Zinn aos pais: não dêem cereais para seus bebês!
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Marika Sboros
Os pais não devem dar cereais para seus bebês como primeiros alimentos, diz a nutricionista e acadêmica neozelandesa, Dra. Caryn Zinn. Zinn (foto à direita) disse isso em seu depoimento no julgamento do Dr. Tim Noakes, professor emérito da Universidade da Cidade do Cabo,
Ela foi ao cerne da questão do caso do Conselho de Profissionais de Saúde da África do Sul (HPCSA) contra Noakes. Zinn olha para o que a ciência tem a dizer sobre alimentos que os pais devem dar aos bebês.
A HPCSA acusou Noakes de conduta não-profissional.
Isso por causa de um único tweet dizendo a uma mãe lactante que os alimentos bons para o desmame infantil são LCHF. Em outras palavras, Noakes sugeriu carne, laticínios e legumes. A HPCSA alega que esse conselho não é convencional. Assim, afirma que Noakes não foi profissional ao aconselhar.
Prof. Tim Noakes
Zinn é professora sênior na Universidade de Tecnologia de Auckland e nutricionista registrada. Ela disse na quarta audiência da HPCSA contra Noakes, que atende 40 ou 50 pacientes por mês. Até 20% são crianças e ocasionalmente, bebês.
Zinn disse que a evidência mostra que os melhores alimentos para bebês são low-carb e high-fat (LCHF). Ela disse que sua definição de alto teor de gordura era mais sobre "gordura saudável". "Quando as pessoas comem LCHF, eles tendem a comer pouco carboidrato e mais gordura", completou.
Ela também disse que LCHF "alinha-se facilmente às diretrizes dietéticas pediátricas da África do Sul". Ou seja, "se você tomá-las em seu valor nominal".
O problema é que há "uma desconexão" quando as pessoas implementam essas diretrizes em um nível prático. Isso porque as diretrizes também recomendam cereais como parte da alimentação complementar para o desmame infantil, disse Zinn.
Ela concordou com a advogada da HPCSA, Ajay Bhoopchand, quando questionada que não estava contra os alimentos amiláceos "per se". No entanto, ela não concordou com a orientação que as testemunhas da HPCSA levantaram. Ou seja, que os amidos "devem formar a base da maioria das refeições" para crianças e adultos.
Isso atingiu diretamente um pontos-chave do caso contra Noakes. O HPCSA alega que seu conselho no Twitter é "não-convencional" porque conflita com diretrizes pediátricas.
Os fitatos nos grãos unem-se ao ferro, vitaminas do complexo B e os excretam do corpo. Então tais carboidrados para bebês na prática reduzem a disponibilidade desses nutrientes. (Nina Teicholz, sobre o comentário da Dra. Zinn)
Em sua prática, Zinn disse que ela costumava dar conselhos alinhados às orientações alimentares pediátricas. Isso incluia dizer aos pais para alimentar os bebês com cereais fortificados com ferro, juntamente com legumes e frutas.
Ela fazia isso sem pensar: "Nunca me ocorreu perguntar por que os bebês precisariam de cereais fortificados com ferro quando a carne está disponível e é uma fonte muito boa de ferro".
Cinco anos atrás, Zinn olhou mais fundo na pesquisa. O que ela encontrou a levou a mudar de idéia e de prática.
"Antropologicamente, nos saímos muito bem durante milhões de anos sem dar aos bebês cereais com ferro adicionado", disse ela.
Ela é crítica da ênfase contínua em alimentos ricos em carboidratos nas orientações dietéticas para adultos ou crianças. Isso é simplesmente porque a evidência "aponta na direção oposta".
Advogado Ajay Bhoopchand
Bhoopchand levantou questões da "transição nutricional" de populações rurais para urbanas na África do Sul. Ele disse que Zinn deve estar ciente da "crua realidade da pobreza". Ele levantou "aspectos como subnutrição e sobre-nutrição entre as crianças neste país".
E ele disse que Zinn iria conhecer o princípio de saúde pública: "estabelecer o quê a população na qual você atua come de verdade."
Bhoopchand focou no grão conhecido como "pap" que é um alimento básico em comunidades pobres na África do Sul. Ele sugeriu que era irrealista não esperar que os pobres dessem pap a seus bebês.
Esta era uma questão que Bhoopchand levantou no interrogatório de Noakes. Zinn tomou a mesma posição que Noakes – embora em termos mais diplomáticos.
"A prática atual não é necessariamente a melhor prática para orientar o público sobre como comer otimamente", disse ela. "Eu não estou convencida de que precisamos dar isso apenas porque é isso que as pessoas estão comendo."
Assim, "não é correto recomendar um alimento simplesmente porque ele é acessível". Mais ainda, disse Zinn, quando esse alimento é um carboidrato que não é essencial para a sobrevivência.
Grande parte da evidência de Zinn concentrou-se nas dietas cetogênicas. Esta foi uma questão que todos os especialistas da HPCSA levantaram. Eles alegaram que isso mostrava que o conselho de Noakes para a mãe que amamentava era pouco convencional, e portanto não-profissional. Sob o interrogatório do advogado Dr. Ravin "Rocky" Ramdass, todos os peritos testemunharam ignorância sobre dietas cetogênicas.
Bhoopchand tentou e não conseguiu que Zinn reconhecesse que o conselho de Noakes para a mãe que amamentava não era convencional. Ela disse que achou estranho que as testemunhas HPCSA tivessem mencionado dietas cetogênicas. O tweet de Noakes não recomendou uma dieta cetogênica.
Essas dietas podem ser "extremas tanto para adultos quanto para crianças", disse Zinn. Cetose nutricional "não é algo que você pode obter facilmente".
A dieta cetogênica médica usada para tratar a epilepsia em crianças também apareceu freqüentemente nos testemunhos da HPCSA. Zinn achou isso confuso, já que os conselhos alimentares dados por Noakes no Twitter "não estão nem perto de serem cetogênicos".
Ela disse que muitos mitos e medos infundados ainda existem sobre dietas cetogênicas. O mesmo acontece com as cetonas produzidas por essas dietas.
"Cetonas ocorrem naturalmente no corpo e são seguras", disse Zinn. "Via de regra, bebês estão em cetose quando nascem. Eles precisam de cetonas para o desenvolvimento ideal do cérebro em seus primeiros anos ".
Ela abordou a questão da deficiência de nutrientes em lactentes – outro tópico que os peritos da HPCSA levantaram contra o tweet de Noakes. Ela disse que um dos maiores equívocos sobre a dieta LCHF é que ela é pobre em nutrientes. "Na verdade, ela fornece nutrientes ainda melhores e mais fibra do que uma dieta convencional de baixa gordura, bem-formulada".
Zinn também salientou o ponto de que há um risco muito maior de deficiência de micronutrientes em lactentes criados com cereais e alimentos à base de carboidratos, do que em uma dieta LCHF. Compostos conhecidos como fitatos, presentes nestes alimentos, podem comprometer os níveis de minerais essenciais como ferro e zinco, disse ela.
Outra questão que os especialistas HPCSA levantaram contra Noakes era sobre possível toxicidade de vitamina A pelo consumo excessivo de fígado.
Como Zinn, eu achei isso especialmente estranho dadas as diretrizes pediátricas da Organização Mundial de Saúde. Estas aconselham "peixe, carne, ovos, fígado todos os dias e tanto quanto possível". Assim fazem as diretrizes pediátricas da África do Sul.
"O fígado é famoso por não ser o alimento mais sexy", disse Zinn. "Você geralmente tem que combiná-lo com carne para torná-lo apetitoso, especialmente para bebês".
E de qualquer maneira, os bebês teriam que comer "quantidades enormes" de fígado diariamente para sofrer a toxicidade da vitamina A. "Se a toxicidade ocorre, é por conta de suplementos dietéticos (vitamina A sintética), e não de fontes reais do nutriente", disse.
Houve apenas um caso relatado de morte infantil devido à toxicidade da vitamina A. Envolveu uma preparação sintética de 90.000 unidades internacionais administradas diariamente durante 11 dias a uma criança de 1 mês pesando 2,25 kg.
Zinn disse que a deficiência da vitamina A, e não a toxicidade, era de longe um problema maior na população sul-africana.
Conseqüentemente, Zinn gerou um argumento muito forte em prol da segurança e da ciência do conselho que Noakes deu à mãe lactante. A chave, ela disse, é que LCHF no desmame infantil é "uma filosofia de alimentos não-processados". Não é uma dieta cetogênica.
Por muito tempo, as pessoas "temeram a gordura", porque os especialistas enfiaram em suas cabeças que "a gordura é ruim".
Quando Zinn dá aulas aos alunos nos dias de hoje, sua mensagem é simples.
"Não acredite em mim. Esta é uma universidade. Aqui está a evidência para ambos os lados. Vá, leia e tire suas próprias conclusões".
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