Exercício aeróbio queima gordura e não emagrece. Entenda! Parte II

Segundo guest post do coach Felipe Piacesi sobre a eficácia do exercício aeróbico para emagrecimento. Dica: não funciona :-D

A primeira parte está aqui.

O organismo humano é uma máquina complexa especializada em sobrevivência. Para tanto, ele reage adaptando-se de maneira aguda ou crônica ao ambiente a que é exposto, como estímulos, terapias e qualquer dificuldade ou facilidade. Por exemplo, quando se vive ou se está em grandes altitudes, a produção de hemoglobina é aumentada a fim de compensar a menor quantidade de oxigênio no ar. Outro exemplo é a utilização de testosterona: o organismo identifica a grande quantidade de hormônio e reduz ou cessa sua produção temporária ou definitivamente. 

Quer mais? 

Quando a temperatura do ambiente sobe, mensagens para liberar calor e assim manter a temperatura corporal adequada são enviadas. Astronautas que passam longos períodos em microgravidade perdem muita massa muscular, uma vez que sem a pressão da gravidade, os astronautas fazem menos força e o organismo dispensa proteínas contráteis por não serem mais necessárias. 

Em fisiologia, estas respostas são chamadas de feedback negativo

O mesmo acontece com o exercício. Ele se adapta para melhor desempenhar a atividade para a qual tem sido exposto, pois entende tratar-se de uma questão de sobrevivência. 

É fundamental ter em mente que nosso corpo não sabe que estamos em 2017 e queremos emagrecer para o próximo Carnaval. Anatomicamente, somos os mesmos (Homo sapiens) há cerca de 200 mil anos (Bradshaw, 1997) e a parte do DNA ligada ao metabolismo não muda há 50 mil anos (Vigilant, 1991).

Como mostrei no post anterior, durante o exercício aeróbio de longa duração, queima-se prioritariamente gordura. 

Agora vem a chave da questão! Quando realizamos momentos de atividade em alta intensidade intercalados por breves intervalos (HIIT), queimamos carboidratos. Quando realizamos musculação, danificamos ou perdemos proteínas contráteis, ou seja, MÚSCULO! 

A pergunta que faço é: qual atividade é amplamente recomendada para o aumento da massa muscular? Resposta: musculação. "Mas Felipe, você não acabou de falar que ela 'queima' músculo durante a sessão?" 

Sim, mas APÓS o treino começa um processo de recuperação e supercompensação (alteração na síntese proteica), de modo que o organismo irá aumentar gradativamente sua massa muscular a cada treino, desde que seja concedido o devido descanso. Isso acontece porque o corpo "entendeu" que é de músculo que você precisa para levantar peso (musculação). O mesmo acontece com o aeróbico. Você usa gordura para sustentar esta atividade, certo? Após a atividade, o organismo irá direcionar seus esforços para repor o que utilizou e ainda te dar um pouquinho a mais. Duvida deste efeito com o aeróbico? Veja!

O estudo de Kump e Booth (2005), em ratos, mostrou que 10h após a realização de atividade aeróbica, os ratinhos tinham sintetizado 79% mais gordura para armazenamento do que os que não realizaram a atividade. Mais ainda, 53h depois do exercício, a formação de tecido adiposo foi 5 vezes maior nos animais que fizeram a atividade aeróbica quando comparados com os sedentários!

Diversos experimentos como os de Craig et al. (1983), Lambert et al. (1994), Kump et al. (2006) entre outros, verificaram aumento significativo nas reservas de gordura, evidenciando a supercompensação deste substrato.

Portanto, com base no raciocínio de catabolismo e supercompensação exposto por Gentil (2014) e nas evidências científicas, o objetivo de um treino de emagrecimento deve ser "enganar" o organismo, utilizando proteínas (musculação) e carboidratos (HIIT) em treinos curtos e intensos, atacando assim o mínimo possível de gordura DURANTE o treinamento, passando a seguinte mensagem para o organismo: preciso de músculos e glicogênio, dispense o excesso de gordura pois eu não a utilizo. 

Referências


  • BRADSHAW, J. L. Human evolution: a neuropsychological perspective, 1997.
  • CRAIG, B. W.; THOMPSON, K.; HOLLOSZY, J. O. Effects of stopping training on size and response to insulin of fat cells in female rats. Journal of Applied Physiology, v. 54, n. 2, p. 571-575, 1983. 
  • KUMP, D. S.; BOOTH, F. W. Sustained rise in triacylglycerol synthesis and increased epidydimal fat mass when rats cease voluntary wheel running. Journal of Physiology, v. 565, n. pt 3, p. 911-925, 2005. 
  • KUMP, D. S.; LAYE, M. J. BOOTH, F. W. Increased mitochondrial glycerol-3-phosphate acyltransferase protein and enzyme activity in rat epididymal fat upon cessation of wheel running. American Journal of Endocrinology and Metabolism, v. 290, n. 3, p. E480-489, 2006.
  • LAMBERT, E. V. et al. Enhanced adipose tissue lipoprotein lipase activity in detrained rats: independent of changes in food intake. Journal of Applied Physiology, v. 77, n. 6, p. 2564-2571, 1994.
  • VIGILANT, L. et al. African populations and the evolution of human mitochondrial DNA. Science, v. 253, n. 5027, p. 1503-1507, 1991.


Felipe Piacesi é mineiro de Barbacena, 32 anos, casado com a Mestre em Nutrição Débora Melo e pai da Valentina. Residente e apaixonado por Brasília há 16 anos. Bacharel em Educação Física pela UCB, pós graduado em Musculação e Treinamento de Força pela UnB, professor universitário, consultor, palestrante, coordenador técnico, personal trainer e praticante de musculação há 12 anos. Amante de ciências, é fascinado pelos resultados sustentáveis e seguros que a musculação e o HIIT trazem para seus alunos. Defensor destas modalidades na busca de uma vida mais saudável, longeva e autônoma. Devido a isso crê que quando uma pessoa se interessa em se exercitar, deve receber toda atenção e informação possível para incorporar definitivamente a prática em sua vida. É também defensor e praticante, desde 2013, de alimentação baseada em comida de verdade, no moldes das dietas Paleo e Primal.

Se você quiser conhecer o trabalho do Felipe como coach e ver os resultados dos alunos dele, clique aqui.

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