Os diabéticos estão recebendo aconselhamento nutricional que torna seus problemas PIORES ?

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Jane Feinmann

Há mais de 3 milhões de pessoas nesse país vivendo com diabetes tipo 2, e mais 5 milhões em risco de desenvolver a doença. O Diabetes UK (N.T.: órgão inglês para conscientização e combate ao diabetes) já alertou que o custo de tratar os pacientes pode "falir o NHS" (N.T.: NHS é o "SUS" da Inglaterra). Na segunda parte da nossa série, revelamos o pensamento mais recente sobre como gerenciar essa condição complexa.

Quando Sarah Gibbs, mãe de 3, foi diagnosticada com diabetes tipo 2 em maio de 2014, uma enfermeira disse a ela que seus níveis de açúcar no sangue estavam muito altos; deu a ela uma prescrição de medicamnto para ajudar a reduzí-los – "e isso foi tudo".

Sarah, 42 anos, de Newport, foi para casa, leu sobre as complicações que provavelmente sofreria se não pudesse controlar a glicemia, e entrou em pânico. "Senti como se minha vida tivesse acabado", diz ela.



Diariamente, 400 pessoas na Inglaterra recebem o diagnóstico de diabetes tipo 2 – uma desordem na qual os níveis de açúcar no sangue tornam-se perigosamente altos a menos que sejam controlados efetivamente.

Para os 3.3 milhões de pessoas no país diagnosticadas com diabetes, descobrir como levar a vida com a condição pode ser difícil e, como Sarah sentiu, entender errado pode ter implicações desastrosas.

2 em cada 3 pessoas diagnosticadas com diabetes tipo 2 não conseguem manter sua glicemia nos limites saudáveis, de acordo com estatísticas publicadas pelo Diabetes UK mês passado. É um resultado direto disso que 200.000 pessoas a cada ano desenvolvam complicações sérias, ligadas ao diabetes: falha renal e cardíaca, dano nervoso, cegueira, infarto e derrame.

Como é que se controla a glicemia, e por que tantas pessoas estão fazendo errado ?

Medicação pode ajudar, mas um número crescente de pesquisas indica que a maneira mais eficiente para as pessoas manterem a desordem sob controle é perder peso fazendo alterações na dieta, e tornarem-se mais ativaas. Ainda assim, como Sarah descobriu, muitos não recebem o direcionamento que precisam. A necessidade urgente disso é endossada por novas estatísticas de saúde pública da Inglaterra, mostrando que 8 em 10 pessoas com diabetes tipo 2 no país são obesas (ou seja, IMC >= 30) e têm níveis insalubres de inatividade.

Além disso há evidência de que, longe de ajudar, o aconselhamento mais frequentemente oferecido sobre dieta pode na prática estar tornando mais difícil aos diabéticos tipo 2 manterem a doença sob controle.

O diabetes tipo 2 normalmente ocorre quando a gordura toma o fígado – que regula o suprimento de glicose para alimentar o corpo – e o pâncreas, a pequena glândula atrás do estômago que produz o hormônio insulina – que direciona a glicose do sangue para as células.

Mas essa gordura pode ser eliminada, permitindo que a produção normal de insulina seja retomada, ao perder cerca de 15% do peso corporal. Isso significa que os níveis de glicemia voltam ao normal imediatamente, um efeito que dura no minimo 2 anos.

"Nós agora sabemos que uma vez que as pessoas com diabetes tipo 2 percam peso com sucesso e fiquem abaixo do limiar pessoal de gordura, o diabetes vai desaparecer", explica o Prof. Roy Taylor, da Universidade Newcastle.

"Esse conhecimento vale ouro para muitas pessoas com diabetes tipo 2. Se eu tivesse a condição, faria isso", ele diz.

As diretrizes do Instituto Nacional de Excelência em cuidados de Saúde (NICE), parte do NHS, recomendam a perda de 10% do peso corporal. mas o aconselhamento dietético sobre como fazer isso pode causar mais mal que bem, dizem alguns especialistas. De acordo com o NICE, qualquer um com diabetes tipo 2 deveria ser encorajado a comer "uma dieta saudável e balanceada que é aplicável à população em geral" – em outras palavras, refeições contendo um equilíbrio entre proteínas, vegetais e crucialmente, cheias de carboidratos amiláceos incluindo pão, arroz e massa.

Entretanto, alguns especialistas agora insistem que tal dieta pode na prática contribuir com o diabetes tipo 2.

"Sabemos que o diabetes tipo 2 desenvolve-se quando a glicemia sobe além de um certo nível – e se é açúcar, arroz, pão ou batata, esses carboidratos rapidamente transformam-se em glicose na sua corrente sanguínea e deveriam ser evitados", diz o Dr. David Cavan, médico ex-consultor do Centro de Diabetes e Endocrinologia Bournemouth, atual diretor de Políticas e Programas da IDF (Federação Internacional do Diabetes) e autor de "Reverta seu diabetes".

Não é apenas o NICE que diz que os diabéticos tipo 2 podem continuar a comer carboidratos ou comidas açucaradas. O Diabetes UK garante aos visitantes do seu website que ter diabetes "não significa que você precise cortar o açúcar inteiramente da sua dieta. Nós todos gostamos de comer comidas açucaradas ocasionalmente, e não há problemas em incluí-las como guloseima em uma dieta saudável balanceada".

Entretanto, o Dr. Aseem Malhotra, consultor clínico associado da Academia de Colegiados Reais, mês passado desafiou a instituição a explicar o motivo dela continuar a recomendar "carboidratos que sabidamente promovem a estocagem de gordura e a fome" ao grupo de pessoas que mais urgentemente precisa perder peso.

Ele disse: "Dado que o diabetes tipo 2 é uma condição relacionada a uma intolerância no metabolismo de carboidratos, é confuso o motivo do Diabetes UK recomendar como parte de 'uma dieta saudável balanceada' o consumo de bastante carboidrato amiláceo e quantidades modestas de comidas e bebidas açúcaradas incluindo bolos e biscoitos".

A melhor intervenção de longo prazo para o diabetes tipo 2, diz o Dr. Cavan, é restringir os carboidratos ao cortar o açúcar e o amido e substituí-los por vegetais não-amiláceos (folhas), com algumas comidas gordurosas como queijo e iogurte integral sem açúcar, juntamente com proteínas caloricamente densas.

Nigel Fowler é uma prova viva dos benefícios dessa abordagem. Agora com 44 anos, ele foi diagnosticado com diabetes tipo 2 em novembro/2014 e sua glicemia estava tão alta que precisava de 6 injeções de insulina por dia. Mesmo isso não evitava que sua glicose variasse caoticamente, e ele diz: "Eu não recebi qualquer aconselhamento sobre dieta da enfermeira que me ensinou a me injetar, exceto que eu devia continuar como sempre".

"No meu caso, isso significava 4 barrinhas de cereal integral no café da manhã, diversos sanduíches durante o dia e geralmente uma torta doce à tarde".

Ao invés de aconselhá-lo a mudar sua dieta, a enfermeira acrescentou o bolo ao cálculo, para decidir quanto de insulina ele deveria tomar.

"Isso efetivamente significava que eu tinha que comer o bolo – ou correr o risco de ter hipoglicemia. Era como ter a minha cabeça acertada com um martelo, e depois tomar analgésicos para a dor".

Em março desse ano, Nigel leu um artigo discutindo novas evidências sobre o benefício à saúde das dietas LCHF, e decidiu reduzir a quantidade de alimentos ricos em amido e açúcar na sua dieta – cortando o pão e bolos, e trocando o cereal matinal por frutas vermelhas e creme de leite.

"Uau! Que diferença", ele diz. Já perdeu 6.5kg desde março – mas diz que a real diferença é "o fim do efeito ioiô na glicemia. Eu perdi um pouco da gordura abdominal e no geral me sinto mais saudável e feliz".

É uma abordagem que vem ganhando popularidade. Cerca de 280.000 pessoas agora trocam dicas no fórum online do Diabetes UK sobre como controlar a doença com uma dieta low-carb. Ler suas histórias levou David Unwin, médico de Southport, a mudar fundamentalmente a maneira como ele abordava o diabetes com seus pacientes.

Ano passado, o jornal Diabetologia publicou um estudo de 19 pacientes com diabetes tipo 2 aos cuidados do Dr. Unwin, que perderam uma média de 8.65kg ao longo de 7 meses com dietas LCHF – reduzindo sua glicemia em quase 25%.

Esse ano, o Dr. Unwin vai publicar um outro estudo com 69 pacientes com esteatose hepática (um precursor do diabetes tipo 2 e de doença cardíaca), mostrando uma melhora de 46% em testes de enzimas hepáticas, e por conseguinte um risco reduzido de níveis glicêmicos após uma média de 13 meses em dieta LCHF.

Outra alternativa é uma dieta muito pobre em calorias (VLCD). Isso foi testado em um estudo inovador por cientistas da Universidade Newcastle, e publicado em 2011 no jornal Diabetologia. Todos os 11 pacientes do estudo reverteram o diabetes tipo 2 após uma dieta de 8 semanas de 600 calorias/dia, sob forma de sachês de sopa e shakes contendo vitaminas e minerais essenciais.

E ainda não-disponível na NHS, um estudo de 5 anos em andamento, financiado pelo Diabetes UK, para testar se as pessoas podem passar por tal dieta sob supervisão de seus médicos, de maneira segura e efetiva. Um fator-chave é que os praticantes de dieta precisam parar sua medicação anti-diabética antes de começarem a VLCD, porque a combinação das drogas e da dieta pode fazer com que seus níveis glicêmicos caiam a níveis perigosamente baixos.

Apesar da importância clara da dieta para o diabetes tipo 2, qualquer um que sinta que precise de aconselhamentos sobre peso e estilo de vida deve pedir por eles – não presuma que te serão oferecidos. Enquanto alguns méidcos e suas enfermeiras especialistas em diabetes são muito bons em discutir isso com seus pacientes, o Dr. Unwin diz que outros podem sentir que mencionar os problemas de peso, mesmo obesidade, é personal demais e até mesmo rude.

"Até mutio recentemente, eu tinha a abordagem típica para tratar um paciente recém-diagnosticado com diabetes tipo 2", ele diz. "Eu alertava os pacientes de que se eles não pudessem controlar sua glicemia com a dieta, teriam que fazê-lo com drogas. Sobre como perder peso, não era minha área e então eu os mandava a um nutricionista".

"Ainda assim, acredito que um médico bem-informado e motivado pode realmente ajudar as pessoas a controlarem seu peso e mudarem suas vidas".

O motivo dos medicamentos do NHS poderem não funcionar


Quando a condição não pode ser controlada somente por mudanças no estilo de vida, a primeira droga que se oferece a alguém com diabetes tipo 2 é geralmente a metformina. Essas pílulas reduzem a quantidade de glicose liberada pelo fígado e deixam as células do corpo mais sensíveis à insulina.

E ainda assim, para algumas pessoas a droga não funciona ou não é tolerada, e é necessária medicação adicional para manter a glicemia estável.

Há algumas alternativas efetivas que impedem as hipoglicemias e ganho de peso. Juntas, essas medidas melhoram o controle do diabetes o risco de complicações no longo prazo, diz Tony Barnett – professor emérito de medicina da Universidade de Birmingham e do Heart of England NHS Foundation Trust.



Dados recentemente publicados mostram que a droga injetável liraglutida, que aumenta a quantidade de insulina produzida pelo corpo, pode ajudar pessoas com diabetes tipo 2 a perder uma média de 6% do peso corporal em 56 semaans – bem como a controlar os níveis de glicose e a reduzir o risco de hipoglicemias.

Ainda assim, as diretrizes do NICE recomendam drogas mais antigas como sulfoniluréias, repaglinida e pioglitazona – que podem causar ganho de peso, hipoglicemia e outros efeitos colaterais desagradáveis.

"O custo dessas drogas mais antigas fica entre 1 e 3 libras por mês, comparado aos 30-35 libras/mês para as drogas mais novas", diz o Professor Roger Gadsby da Escola Médica de Warwick.

"Se os médicos prescreverem as novas drogas para cada novo paciente de diabetes, a conta dos medicamentos só para essa doença poderia aumentar em 250 milhões de libras por ano".

O kit "faça você mesmo" que me pôs no prumo



Um glicosímetro é um aparelho que você pode usar para chegar o açúcar no seu sangue sempre que quiser. Há diversos tipos, custando menos de R$60, disponíveis em farmácias.

Você testa uma pequena gota de sangue obtida furando a pele com uma pequena lâmina e colocando-a numa tira descartável que é então inserida no medidor.

Medir sua própria glicemia é "uma das principais habilidades do gerenciamento bem-sucedido do diabetes", de acordo com a comunidade online de diabetes. Até que tivesse começado a usar um glicosímetro, Marie Nimmo, trabalhadora da área de saúde de 50 anos, não era capaz de conseguir níveis glicêmicos saudáveis e de superar os sintomas de fadiga e confusão.

Diagnosticada em abril/2013, ela sentia-se "podre" – até 3 meses depois do diagnóstico, quando descobriu o fórum do www.diabetes.co.uk e viu que "a maioria dos membros monitorava o impacto de refeições ricas em carboidrato e da atividade física sobre a sua glicemia, diariamente".

Ela comprou um medidor e faixas de teste, e começou a testar sua glicemia antes e depois das refeições. "Ele me deu uma idéia mais clara do impacto daquilo que eu comia e dos diferentes tipo de atividade", diz.

Como resultado, ela eliminou o pão, massa, batatas e arroz, comprou uma bicicleta ergométrica usada e perdeu 12.7kg (ela agora pesa 70kg, em 1.70m).

"O mais importante, minha glicemia está normal. Eu não sou santa – como guloseimas como todo mundo. Se como 2 fatias de bolo, como fiz no meu 50 aniversário semana passada, vou queimar o resto da glicose ao invés de ficar com sudorese e irritada porque meu pobre pâncreas está tendo que trabalhar demais", ela diz.

Ficar de pé pode ser melhor que ir à academia ?



Mudança dietética é chave para controlar ou reverter o diabetes tipo 2 – mas não vai funcionar para qualquer um que continue com uma vida sedentária.

E isso inclui pessoas que exercitam-se vigorosamente antes de se esparramarem na frente do computador ou da TV.

Uma revisão de 47 estudos, publicada nos Anais de Medicina Interna esse ano, revelou que sentar-se por mais de 8h diárias aumenta o risco de diabetes tipo 2 em 90%. E enquanto há algum benefício no exercício vigoroso, não é o suficiente para cancelar o risco de sentar-se por horas sem fim.

"Precisamos fazer algo quando não estamos nos exercitando. Precisamos achar desculpas para ficar de pé e nos movermos um bocado", diz o Dr. Aviroop Biswas do Instituto de Reabilitação de Toronto, Canadá, que conduziu a revisão.

Ele diz: tome as escadas, não o elevador; ande até a loja ao invés de ir de carro; carregue as compras ao invés de usar um carrinho.

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