Mais sobre abandonar o low-fat
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Michael Shaw
O artigo da última semana deu um pouco da perspectiva histórica de como a elite pôde permanecer tão errada por tanto tempo, quando o assunto é nutrição. Também incluiu um comentário do Representante Collin Peterson (Democrata do Estado do Maine), na recente audiência do Comitê de Agricultura da Câmara sobre as Diretrizes Dietéticas para os americanos, edição 2015: "Eu só quero que vocês compreendam que a maioria dos meus eleitores não acredita mais nesse negócio. Vocês perderam sua credibilidade junto a um monte de gente, elas agora simplesmente ignoram o que vocês dizem".
Durante a mesma audiência, e referindo-se à epidemia de obesidade, o Representante Dan Newhouse (Republicano do Estado de Washington) perguntou ao Secretário de Agricultura Tom Vilsack: "Os americanos estão mais saudáveis ou menos saudáveis desde que as diretrizes foram publicadas, e portanto elas falharam de alguma maneira ?"
A audiência do Congresso foi direcionada principamente o documento de 571 páginas, publicado em fevereiro/2015, chamado "Relatório Científico do Comitê Conselheiro para as Diretrizes Dietéticas 2015". Esse relatório tem uma influência grande sobre as diretrizes em si – elas serão publicadas antes do fim do ano. O relatório gerou incríveis 29.000 comentários públicos, muito mais do que os 8.000 surgidos durante a versão 2010 do Comitê.
Talvez a crítica mais detalhada – para não dizer ferrenha – do relatório tenha sido feita por Nina Teicholz, autora do best-seller The Big Fat Surprise. Eis aqui um comentário sobre esse livro bastante aclamado:
"A jornalista investigativa Nina Teicholz revela o inimaginável: que tudo o que achávamos que sabíamos sobre a gordura na dieta, está errado. Ela documenta como os últimos 60 anos de aconselhamentos para uma nutrição pobre em gorduras resultaram num enorme experimento descontrolado para toda a população, com consequências desastrosas para nossa saúde".
"Por décadas, nos disseram que a melhor dieta possível envolve reduzir a gordura, especialmente a saturada, e que se não estamos ficando mais magros ou mais saudáveis deve ser porque não estamos tentando o suficiente. Mas e se a dieta pobre em gorduras for em si, o problema ? E se exatamente as comidas que temos negado a nós mesmos – os queijos cremosos e os bifes fumegando – sejam a chave para reverter a epidemia de obesidade, diabetes e doença cardíaca ?"
Trabalhando com um pequeno financiamento da Fundação Laura e John Arnold, Teicholz publicou "Uma revisão crítica da ciência para as recomendações-chave no relatório 2015 do Comitê Conselheiro para as Diretrizes Dietéticas" em 20 de setembro de 2015. Uma versão resumida apareceu poucos dias depois no BMJ. Alguns pontos centrais:
- O Comitê Conselheiro (DGAC) admite que a sua dieta recomendada falha em prover quantidades adequadas de um número de vitaminas e nutrientes essencials incluindo potássio, vitaminas D e E
- Apesar de o relatório parecer favorecer os grãos integrais, ele ainda recomenda 3 porções diárias de grãos refinados – apesar de reconhecer que carboidratos refinados pioram certos fatores de risco para doença cardíaca
- O DGAC ainda está preso à idéia fixa da relação entre gordura saturada e doença cardíaca, e ignora propositalmente as evidências mais recentes que apontam o contrário. Na prática, ele ainda recomenda uma dieta pobre em gordura
- O DGAC desaprova dietas low-carb, e ignora o número enorme de evidências em favor destas. Teicholz provê 141 referências
- Para sua revisão da literatura relevante, o DGAC delegou a entidades externas 63% do trabalho. Em muitos casos, essas entidades eram associações comerciais ou indivíduos diretamente financiados pela indústria
- Inexplicavelmente, os membros do DGAC não são obrigados a revelar potenciais conflitos de interesse. Um membro recebeu financiamento da indústria de castanhas, e dois foram financiados por companhias de óleos vegetais – cujos produtos (óleos vegetais poliinsaturados) são promovidos pelo relatório. O presidente do DGAC, não-acadêmico, é presidente de uma empresa que diretamente beneficia-se das posições do DGAC e da ortodoxia dietética em geral.
Teicholz assiduamente documenta esses pontos e mais. E ainda assim, há algumas vozes que expressam discordância.
Uma, é claro, é o próprio DGAC. Em essência, ele nega as alegações de Teicholz mas oferece bases factuais escassas e categoriza a sua crítica como nada mais que um esforço para aumentar as vendas dos seus livros. Aparentemente, Miriam Nelson, membro do comitê, não tem qualquer interesse em vender sua própria série de 10 populares livros. O DGAC parece inconsciente da sua mentalidade "câmara de ecos", e agarra-se à noção pueril de que nenhum processo de verificação poderia ir além do viés inerente à ortodoxia institucional.
Outro é o inapropriadamente chamado Centro para a Ciência em Interesse Público (CSPI). Para atacar Teicholz, o CSPI recorre à autoridade: "O aconselhamento do DGAC é consistente com os aconselhamentos de virtualmente cada uma das grandes autoridades em saúde, incluindo a Associação Americana de Cardiologia, o Colégiado Americano de Cardiologia, a Associação Americana do Diabetes, a Sociedade Americana do Câncer, a Organização Mundial da Saúde e a Sociedade da Obesidade".
Ei, pessoal! Se a obesidade estivesse se reduzindo, talvez vocês pudessem invocar esses grupos patéticos que servem a associações comerciais. É apenas uma coincidência que a obesidade começou a ser um problema enorme no mesmo ano que as primeiras diretrizes foram publicadas (1980) ? Vocês continuariam a citar como "especialista" o Secretário do Tesouro Andrew Mellon, que poucas semanas antes da quebra da bolsa de 1929, afirmou que "não havia motivo para preocupações e que a maré alta prosperidade continuaria" ?
Finalmente, precisa ser dito que não há amor entre CSPI e Teicholz, já que ela apontou o chefe do Centro, Michael Jacobson, como sendo instrumental na promoção das gorduras trans – supostamente um substituto para as malvadas gorduras saturadas.
Dados 35 anos de fracasso épico, talvez seja o momento de concordar com o Representante Peterson, e simplesmente ignorar o Comitê completamente.
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