Alzheimer, cetonas e nos enganando (Parte 2 de 3)

Artigo traduzido por Juliana Whately. O original está aqui.

Por Amy Berger.


Eu terminei o post anterior introduzindo a ideia de usar cetonas exógenas para melhorar os sinais e sintomas da doença de Alzheimer, apesar de não exigir que o indivíduo afligido faça quaisquer alterações dietéticas. (Lembre-se que, de acordo com os pesquisadores, uma dieta muito baixa em carboidratos é "inconveniente" de se preparar e consumir.) Há lugar para cetonas exógenas na terapia da doença de Alzheimer? Sim. Eu acredito que há. Depende da idade e da gravidade da doença da pessoa, mas eu reconheço absolutamente que cetonas exógenas podem melhorar a qualidade de vida. MAS: com exceção de alguns casos muito específicos, sobre os quais vou falar daqui a pouco, eu não posso apoiá-los sendo usado como a única intervenção. É tão ruim quanto dizer um diabético tipo 2 deva utilizar insulina e não fazer mais nada para influenciar a forma como o corpo lida com a glicose, ou, na verdade, a insulina em si.

Por favor, diga-me que alguém aí está na mesma página que eu aqui.

"Os pacientes com doença de Alzheimer frequentemente sofrem mudanças na preferência alimentar para alimentos doces, ricos em carboidratos, o que tornaria o cumprimento a uma dieta cetogênica difícil." (Henderson et al., 2009)

Sério? Será que eles passam por mudanças na preferência alimentar para alimentos doces, ricos em carboidratos depois de desenvolver a doença de Alzheimer ou os viciados em açúcar são mais prováveis de desenvolver Alzheimer? É fresquinho porque vende muito ou vende muito porque é fresquinho?

Agora, aqui é onde as coisas ficam profundas.

Cetonas Exógenas: Band-Aid em uma ferida profunda no peito

Deixe-me dizer aqui, em termos inequívocos, que, para o objetivo de alimentar os neurônios de alguém cujo cérebro está morrendo de fome, apoio plenamente elevar as cetonas no sangue por quaisquer meios que se provem eficazes - incluindo a administração de cetonas exógenas.

ENTRETANTO, é o meu palpite (e, como sempre, é apenas isso: um palpite) que a combinação de cetonas artificialmente elevadas E aquelas sintetizadas endogenamente através de uma dieta low-carb e, se possível (com base na saúde e mobilidade do paciente), exercício e jejum intermitente, seria uma estratégia multifacetada para realmente fazer as coisas melhorarem. (E provavelmente mais eficaz, para começo de conversa, especialmente no longo prazo.)

Eu uso a seguinte linha o tempo todo, porque, francamente, eu acho que realmente martela o ponto: Na ausência de ajustes dramáticos na dieta e estilo de vida, administrar cetonas exógenas é como tirar água de um barco furado, sem parar para consertar o buraco - você simplesmente controla os sintomas enquanto as causas continuam causando estragos.

Dar a alguém cetonas de uma fonte externa sem a necessidade de mudar, pelo menos, alguns dos fatores alimentares e estilo de vida que podem estar tendo um impacto negativo (ou ouso vir a público e dizer relação causal) na progressão do Alzheimer, é o caminho preguiçoso .

Para alguém de 90 anos de idade, severamente demente, e que não está susceptível de de repente mudar a sua aveia de manhã em favor de ovos cozidos em óleo de coco, então sim, absolutamente, vamos dar-lhe uma bebida de cetona e deixá-lo viver seus últimos poucos anos com melhor controle de suas faculdades.

Mas a doença de Alzheimer e seus precursores cognitivos - comprometimentos cognitivos leves - estão comprometendo pessoas cada vez mais jovens. Assim, para alguém em seu 50 ou meados dos 60 - que podem ter mais 25-35 anos de vida - se essas pessoas não querem fazer quaisquer mudanças que possam impedir as coisas de ficarem muito piores, e preferem apenas por pra dentro as cetonas, juntamente com o seu bolo e suco de maçã, então tudo bem. Mas marque minhas palavras: as pessoas que tomam cetonas e não colocam esforço para corrigir potencialmente os comportamentos causadores e exacerbadores continuarão a declinar. (Para ficar com a minha analogia anterior, eles não consertaram o buraco; eles estão apenas retirando a água.) E, à medida que declinam, provavelmente irão necessitar de doses cada vez mais elevadas de cetonas e/ou dosagem mais frequente. (Tipo diabéticos que não mudam suas dietas e acabam precisando de cada vez mais insulina, em doses cada vez mais elevadas, e normalmente experimentam uma tempestade progressiva das sempre crescentes consequências para a saúde, uma vez que têm feito exatamente nada a mais para mudar sua situação.)

Vamos lembrar: antes da síntese da insulina injetável, os diabéticos tinham que reduzir seu consumo de carboidratos. Era praticamente a única forma de evitar a glicemia de ir muito alto. Mesma coisa com algumas formas de epilepsia: antes do advento dos medicamentos anticonvulsivantes, a dieta cetogênica era a única forma de reduzir convulsões. (Mesmo agora, na grande era de produtos farmacêuticos, as pessoas com epilepsia "intratável" ainda têm que seguir uma dieta cetogênica para a gestão das crises.)

E antes da criação de preparações com cetona exógena, só havia uma maneira de elevar cetonas: manipulação dietética. (fosse através de inanição, várias permutações de jejum ou uma dieta muito low-carb).

Como eu disse, eu acho que cetonas exógenas têm um lugar no tratamento do Alzheimer, especialmente para pessoas de idade muito avançada ou estado de doença muito grave. MAS, quanto mais jovem, mais provável de seus corpos serem capazes de se adaptar e responder a uma mudança na dieta e estilo de vida. Dar doses elevadas de cetonas é como aplicar um torniquete na ferida sangrando seriamente. Sim, você precisa do passo imediato para gerir a crise aguda. Mas você não pára com o torniquete e não faz nenhum outro tratamento. Você leva a vítima ao hospital, pronto, onde eles podem realmente resolver o problema. Então, sim, dar as cetonas, ENQUANTO VOCÊ TAMBÉM ABORDA PROBLEMAS SUBJACENTES.

Cetogênica versus low-carb:
mais é sempre melhor?

OK. Da última vez, eu fiz uma distinção entre uma dieta cetogênica (KD) e uma dieta baixa em carboidratos (LC). Vou escrever mais sobre isso em um post separado em breve, mas por agora, vamos reconhecer que uma dieta cetogênica do tipo de intervenção médica, que é prescrita às vezes na proporção de 3:1 ou 4:1 (ou seja, 3 ou 4 partes de gordura para 1 parte de carboidratos e proteínas combinados), pode não ser necessária para melhorar a função cognitiva no Alzheimer.

Aqui está a coisa: uma grande variedade de dietas LC podem ser consideradas "cetogênicas" no sentido de que o corpo vai gerar mais cetonas do que em uma dieta mais elevada em carbs, mesmo se alguém não está deliberadamente com concentrações super-altas de cetonas em seu medidor de sangue. Meu palpite é que o golpe duplo, se quiser pensar assim, contra o Alzheimer, viria de mudanças na dieta e estilo de vida E dos ésteres de cetona. (E se estamos falando de comprometimento cognitivo leve, ao contrário de Alzheimer muito avançado, uma dieta VLC pode até não ser necessária para algumas pessoas, só abaixar os carbs pode ser o suficiente - apenas o suficiente para reduzir a resistência à insulina e talvez combinar isso com um sono melhor, mais atividade física, luz do dia, tempo ao ar livre, redução do estresse, etc).

Porque aqui está a outra coisa em que eu estive pensando:

Não são apenas os níveis de cetonas no sangue. É o que o corpo está FAZENDO com eles.

Veja, níveis de corpos cetônicos no sangue de 1,0 ou 1,5 mM podem ser considerado "baixos" se você está procurando especificamente obter esse nível por volta de 3-5mM. Mas 1,0 ou 1,5mM é ainda dez vezes o nível "normal" de alguém que consome uma dieta "balanceada". E talvez algumas pessoas precisem de níveis de 3-5mM, mas eu suspeito que os outros vão ficar muito bem em 1.0-1.5mM. E suspeito que as pessoas que ficam muito bem nestes níveis seriam as únicas que têm ajustado suas dietas e estilos de vida de tal forma que seus corpos têm melhorado seus mecanismos enzimáticos e bioquímicos para USAR as cetonas.

Quando ouvimos falar de "cetoadaptação", geralmente é em discussões sobre o desempenho atlético, mas também se aplica a pessoas comuns que não fazerm triatlons Ironman. E se leva algumas semanas em pessoas jovens, saudáveis ​​e fisicamente ativas para alimentarem-se adequadamente com cetonas, o que isso diz sobre as pessoas de meia-idade e idosas, que podem ter os desafios adicionais de síndrome metabólica, sarcopenia, diminuição da função hepática, mobilidade reduzida, etc.? Por que nós automaticamente assumimos que essas pessoas podem fazer uso fabulosamente eficiente de uma grande dose de cetonas exógenas, quando não fizemos nada para atingir esses caminhos?

Os estudos, até essa data, sobre o uso de cetonas exógenas mostram que elas são, de fato, eficazes para melhorar a cognição, mas quão mais eficazes podem ser em combinação com uma dieta low-carb, jejum intermitente, exercício, mais sono e todos os outros fatores que podem fazer essas vias dispararem e ajudar a melhorar a resistência à insulina - que é um dos principais precursores do Alzheimer?

Eu só acho que quando nós dependemos de cetonas - ou, na verdade, mesmo quando alguém está em uma dieta LC - se nos concentrarmos obsessivamente sobre os níveis de cetonas no sangue, vamos ficar com o nosso foco fora do problema real: a função cognitiva prejudicada. Eu me preocupo que os cuidadores persigam números em uma tentativa potencialmente equivocada de obter cetonas mais altas possível. (Dentro de parâmetros fisiológicos saudáveis, é claro. Por favor, saibam que quando eu digo "o mais alto possível" não estou me referindo a níveis do tipo cetoacidose diabética.)

O fator de orientação não deve ser necessariamente altos níveis de β-OHB, mas sim, como o paciente de Alzheimer funciona. Para a epilepsia, para o câncer e para algumas outras condições, os níveis cetônicos e de glicose no sangue podem ser mais importantes do que para o Alzheimer. Você não precisa de um medidor de cetona no sangue ou no hálito para dizer-lhe que a memória do seu ente querido está funcionando melhor, ou que eles estão mais parecidos com seu "velho eu" ao interagir com as pessoas e que eles não tiveram qualquer [ou tiveram menos] explosões comportamentais incaracterísticas. Os números são um GUIA. Mais pode não significar necessariamente melhor. É possível. Mas nós não sabemos com certeza. Mais uma vez, a questão não é o quão alto as cetonas estão, mas quão bem a pessoa as está usando.

Assim, medir os níveis sanguíneos de β-OHB realmente só nos dá um indicador suplente. Os níveis de β-OHB no sangue de alguém nos dizem nada sobre o quão eficazmente as células estão realmente usando essas cetonas.

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