ITIS - É a Insulina, Estúpido (parte 7 de 8)
Artigo traduzido por Juliana Whately. O original está aqui.
por Amy Berger.
Sétima parte, só falta mais uma!
Enquanto escrevo esse post, o primeiro post desta série tem 5503 vizualizações e a parte 6 tem apenas 1325. É um declínio e tanto de litores, então os meus mais sinceros agradecimentos e apreço a quem ainda está comigo. (Se eu sou extremamente detalhista nos meios de comunicação escrita, você ficaria surpreso em quão tranquila eu sou pessoalmente.)
Da última vez, na parte 6, eu apresentei a minha interpretação da cadeia de causalidade em relação à desregulação metabólica/endócrina e o acúmulo de gordura corporal. A medicina convencional e a nutrição afirmam que as pessoas engordam acumulam tecido adiposo porque são preguiçosas, glutonas, comilonas e muito sedentárias. Elas comem demais e se exercitam muito pouco. Estas deficiências na força de vontade, disciplina e bons hábitos levam ao excesso de peso e obesidade, e excesso de peso e obesidade, posteriormente, levam à diabetes, hipertensão, infertilidade, doença cardíaca e muito mais.
Mas você deve se lembrar que eu acredito que seja forma diferente. Eu acredito que funciona assim:
Desregulação da glicemia e insulina (questões hormonais/endócrinas) → utilização preferencial de glicose para a energia + armazenamento de excesso de energia (a partir de carboidratos e gorduras) no tecido adiposo + inibição da lipólise → acúmulo de tecido adiposo.
Na minha teoria, as anormalidades metabólicas e hormonais vêm em primeiro lugar e o acúmulo de gordura corporal é o resultado. Eu acho assim muito, muito melhor do que a cadeia de causalidade que se parece com isso:
Preguiça, avareza, gula, falhas de caráter → acúmulo de gordura corporal → "Diabetes"
Na minha cadeia de causalidade, as pessoas podem até mesmo sair de seu caminho não por serem glutonas com pouca força de vontade. Veja, o que elas realmente querem para o café da manhã é um par de salsichas gordas com um ovo frito ou dois, alguns legumes salteados na manteiga e uma xícara de café com creme. Mas, sendo muito disciplinadas e querendo fazer "a coisa certa" (pelo menos, de acordo com quase todos as autoridades médica e de nutrição que já ouvi), ignoram o instinto primal, invocam sua força de vontade e optam por um muffin de farelo livre de gordura com uma pequena camada de creme de queijo com baixo teor de gordura e geléia de morango, e um copo de suco de laranja. Se elas estão se sentindo muito indulgentes, ao invés disso talvez comam algum substituto do ovo cozido sem gordura em uma panela antiaderente – que ainda vão preparar com algo livre de gordura, só pra garantir. (Elas vão cobrir o substituto do ovo sem gordura com molho [não tem gordura] e queijo com baixo teor de gordura). Os mundos LCHF, paleo, primal e Perfect Health Diet estão cheios de anedotas relatos de pessoas que não eram glutonas, não eram preguiçosas, não eram comilonas e não eram sedentárias, mas ainda assim, falhavam em perder peso, ou aaté ganhavam peso, em conjunto com uma dieta obediente de baixo teor de gordura, baixa caloria, abundância do exercício e moralmente superior, à carne animal suculenta e gordurosa. (Eu sei. Eu era uma delas).
CICO, SICKO ou psicótico?
No oitavo e último post desta série, vamos olhar para algumas das coisas que podem causar a desregulação da glicemia e insulina, porque se as questões da glicose e insulina são o que começa toda a história, então precisamos identificar o que as desencadeia. Por enquanto, porém, vamos dar um passeio mágico através de terra da fantasia montados do nosso majestoso unicórnio e falar sobre a frase que todos nós amamos odiar, "calorias que entram, calorias que saem." (Isto é normalmente abreviado como CICO (do inglês calories in, calories out) e algumas pessoas da LCHF se referem a seus adeptos fervorosos como CICOpáticos ou CICOticos. Eu não estou dizendo que faço isso, só estou tentando clarear as coisas, já que a maioria destes posts de insulina ficaram aquém no departamento de humor). Outra sigla que enfatiza a importância fundamental da redução de calorias quando a perda de peso é CRAP (do inglês, porcaria): restrição calórica como principal (do inglês, Calorie Restriction As Principal). Amei, amei, AMEI! (Gorjeta para Dr. Jason Fung por isso. Eu não sei se foi ele que inventou, mas o blog dele foi o primeiro lugar que eu vi.)
Não há muito a dizer aqui. É difícil saber por onde começar. Eu acho que um bom lugar seria uma citação de Jonathan Bailor, autor de O Mito das Calorias:
"Calorias contam, mas isso não significa que você tenha que contar calorias."
O modelo CICO da regulação do peso se resume a isto: para perder peso, você deve ingerir menos calorias do que gasta.
É isso aí. Não diz nada sobre o que acontece com essas calorias uma vez que são ingeridas, ou se vamos ou não poder "contar calorias". Ele também não explica por que as pessoas podem ingerir o mesmo número exato de calorias e executar exatamente o mesmo em exercício, mas o seu peso e composição corporal podem não mudar exatamente da mesmas maneiras.
Há aproximadamente oitocentos zilhões de coisas erradas com o modelo CICO da perda de peso gordura.
Nós podemos fingir um monte de coisas. Isso não as tornam reais. |
MAS:
Vamos fingir, só por agora, que seja apenas isso de calorias que entram e calorias que saem, e nada mais. Vamos esquecer todos os processos bioquímicos complicados acontecendo sobre os quais temos pouco ou nenhum controle. (Nós vamos chegar a eles daqui a pouco, mas por agora, vamos fingir que eles não têm qualquer influência em qualquer coisa [embora super tenham].) Todos nós provavelmente podemos concordar que a única maneira de "obter calorias" é comendo e bebendo. Certo, tudo bem. Vamos também fingir, apenas para argumentar, que a única maneira de "gastar calorias" seja através de esforço físico, como corrida, natação, caminhada, ciclismo, hóquei, levantamento de peso, ginástica e sexo. (E ginástica do sexo!)
Por que é que alguns de nós querem correr, nadar, caminhada, andar de bicicleta e levantar peso, e outros não? (Quanto ao sexo, se você não quiser fazer isso, provavelmente há algo mais profundo acontecendo do que a desregulação de insulina, e você terá que encontrar outro blogueiro especialista nisso!) Por que algumas pessoas se sentem obrigadas a fazerem esforços atléticos, enquanto outros mal conseguem reunir energia para chamar uma pizza antes de entrar em colapso no sofá depois do trabalho? É fato, algumas pessoas simplesmente não gostam de atividades atléticas, e tudo bem. Cada um na sua. Mas aqueles que gostam de exercícios, ou mesmo aqueles que não gostam, mas que, sabendo de todos os supostos benefícios do exercício, ainda conseguem se obrigar a participar de atividade física seja mais intensamente, ou mais frequentemente, mas que não têm a energia para fazê-lo? Por que algumas pessoas se sentem motivadas a fazerem exercícios intensos e outros não?
Por que algumas pessoas explodem de energia ao ponto de quase terem que se levantar e se mover, enquanto para outros, é um sacrifício apenas se levantar do sofá e cozinhar o jantar, ou lavar roupa, quanto mais fazer uma sessão de sprint ou um treino de kettlebell? Qual é o papel da insulina em facilitar ou bloquear a "potência" que faz com que as pessoas queiram se mover mais?
Calorias que entram, calorias que saem não são variáveis independentes
Até certo ponto, o tipo de calorias que entram tem uma enorme influência sobre calorias que saem. Este não é um cenário absoluto, de tudo ou nada (a fisiologia humana quase nunca é), mas a mensagem geral é esta: até certo ponto, as calorias que entram ajudam determinar as calorias que saem. Sabemos que em pessoas que são resistentes à insulina – nós também podemos chamá-los de "intolerantes a carboidratos" – comer uma tonelada de carboidratos aumenta a insulina e os níveis de insulina tendem a permanecer altos por mais tempo do que em alguém que é mais sensível ao hormônio. E, como nós cobrimos nas partes 4 e 5 desta série, insulina elevada prolongada inibe a degradação das gorduras. Mas, como expliquei em minha série sobre separação do combustível, a gordura é o combustível mais eficiente do corpo, e é também o combustível que mais armazenamos. Assim, quando os níveis de insulina estão cronicamente elevados, o acesso ao melhor e mais abundante combustível do nosso corpo é bloqueado. (Como eu disse no podcast que gravei com Robb Wolf, é como se nós tivéssemos 10 galões de combustível em sacos de plástico no banco de trás de um carro. O combustível está tecnicamente "dentro" do veículo, mas não no tanque, onde o motor pode acessá-lo) Boa sorte em tentar ir à academia – ou até mesmo ir para uma caminhada –quando você não consegue acessar o melhor combustível do seu corpo.
Resumindo: se você comer uma tonelada de carboidratos e tiver alta de insulina por um período prolongado, guardando mais desse combustível dentro do seu tecido adiposo, você não vai ter muita energia. Na verdade, um dos efeitos colaterais mais comumente reportados de uma dieta low-carb é um aumento nos níveis de energia. As pessoas no mundo das comida de verdade parecem ter uma relação de amor/ódio com Gary Taubes atualmente, mas me coloquem diretamente no lado de quem o ama. (Bem, talvez não ele. Eu nunca o conheci, por isso não posso dizer, mas eu certamente adoro o trabalho dele). Sua escrita foi onde vi pela primeira vez sobre esta ideia de causalidade inversa quando se trata da (presumida) relação entre exercício e perda de peso gordura.
Apenas coloque coisas dentro e leve embora. Não preste atenção no que acontece dentro da caixa. |
A multidão CICO e CRAP afirma que funciona assim: gaste mais energia do que você consome e seu peso corporal irá diminuir. (Não importa que eles não necessariamente digam que a sua massa gorda irá diminuir. Apenas o seu peso). Eles acreditam que o corpo humano – o complexo, frustrante, bonito, agravante, maravilhoso corpo – seja tão simples quanto uma calculadora ou um problema de subtração de primeiro grau. O corpo é como uma caixa de papelão: coloque menos "coisas" do que você tira e haverá menos coisas restantes. Mais uma vez, isso não diz nada sobre como conseguir tirar coisas ou por que os corpos de algumas pessoas são muito melhor em abrir mão de "coisas" do que outros. Também não diz nada sobre o fato de que o corpo humano não é uma caixa de papelão. Ou seja, ele não é simplesmente um recipiente de retenção de calorias e não é absolutamente uma entidade estática. As propriedades do corpo (caixa) mudam, dependendo do que colocamos nele. As reações bioquímicas que ocorrem no corpo são influenciadas pelo tipo de calorias que entram, e podemos fazer um argumento decente que o tipo de calorias tem uma influência ainda maior sobre estas reações do que a quantidade total das mesmas. (Mesmo dentro de uma única categoria de macronutrientes, a fonte de calorias tem muito mais influência do que o número. Pense em 500 calorias de biscoito contra 500 calorias de brócolis. Ambos são carboidratos, mas é aí que as semelhanças terminam.)
Entre os inúmeros efeitos de uma dieta low-carb está uma diminuição dos níveis de insulina. Coisas variam de pessoa para pessoa e, com certeza, muitas coisas afetam a insulina além de apenas a ingestão de carboidratos. (Mais sobre isso no próximo artigo). Mas, em geral, se alguém um tem uma meta de reduzir a sua carga total de insulina, uma dieta low-carb é um ótimo lugar para começar. Ao reduzir os níveis de insulina, pegamos a gasolina que está parada no banco de trás e a despejamos no tanque. Quando a insulina e seus efeitos anti-lipolíticos já não são um obstáculo, de repente temos acesso ao material de boa qualidade – o melhor material – gordura. E quando temos acesso a melhor combustível do nosso corpo, eis que, de repente, temos energia. E quando temos energia, queremos nos mexer. Podemos nos mover. Isto é que Gary Taubes elucidou tão bem: As pessoas não queimam gordura porque elas estão se movendo mais; eles são levadas a se moverem mais, porque estão queimando gordura.
S & M Opa, Quis dizer D & F
Isso traz uma boa pergunta: Isso tudo não é apenas uma questão de disciplina e força de vontade?
Prosseguindo em nossa brincadeira pela terra do faz-de-conta, onde a perda de gordura se resume a nada além de CICO, todos – todos – perderiam peso se tivessem apenas a força de vontade suficiente para comer menos calorias, mesmo quando estivessem com muita fome, e tivessem disciplina suficiente para o exercício, mesmo quando eles estivessem cansados? Isso ainda não tem a ver com pessoas gordas com excesso de peso serem preguiçosas, gulosas e moralmente inferiores àquelas que são magras? Desculpa, eu chamo isso de mer*a. Não, na verdade, eu chamo uma p*ta mer*a. (Além disso, temos de parar por um segundo, porque o Pégasus que estamos montando precisa de um refeed de carboidratos, então deixe-me pegar esse balde gigante de aveia...)
Ouçam, gente. Sim, há papéis para a disciplina e força de vontade (D & F) na perda de gordura e melhora da saúde. Em algum ponto, você tem que abrir mão de alguns dos alimentos que você ama, se eles estão impedindo o seu progresso. E de vez em quando, você tem que forçar-se a sair do seu sofá quando você preferia estar deitado. MAS: D & F são recursos finitos. Você só pode negar seus instintos animais por algum tempo e você não consegue desviar do seu caminho a cada refeição e cada treino.
Além disso, o que são a força de vontade e disciplina, de qualquer maneira? Quando é o auge do inverno e você coloca um casaco para ir lá fora, isso significa que você está sem força de vontade? Você poderia tolerar o frio melhor se você apenas tivesse mais força de vontade? Não seja ridículo. (Monges tibetanos que derretem blocos de gelo com o seu calor do corpo, não obstante). Quando está frio e você coloca um casaco, você não tem força de vontade fraca. Você está seguindo seus instintos. Está frio lá fora, assim, como um ser humano em pânico inteligente, você se aquece! Quando você está exausto depois de um longo dia de trabalho e algumas refeições de alimentos de baixa qualidade, e você chega em casa e cai sobre o sofá, você poderia ir para uma sessão de sprint ou deixar cair no sofá e fazer algumas flexões se você só tivesse mais disciplina? Sim, talvez, mas vamos lá. Se você está cansado, não é "indisciplina" cair no sofá. Quando você não tem energia, como um ser humano inteligente, você não faria algo que requer muita energia!
Como eu disse, com certeza, às vezes você tem que substituir esses instintos. (Fazer as coisas que você não gosta é ser chamado a ser um adulto, e sim, é uma porcaria.) Mas você não pode viver assim todos os dias, para toda a sua vida. Deixe-me repetir: a força de vontade e disciplina são recursos finitos; você só pode se desviar por algum tempo.
Assim, mesmo que a perda de gordura se resuma a nada além de CICO, como acontece no conto de fadas, você pode ver porque uma dieta baixa em carboidratos é ainda um bom caminho a percorrer. Se você absolutamente deve "se exercitar mais", a fim de gastar energia e assim conseguir mais "calorias que saem", então você vai precisar de mais energia do que você pode obter. E parece que uma das melhores maneiras de obter essa energia é manter a insulina baixa, já que isso vai facilitar o acesso constante à gordura, que é, novamente, a melhor e mais abundante fonte de combustível do corpo. Se você é novo nisso e não entende porque a gordura é uma fonte de combustível melhor do que carboidratos, encorajo-o a ler os três posts que eu escrevi um tempo atrás. Se você está sem tempo, pule o primeiro, já que eu estarei cobrindo o básico no resto deste post:
O corpo humano não é uma caixa de papelão, onde as coisas são postas dentro e fora, e nada acontece
E agora é hora de voltar para o mundo real, onde CICO e CRAP são inúteis quando se trata de ajudar os seres humanos – com sua bioquímica e fisiologia extremamente complexa, e que não são calorímetros – a perder gordura corporal.
Eu poderia escrever mais 10.000 palavras sobre este assunto, mas já que a parte 7 do que eu disse ser apenas 8 já está muito longa, eu vou resumir o básico e, em seguida, dar-lhe alguns dos meus recursos favoritos para explorar ainda mais as coisas:
Sabemos com certeza que nem todos os alimentos são 100% digeridos e assimilados pelo corpo. Ou seja, nós não absorvemos 100% das suas "calorias." Se você já teve um movimento intestinal e notou amêndoas inteiras, milho intacto, sementes de gergelim ou pedaços de folhas verdes em suas fezes, então essa é a prova ali mesmo. No caso do grão de milho, é bastante óbvio que quaisquer calorias são não foram absorvidas; atravessaram completamente inalteradas, pelo amor de Deus! Eu não estou sugerindo que um par de grãos de milho e sementes de gergelim aqui e ali seriam responsáveis por alguém ganhar ou perder dez quilos. Estou simplesmente fazendo o ponto que "calorias que entram" às vezes fazer coisas doidas – ou absolutamente nada – antes que se tornem "calorias que saem."
Também não podemos representar com precisão o papel da flora intestinal, nem da integridade do revestimento intestinal. Os micróbios que habitam nosso intestino extraem um pouco da energia dos alimentos que passam. Pessoas com doença celíaca grave podem comer e comer e comer (muitas "calorias que entram"), mas se passam metade do dia no banheiro, não estão absorvendo grande parte da energia que esses alimentos fornecem. (Muitas "calorias que saem."). Mas vamos lá, não é como se eles estivessem fazendo um triathlon e ganharam um gasto de calorias; aqueles "calorias" estão de passagem porque, devido a um revestimento intestinal danificado, o corpo não consegue absorvê-las. Diabéticos tipo 1 não-tratados são outra categoria de pessoas que podem comer quantidades aparentemente infinitas de alimentos e ainda perder peso. E não, não é porque estão comendo quantidades infinitas de alimentos e, ao mesmo tempo, realizando proezas sobre-humanas de atletismo. O ambiente hormonal dessas pessoas fica de um jeito que quase não podem ganhar peso, não importa o quanto eles comam. CICO, MEU C*. MINHA MARATONA ENORME, MALHAR DUAS VEZES POR DIA, MEU C*. (Desculpem a linguagem, gente. Esta é uma coisa muito pessoal para mim e mesmo com todo o conhecimento profissional que tenho sobre como tudo isso funciona, eu ainda fico com raiva – e inveja!! – que existem pessoas que comem muito mais do que eu e que se exercitam muito menos do que eu, mas que SÃO MAIS MAGRAS QUE EU. Às vezes me pega. Por favor, alguém, faça parar. Venho lutando contra essa m*rda desde que eu tinha doze anos.)
Além disso, o corpo humano não "queima calorias". O corpo usa a energia, sob a forma de ATP. O corpo não faz nada, energeticamente falando, com "calorias". Ele também não faz nada, energeticamente falando, com as gorduras, proteínas e carboidratos, nem mesmo com ácidos graxos, cetonas, aminoácidos e glicose. O corpo conhece apenas um tipo de moeda de energia, que é ATP. O combustível que alimenta tudo o que o corpo faz é ATP, não calorias.
O corpo usa ATP para tudo. Todos os processos acontecendo dentro do seu corpo – quer você saiba sobre eles ou não, se você puder sentir ou não, se você puder controlar ou não – estão usando ATP. Por exemplo: o bombeamento de sangue nos vasos sanguíneos, a expansão e contração dos pulmões, a elevação e abaixamento de suas pálpebras, e o movimento do alimento através de seu aparelho gastrointestinal. É isso mesmo: seu coração batendo, sua respiração pulmonar, os olhos piscando, e a digestão dos alimentos, todos requerem ATP. Nós normalmente não pensamos em qualquer uma dessas coisas quando pensamos em "queimar calorias", mas isso é o que estão fazendo. Estão usando energia. (E não, eu não acho que piscar mais os olhos seja um bom plano de perda de gordura.) Então, temos de reconhecer que "calorias que saem" é muito mais complexo do que o número de calorias que podem ser deliberadas para "queimar". É por isso que eu fico muito irritada quando ouço a frase "calorias que saem" tão casualmente, como se pudéssemos obter toneladas e toneladas de calorias saindo correndo alguns quilômetros. Não vai acontecer, pessoal. O exercício não queima nem perto das calorias que nós gostaríamos de pensar que perdemos.
Faça pela saúde, se você gosta. Mas não espere que seja o segredo para a perda de gordura. |
"Calorias que saem" certamente inclui a utilização ostensiva de energia, como na corrida, caminhada, ciclismo e outras atividades físicas que deliberadamente tomam tempo em nossas vidas. Mas também abrange os processos fisiológicos e bioquímicos acima mencionados, muitos dos quais não temos controle. Na verdade, a maioria da energia utilizada no corpo – isto é, as calorias queimadas, ou melhor, o ATP consumido – acontece através das reações bioquímicas acontecendo dentro de nós 24/7, em vez das míseras duzentas calorias – se forem tantas – queimadas durante um treino. (Como Dr. Aseem Malhotra, Professor Tim Noakes, e Stephen Phinney, PhD, explicaram ad nauseum, o exercício é ótimo para a saúde geral e bem-estar, mas é uma maneira muito pobre para perder gordura corporal.)
Que tal uma tireoide lenta? Sabemos, logo de cara, que isso reduz a taxa metabólica basal. Se a minha tireoide está lenta, por que eu deveria gastar três horas na academia todos os dias para "queimar" a mesma quantidade de calorias que meu amigo queima sentando a b*nda na frente da TV? Vamos dizer que ambos comem os mesmos alimentos – ou seja, iguais em "calorias que entram." Através de nada além da virtude de ter um termostato corporal definido em alguns graus mais elevado do que o meu, ele tem muito mais "calorias que saem", mesmo que faça muito MENOS exercício do que eu. Mais uma vez, eu vi isso várias vezez: pessoas que comem muito mais do que eu e se exercitam muito menos do que eu, e SÃO MAIS MAGRAS DO QUE EU. (Não, isso não significa que eles são mais saudáveis, mas quando foi que você ouviu um cara passar na rua e dizer: "Olhe para os triglicérides baixos dele!" Ou: "Uau, eu aposto que ela tem HDL ótimo." Quando estou desmoralizada e chorando em um trocador de shopping, a minha A1c 5.0 basicamente não traz conforto algum.)
Adivinha, pessoal?
Ainda é a insulina, estúpido.
E enquanto nós estamos nos CICO, gordura/carboidratos, comer-menos-exercitar-mais, permita-me abordar outra questão relacionada com a perda de gordura. Porque, lembre-se: a maioria de nós não está necessariamente preocupado com a perda de peso. O que estamos buscando é a perda de gordura. (Ou, se você já está no seu peso ideal, ou você está feliz com onde quer que seja que você esteja, então, o objetivo é manter essa perda de gordura e/ou prevenir o ganho de gordura, correto?) Então, por favor me digam, qual é o propósito de comer carboidratos, queimar carboidratos e reabastecer com carboidratos? Quando é que a gordura sequer entra nesta equação?
Se você comer 250 calorias de carboidratos e queimar 300 calorias de carboidratos, ainda não há nenhuma gordura sendo queimada. Sim, há uma lacuna de 50 calorias, mas está sendo preenchida por glicose, não gordura. Essa lacuna de combustível provavelmente veio de seu glicogênio muscular. E então você reabastece com uma barra de granola ou um pãozinho, ou uma tigela gigante de cereal. O ciclo não é nada além de carboidratos. Carboidratos que entram, carboidrato que saem e carboidratos que entram novamente.
Nota: Não ignoro que alguns esforços atléticos são mais glicolíticos que outros e que o desempenho físico em algumas atividades parece ser melhor quando o glicogênio muscular está cheio. Então, sim, há uma razão para a reposição de carboidratos sob as circunstâncias corretas. (Eu escrevi sobre isso antes.) De acordo com os especialistas, "Os ácidos graxos são a principal fonte de energia no músculo esquelético durante o repouso e exercício de leve intensidade. Assim que a intensidade do exercício aumenta, a oxidação da glicose supera oxidação dos ácidos graxos. "
Então, sim, a utilização de glicose é importante para tipos específicos de desempenho atlético. Mas quantas vezes nós tipicamente fazemos um atletismo de alta intensidade? Para a maioria de nós, é menos de uma hora por dia. (De alta intensidade significa que você não poderia fazê-lo durante todo o dia, não no pico de intensidade, de qualquer maneira.) Mesmo assim, vamos jogar o advogado do diabo e dizer, por algum motivo, você faz atletismo intenso por colossais quatro horas por dia. Em termos de melhoria da composição corporal – ou seja, perda de gordura (e talvez ganhar algum músculo) – o que é mais importante: as calorias que você "queima" durante essas quatro horas, ou como é o particionamento e uso de combustível no seu corpo nas outras vinte horas do dia? Se "ácidos graxos são a principal fonte de energia no músculo esquelético durante o repouso e exercício de intensidade leve" – que são as principais atividades com as quais estamos todos envolvidos quando não estamos malhando intensamente, então ainda é uma boa estratégia seguir uma dieta de baixa carga de insulina. (Com inclusão de carboidratos cronometrada corretamente com a finalidade de dirigir o desempenho atlético e não a perda de gordura.)
Se eu reorganizar as palavras da citação acima, temos o seguinte:
"À medida que a intensidade do exercício aumenta, a oxidação da glicose supera a oxidação dos ácidos graxos. [Mas] ácidos graxos são a principal fonte de energia no músculo esquelético durante o repouso e exercício de leve intensidade. "
Mesmo o corpo de uma pessoa resistente à insulina ainda usa alguma gordura como combustível em repouso e durante a atividade de baixa intensidade, mas quanto mais gordura iria utilizar – e quanto mais facilmente o corpo dessa pessoa acessaria a gordura – se o efeito bloqueador anti-lipolítico da insulina fosse removidos? Lembre-se: "calorias que saem" não é realizado apenas através de medidas deliberadas, como corrida e natação. Estamos usando "calorias que saem" – isto é, nós estamos usando energia (ATP) o tempo todo, constantemente, sem parar. O simples ato de estar vivo usa ATP. Você não tem ideia de quantos músculos posturais estão trabalhando para manter sua cabeça, pescoço, coluna e ombros eretos quando você está sentado em uma cadeira, sem fazer nada. Por que é que os corpos de algumas pessoas parecem querer usar mais gordura para estes processos ocultos e subvalorizados do que outros?
Eu não sei a resposta para isso. Eu suspeito que tem bastante a ver com hormônios e a insulina é apenas um de uma longa lista de hormônios que afetam a separação do combustível e o uso de "calorias". Mas aqui está o que eu sei: A medida em que qualquer um de nós pode deliberadamente induzir um déficit calórico através de comer muito menos e se mover muito mais tem muito menos impacto sobre a nossa composição corporal do que os processos bioquímicos sobre os quais temos praticamente nenhum controle. (Na verdade, se nós fazemos esse déficit do jeito errado, corremos o risco de perder nossa valiosa massa muscular que, ao longo do tempo, vai diminuir a nossa taxa metabólica de repouso, tornando o problema do ganho de gordura ainda pior do que quando começamos.)
P. S.: Agora que eu escrevi mais do que ninguém nunca se preocupou em ler sobre isso, no caso de existirem alguns masoquistas por aí que gostariam de um pouco mais de informações sobre por que essa m*rda de CICO é, bem, m*rda (não 100% , mas, pelo menos, 94,6% [p <0,001]), eu recomendo ouvir o podcast e ler a série de blog a seguir:
- Podcast do Sigma Nutrition da entrevista com Bill Lagakos, PhD. EXCELENTE MATERIAL sobre este absurdo de calorias. Preste atenção quando ele fala sobre os efeitos bioquímicos de consumir salmão versus arroz. (Muitos de vocês provavelmente conhecem o Bill de seu blog, Calories Proper (calorias adequadas). Se não conhece, ele é impressionante Esteja avisado, no entanto: Se o meu blog é simples explicação de leigo em bioquímica e fisiologia, então o dele é para experts.)
- Não existe algo como uma "Caloria" no seu corpo: Esta é uma série de 8 partes, por J. Stanton, e é absolutamente brilhante. (Ele escreve muito mais sucintamente do que eu, então são 8 partes bem mais curtas). A série é ótima para um dia chuvoso, quando você está procurando algo para deixar o seu cérebro em chamas. (De uma boa maneira.)
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