Vitamina A e o mito do betacaroteno
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Phil Maffetone
A vitamina A foi descoberta inicialmente na gordura da manteiga e no óleo de fígado de bacalhau, em 1913. Embora esses alimentos ainda sejam grandes fontes desse nutriente vital, frutas e verduras não tem nem um pouco. Muitos ficam surpresos com isso: é uma das razões pelas quais milhões de pessoas não ingerem vitamina A suficiente. O resultado é performance humana reduzida, envelhecimento com pouca saúde e problemas em virtualmente todas as áras do corpo.
Há 3 razões-chaves pelas quais tantas pessoas não conseguem vitamina A suficiente.
Primeiro, a vitamina A só é encontrada em alimentos de origem animal. É um mito que alimentos vegetais são ricos nesse micronutriente. ao invés, frutas e vegetais são ricas em uma família de fitonutrientes chamados carotenóides. O corpo precisa converter 3 desses compostos – betacaroteno, alfacaroteno e betacriptoxantina – em vitamina A. mas em humanos, essa conversão é bastante ineficinete, sendo necessário algo entre 10 e 20 moléculas de carotenóides para fabricar 1 molécula de vitamina A. Além disso, 80% ou mais da vitamina A oriunda de alimentos animais é absorvida, mas apenas 3% ou menos dos carotenóides vindos de vegetais são absorvidos.
Segundo, há uma variedade de fatores genéticos, polimorfismos similares àqueles descritos para os folatos – conforme descrito no artigo "A conspiração do folato" –, que podem prejudicar significativamente a habilidade do corpo de converter os carotenóides em vitamina A. Esse problema genético pode existir em até 50% da população. Sua presença parece estar associada com altos níveis séricos de alfacaroteno, betacaroteno e betacriptoxantina, e baixos níveis de licopeno, luteína e zeaxantina – três outros carotenóides importantes para a saúde, mas que não são convertidos em vitamina A.
Terceiro, em indivíduos saudáveis, a vitamina A é continuamente usada para muitas funções no corpo, como notado abaixo. A maior parte da vitamina A é armazenada no fígado, e cerca de 5% dela é usado a cada dia, precisando então ser substituída por fontes dietéticas suficientes.
Por causa desses três fatores importantes, nós precisamos obter nossa vitamina A a partir de fontes animais para evitar o risco de baixos níveis. As melhores fontes são as carnes, incluíndo fígado (de boi, frango e peru), laticínios (especialmente queijo e manteiga) e gemas de ovos. É óbvio que isso significa comer comidas saudáveis, orgânicas, ou no mínimo comida de verdade. De outra forma, suplementos de óleo de fígado de bacalhau são os melhores.
Vitamina A não é um único nutriente, mas na prática um grupo de compostos chamados retinóis, dos quais muitas formas existem na natureza e no corpo. Cada forma de vitamina A desempenha funções que as outras não podem. Por exemplo, retinol é a principal forma de transporte e armazenamento de vitamina A; retinal é essencial para a visão; e ácido retinóico tem ações hormonais e regula mais de 500 genes.
Além da conversão ruim de carotenóides em vitamina A, dois fatores importantes também são necessários para que o corpo obtenha suas vitaminas de fontes vegetais. Boa função digestiva, especialmente no estômago, vesícula, fígado e intestino delgado, é necessária para absorção ótima. Enquanto a vitamina A é encontrada em alimentos contendo gordura, os carotenóides frequentemente não são, fazendo com que a adição de gordura na refeição seja importante para sua absorção. A conversão de carotenóides acontece no intestino delgado (e um pouco no fígado e rins), primeiramente para a forma retinol. Esse processo requer outros nutrientes incluindo riboflavina, niacina, ferro, zinco e proteína suficiente.
As leis de rotulagem continuam a permitir o mito de que betacaroteno é o mesmo que vitamina A. leia qualquer rótulo de um produto de origem vegetal, e ele lista a quantidade de vitamina A. O mesmo acontece para suplementos – a maioria dos quais não contém qualquer vitamina A, ainda que seja rotulado assim (exceto aqueles contendo vitamina A sintética, a forma mais comum usada tanto na fortificação quanto na suplementação). O que o rótulo realmente refere-se é à vitamina A equivalente sob circunstâncias ideais. Por exemplo, para obter 1mcg (micrograma) de vitamina A sob forma de retinol, são necessários 10mcg de betacaroteno e 20mcg de alfacaroteno ou betacriptoxantina. Entretanto, para propósitos de rotulagem, os suplementos dietéticos podem afirmar que para obter 1mcg de vitamina A, apenas 2mcg de betacaroteno são requeridos – assumem que o comprimido vai ser tomado de estômago vazio, sem que qualquer alimento seja consumido logo depois, e que a sua digestão e absorção sejam ideais.
Sinais e sintomas de insuficiência de vitamina A são muitos. Abaixo estão os 20 mais comuns. Quantos você tem ?
- Exposição aumentada à luz solar
- Imunidade reduzida
- Infecções recorrentes, especialmente virais e fúngicas
- Problemas intestinais crônicos
- Disfunção hepática
- Visão ruim à noite
- Mulher em idade reprodutiva
- Dieta low-fat
- Dieta vegetariana
- Degeneração macular
- Pele seca
- Cabelo seco
- Membranas secas
- Unhas fracas ou rugosas
- Inflamação crônica
- Alergias ou asma
- Ossos ou dentes fracos
- Dificuldade em manter os níveis de vitamina D
- Gordura corporal excessiva
- Histórico de câncer
Além da acne, psoríase e umas poucas outras condições, a maioria da pesquisa feita sobre vitamina A está relacionada ao câncer. Estudos mostram que comer alimentos ricos em vitamina A, não em carotenóides, está ligado a um risco menor de câncer, enquanto outros demonstram que vitamina A também pode evitar que células normais tornem-se cancerosas. Outros mostram que esse nutriente pode desacelearr o crescimento tumoral, reduzir tumores e fazer com que alguns tratamentos contra câncer funcionem melhor.
A relação entre melhor função cerebral e vitamina A também é muito importante, com muitos clínicos usando o nutriente em adultos e crianças com uma ampla gama de déficits neurológicos – incluindo aqueles com problemas de aprendizado e memória.
A recomendação diária (RDA) de vitamina A está entre 2310 UI (0.7mg) por dia para mulheres adultas (mais para mulheres grávidas ou amamentando) e 3000 UI (0.9mg) por dia para homens, com crianças precisando de menos. (Vitamina A ainda é listada nos rótulos de alimentos e suplementos em unidades internacionais (UI), ainda que os cientistas raramente usem tal medida).
Testes sanguíneos para vitamina A sob forma de retinol, e mesmo para níveis de carotenóides, são tipicamente feitos em exames comuns. Entretanto, o valor do exame de sangue para avaliar o verdadeiro estado da vitamina A é limitado porque esse nutriente não reduz-se no corpo até que os níveis no fígado estejam quase esgotados.
A melhor fonte de vitamina A é o óleo de fígado de bacalhau. Mas se você está tomando altas doses de vitamina D devido a deficiências (tais como 5000-10000 UI ou mais), tome sua dose de vitamina A pela manhã e a dose de D à tarde (ou o inverso), pois a vitamina D pode reduzir a absorção de vitamina A.
Baixa ingestão de carotenóides está associada com saúde ruim, em particular doença crônica e incapacitante. Então continue a comer suas 10 porções de frutas e vegetais – estudos mostram que consumí-los protege contra o declínio na performance física e ajuda na mortalidade por todas as causas. Mas pense nos carotenóides e na vitamina A como dois grupos separados de nutrientes. E não confie no betacaroteno ou outros fitonutrientes para prover níveis adequados de vitamina A. Consiga-a de alimentos de origem animal, ou suplementos feitos a partir de animais, incluindo óleo de fígado de bacalhau.
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