuem em resposta à terapia, juntamente com uma redução nos sintomas depressivos.

Outra conexão interessante é que a adição de baixas dose de testosterona ao tratamento da depressão ajuda a melhorar a pontuação do humor (a testosterona é conhecida por ter propriedades anti-inflamatórias).

Nas mulheres a testosterona diminui cerca de 50% entre as idades de 20 e 40, e não muda muito depois disso. Uma mulher de 20 anos de idade é considerada em equilíbrio hormonal uma vez que ambos os estrogênios e andrógenos são elevados. À medida que a mulher envelhece, essas proporções mudam, e durante a transição da menopausa 50-70% das mulheres experimentam todos os tipos de sintomas somáticos e emocionais (Sowers MF, 2001).

Na verdade, um estudo com base populacional na Alemanha mostrou a taxa de mulheres com sintomas de humor depressivo, triste ou choroso aumentou de 20% aos 18-29 anos, para 48% aos 50-59 anos de idade e permanece neste nível após os 60.

A conexão entre a testosterona e a depressão não está apenas nas mulheres, entretanto. Em homens a diminuição da produção de testosterona também está ligada à depressão (Giltay EJ, 2008)

Finalmente, distúrbios do sono e fadiga são estressores físicos e fisiológicos que aumentam o risco de depressão

Então, onde isso nos deixa, e por que esta conexão entre inflamação e depressão é tão interessante?

Porque a inflamação é algo que podemos controlar (ou pelo menos influenciar) através de nossas dietas.

Além disso, esta conexão nos dá ainda mais evidências de que um estilo de vida ativo que inclui comer um pouco menos, malhar e dormir boas noites de sono não são apenas ótimas maneiras de obter e manter um corpo magro, mas também uma maneira de aumentar suas probabilidades de manter a depressão ao longe.

Já se mostrou que o tecido adiposo produz 10-35% de IL-6 (que atua como citocina inflamatória) num indivíduo em repouso, e que esta produção aumenta com o aumento da adiposidade (Mohamed-Ali V, 1997).

Sabemos que o Exercício Exaustivo Crônico aumenta a inflamação (Gleeson M, 2006). O exercício é bom, mas muita inflamação pode ser ruim.

Sabemos que a falta de sono aumenta a inflamação (Mullington JM, 2010)

Sabemos também que manter a obesidade sob controle ajuda a manter os níveis de testosterona em homens, mesmo com o avanço da idade (Mohr BA, 2006; Araujo AB, 2011).

Sabemos que há alguma evidência (mas não conclusiva) de que o treinamento com pesos ajuda a manter os níveis de testosterona no homem em envelhecimento (Kostika T, 2003)

E finalmente sabemos que tanto o ato de comer em excesso como sua conseqüente obesidade podem aumentar a inflamação (Vozarova B, 2001, Esposito K, 2002, Monterio R, 2010, Rogowski, 2004)

Assim, parece que existem fatores de estilo de vida que podem contribuir para a depressão. Por outro lado, jejum intermitente, exercício intenso e comer menos podem reduzir a inflamação. E, embora eu entenda o velho ditado que só porque A = B e B = C não significa que A = C, juntas toda essas pesquisa sugerem mais evidências de que pode haver um benefício no jejum além de apenas a sua aparência: ele também pode afetar a maneira como você se sente.

Coma menos, puxe ferro pesado, estresse-se menos, durma mais, e não tenha medo de suar de vez em quando.

Ou talvez o provérbio "mente sã em corpo são" seja mais apropriado. 

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