Petroleiro e jet-ski
Outro dia eu publiquei o caso do Eduardo, que depois de ter uma infância e adolescência obesas, tomou para si a responsabilidade sobre seu futuro. Ao adotar uma dieta paleo/low-carb, ele ultrapassou uma barreira difícil para os humanos em geral: a percepção de que o futuro, via de regra, não é facilmente alterável.
Humanos não são bons em lidar com o conceito de futuro. Nosso cérebro funciona bem com o agora, e é ótimo para lembrar o que já passou – mas quando se trata da relação com o que ainda virá, em geral nós derrapamos feio.
Você conhece alguém que está visivelmente acima do peso, cujos exames estão todos normais ? Eu conheço vários. Ou alguém que fuma, mas não tem problema pulmonar algum ? Novamente, conheço vários. Em geral, essas pessoas não vão se preocupar em perder peso nem em largar o tabaco – porque agora está tudo bem, né ? Mas e daqui a 10, 20, 40 anos ?
Esse ano, perdi dois parentes próximos, um para o câncer, outro para o diabetes. Ambos fumantes e grandes consumidores de álcool por décadas (o que faleceu por causa do câncer tinha abandonado o cigarro há uns 10 anos, por conta de um infarto). Nos últimos 5 anos, perdi diversos parentes não tão próximos para o câncer, alzheimer e diabetes – a família parece um microcosmos da nossa sociedade como um todo.
Veja, a minha avó é uma senhora longeva – completou 100 anos em fevereiro/2016 – e suas irmãs também: a mais nova ainda viva não tem menos de 90. E no entanto, a maioria dos maridos já se foi. Nós nos conformamos com o "fato" de a expectativa de vida dos homens ser menor que a das mulheres, mas nunca nos preocupamos com o motivo para isso... Grande consumo de açúcar, de álcool, de tabaco: em cada tio e tio-avô já falecido por doença, dá para achar esses traços.
E aí, colocamos a culpa no acaso.
Meu pai faleceu aos 60 anos, por complicações vasculares decorrente de uma vida de abusos. Teve um aneurisma na aorta abdominal operado bem-sucedidamente no fim dos anos 90, mas não sobreviveu a um trombo no início dos anos 2000. E ainda assim, vejo os homens da família prestando pouca ou nenhuma atenção ao que estão preparando para seus futuros. Novamente, é a questão de não conseguir ver à frente. E é estranho pensar desse jeito, a meu ver... Intrinsecamente, o raciocínio parece ser "O meu parente fumava feito chaminé, bebia feito um gambá, comia açúcar feito uma formiga e morreu aos 60, tomado por câncer/doença cardiovascular/alzheimer. Eu faço a mesma coisa, mas comigo o desfecho vai ser diferente. Eu sou especial."
Amigo, sinto lhe dizer: você não é. Seu corpo é apenas humano, e tem limites humanos. E veja só: o meu avô paterno não bebia álcool, e ainda assim morreu por complicações cirróticas (ou assim me contaram, eu não o conheci). Isso é motivo para dizer que beber não é problema ? Meu avô foi uma exceção, apenas isso...
Outra coisa que escuto demais: "Não vou me preocupar com a velhice não. Morrer aos 60 está bom, e vou aproveitar a vida até lá". Quem anda por essa seara esquece-se de uma coisa: mortes rápidas, como a do meu pai (que um belo dia teve o trombo, passou por uma cirurgia e faleceu – sem sofrimento prolongado) são raras. Na maioria dos casos, a doença crônica leva anos e anos de sofrimento para matar o sujeito – e nesse meio tempo, além do sofrimento pessoal, ela afeta também a família e amigos.
Pense no tempo como o oceano, e na sua saúde como um tipo de embarcação. Nós tendemos a achar que somos jet-skis. Ágeis em tomar decisões, e mais ágeis ainda em mudar de rumo. Ledo engano. Cada um de nós é um navio petroleiro, pesando algumas centenas de milhares de toneladas. Se um navio desse tamanho percebe que vai se chocar contra rochas, ele precisa começar a mudar de rumo dezenas ou mesmo centenas antes de quilômetros antes.
Uma mudança de rota que não for iniciada muito cedo vai ter probabilidade de naufragar bastante alta. É claro que nada impede o petroleiro, mesmo tendo feito sua mudança de rumo na hora certa, de atingir uma rocha submersa e naufragar. Acidentes acontecem. Mas usar isso como motivo para não se preocupar com o destino da embarcação é irresponsabilidade pura e simples.
Esse ano, perdi dois parentes próximos, um para o câncer, outro para o diabetes. Ambos fumantes e grandes consumidores de álcool por décadas (o que faleceu por causa do câncer tinha abandonado o cigarro há uns 10 anos, por conta de um infarto). Nos últimos 5 anos, perdi diversos parentes não tão próximos para o câncer, alzheimer e diabetes – a família parece um microcosmos da nossa sociedade como um todo.
Veja, a minha avó é uma senhora longeva – completou 100 anos em fevereiro/2016 – e suas irmãs também: a mais nova ainda viva não tem menos de 90. E no entanto, a maioria dos maridos já se foi. Nós nos conformamos com o "fato" de a expectativa de vida dos homens ser menor que a das mulheres, mas nunca nos preocupamos com o motivo para isso... Grande consumo de açúcar, de álcool, de tabaco: em cada tio e tio-avô já falecido por doença, dá para achar esses traços.
E aí, colocamos a culpa no acaso.
Meu pai faleceu aos 60 anos, por complicações vasculares decorrente de uma vida de abusos. Teve um aneurisma na aorta abdominal operado bem-sucedidamente no fim dos anos 90, mas não sobreviveu a um trombo no início dos anos 2000. E ainda assim, vejo os homens da família prestando pouca ou nenhuma atenção ao que estão preparando para seus futuros. Novamente, é a questão de não conseguir ver à frente. E é estranho pensar desse jeito, a meu ver... Intrinsecamente, o raciocínio parece ser "O meu parente fumava feito chaminé, bebia feito um gambá, comia açúcar feito uma formiga e morreu aos 60, tomado por câncer/doença cardiovascular/alzheimer. Eu faço a mesma coisa, mas comigo o desfecho vai ser diferente. Eu sou especial."
Amigo, sinto lhe dizer: você não é. Seu corpo é apenas humano, e tem limites humanos. E veja só: o meu avô paterno não bebia álcool, e ainda assim morreu por complicações cirróticas (ou assim me contaram, eu não o conheci). Isso é motivo para dizer que beber não é problema ? Meu avô foi uma exceção, apenas isso...
Outra coisa que escuto demais: "Não vou me preocupar com a velhice não. Morrer aos 60 está bom, e vou aproveitar a vida até lá". Quem anda por essa seara esquece-se de uma coisa: mortes rápidas, como a do meu pai (que um belo dia teve o trombo, passou por uma cirurgia e faleceu – sem sofrimento prolongado) são raras. Na maioria dos casos, a doença crônica leva anos e anos de sofrimento para matar o sujeito – e nesse meio tempo, além do sofrimento pessoal, ela afeta também a família e amigos.
Pense no tempo como o oceano, e na sua saúde como um tipo de embarcação. Nós tendemos a achar que somos jet-skis. Ágeis em tomar decisões, e mais ágeis ainda em mudar de rumo. Ledo engano. Cada um de nós é um navio petroleiro, pesando algumas centenas de milhares de toneladas. Se um navio desse tamanho percebe que vai se chocar contra rochas, ele precisa começar a mudar de rumo dezenas ou mesmo centenas antes de quilômetros antes.
Uma mudança de rota que não for iniciada muito cedo vai ter probabilidade de naufragar bastante alta. É claro que nada impede o petroleiro, mesmo tendo feito sua mudança de rumo na hora certa, de atingir uma rocha submersa e naufragar. Acidentes acontecem. Mas usar isso como motivo para não se preocupar com o destino da embarcação é irresponsabilidade pura e simples.
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