Uma única série de antibióticos pode bagunçar o microbioma intestinal por até 1 ano
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Beth Mole
Em uma batalha contra uma infecção antibióticos podem trazer a vitória sobre germes inimigos. Ainda assim, essa ajuda decisva pode vir com danos colaterais significativos; micróbios aliados e inocentes são mortos também. Tais matanças podem ser inevitáveis em alguns casos, mas muitas pessoas tomam antibióticos quando não são necessários ou apropriados. E o preço que é cobrado sobre uma microbiota saudável pode, em alguns casos, ser alto – é o que um novo estudo sugere.
Em dois estudos randomizados, controlados por placebo, com pessoas saudáveis, uma única série de antibióticos dada por via oral alterou a composição e a diversidade da microbiota intestinal por meses, e em alguns casos por até 1 ano. Tais mudanças poderiam abrir caminho para patógenos, inclusive o mortal Clostridium difficile. Essas mudanças na comunidade também pode alterar a atividade da microbiota, incluindo a interação com o sistema imune e a ajuda com a digestão. No geral os dados, publicados terça-feira no periódico mBio, sugerem que antibióticos podem ter mais efeitos colaterais que previamente se imaginava – ao menos sobre o intestino.
Na boca, por outro lado, os pesquisadores descobriram que as comunidades microbianas se saíram muito melhor, recuperando-se semanas após o tratamento com antibióticos. A descoberta levanta a questão de por que o microbioma oral é menos perturbado por medicamentos. Poderia ser simplesmente por causa da maneira que os antibióticos, tomados oralmente, circulam pelo corpo. Ou poderia implicar que microbiomas orais são intrinsecamente mais resilientes, uma qualidade que seria útil replicar nas comunidades microbianas do resto do corpo.
Os estudos conjuntos, liderados por Egija Zaura na Universidade de Amsterdã, acompanharam 66 participantes saudáveis, 29 na Suécia e 37 no Reino Unido. Em cada localidade, os participantes foram aleatoriamente organizados em grupos placebo ou um de dois grupos que receberam antibióticos. Os dois antibióticos dados estudo sueco foram uma lincosamida (clindamicina) e uma quinolona (ciprofloxacina). O estudo do Reino Unido incluiu uma tetraciclina (minociclina) e uma penicilina (amoxicilina).
Os pesquisadores sequenciaram os micróbios da saliva e fezes de cada pessoa antes e imediatamente depois de receberem uma série das drogas. Então os pesquisadores acopanharam com amostragens de 1, 2, 4 e 12 meses.
A diversidade microbiana foi significativamente alterada por todos os 4 tipos de antibióticos, e isso durou por meses. Em participantes que tomaram ciprofloxacina, a diversidade microbiana foi alterada por até 12 meses. Os tratamentos com antibióticos também causaram um pico nos genes associados com resistência às drogas. Por último, os pesquisadores notaram que a clindamicina matava micróbios que produzem butirato, um ácido graxo de cadeia curta que inibe a inflamação, carcinogênese e estresse oxidativo no intestino.
O microbioma oral passou por alguma mudança na diversidade. Mas as comunidades surpreendentemente recuperaram-se em curto prazo – em alguns casos, uma semana – reportam os autores. E a quantidade de genes associados com resistência a antibióticos manteve-se em geral estável antes e depois do tratamento com as drogas.
Os autores especulam que a resiliência do microbioma oral pode estar ligada aos distúrbios constantes, tais como escovação dos dentes e mudanças na umidade e qualidade do ar.
mBio, 2015. DOI: 10.1128/mBio.01693-15 (About DOIs).
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