
Entre as minhas personagens prediletas está o capanga, infelizmente sem nome, de Severino de Aracaju (Marco Nanini). Interpretado por Enrique Diaz, o capanga era o cangaceiro que “Não gostava de fazer tal coisa. Fazia, mas não gostava”. É uma frase que adotei desde que assisti a mini-série, juntamente com “não sei, só sei que foi assim” (Chicó) e “ai,fome danada; ai, fome sem jeito” (João Grilo).
Pois bem, há mais ou menos 2 meses, eu esbarrei com o vídeo abaixo. Nele, cinegrafistas flagraram um veado comendo um filhote de passarinho. Vivo, cru e sem sal.
A única coisa que impede herbívoros de comerem carne, é que eles são péssimos caçadores. Eles vão comer carne se a encontrarem, e não cospem fora os insetos e vermes que mastigam junto com a vegetação que comem.
Ilustrando o artigo, tinha a foto singela de um veado mastigando um coelho morto.
Mas um biólogo chamado Reg Rothwell acredita que a hipótese da deficiência de minerais não é bem assim. Em seus estudos a respeito do comportamento alimentar de veados e alces, Reg diz acreditar que o veado do vídeo simplesmente tomou proveito de uma fonte fácil de proteínas. É muito mais simples comer um passarinho que está dando bobeira, do que ficar horas e horas pastando – bem alinhado ao comentário do Quora.
Pam Pietz, outra bióloga americana, disse que alguns animais tidos como herbívoros na verdade são onívoros e vão se aproveitar de qualquer oportunidade.
Se eles acharem um ninho no qual a comida não se mova ou fuja, tiram proveito.
Isso tudo me lembrou a lenda grega das “Éguas de Diomedes“, que representa o oitavo trabalho de Hércules. A lenda diz que o Diomedes, rei da Trácia, alimentou 4 éguas com carne humana desde que eram potrinhas – e obteve assim animais extremamente fortes (conseguiam até cuspir fogo, em algumas versões do causo) e que adoravam petiscar gente. Hércules, é claro, acabou com a bandalheira e serviu o próprio Diomedes de papinha para elas.
Parece-me uma estratégia evolutiva bastante esperta: qualquer produto de origem animal será sempre mais nutritivo, grama por grama, que um de origem vegetal. Se o seu sistema digestivo é capaz de processá-lo, por que não comer ?
Considerações éticas e/ou espirituais à parte, nutricionalmente não tem conversa.