Gary Taubes sobre fusão a frio, boa nutrição e o que faz a má e a boa ciência

Artigo traduzido por Roberta Monteiro. O original está aqui.





por Anthony Wile

Introdução: O Sr. Taubes é o autor de vários de livros bem-recebidos incluindo "Good Calories, Bad Calories: Challenging the Conventional Wisdom on Diet, Weight Control and Disease" (Knopf, 2007). Taubes estudou Física Aplicada em Harvard como universitário e tem mestrado em Engenharia pela Universidade de Stanford (1978) e em Jornalismo pela Universidade de Columbia (1981). Ele começou a escrever e fazer relatórios sobre ciência e medicina para a revista Discover em 1982. Como jornalista free-lancer escreveu para a Science, onde foi correspondente desde 1993, para Atlantic Monthly, New York Times Magazine, Esquire, Playboy e várias outras publicações. Taubes ganhou vários prêmios por suas reportagens, incluindo o International Health Reporting Award da Organização Pan-Americana de Saúde e o National Association of Science Writers Sciencein Society Journalism Award, que ganhou em 1996, em 1999 e em 2001. (É o único jornalista impresso a ganhar este prêmio três vezes). Desde meados de 1980, Taubes focou suas reportagens na ciência controversa, na dificuldade excruciante de se estabelecer um conhecimento confiável em qualquer campo de pesquisa, e nas ferramentas e metodologia científicas necessárias para isso. Os livros ao longo destas linhas incluem "Nobel Dreams" (Random House, 1987), e "Bad Science, The Short Life and Weird Times of Cold Fusion" (Random House, 1993), um dos livros notáveis do New York Times e finalista para o Los Angeles Times Book Awards.

Daily Bell: Pode nos contar sobre alguns de seus livros? Você parece ter um ponto de vista decididamente idiossincrático. Isso é parte de sua natureza ou é uma postura profissional?

Taubes: Bem, todos os meus livros efetivamente são sobre o mesmo assunto - a sociologia da ciência e o que acontece quando os pesquisadores envolvidos são menos do que rigorosos a respeito de como perseguem a ciência. Frequentemente eu brinco com os meus amigos sobre eu ter escrito o mesmo livro três vezes - primeiramente sobre Física de Alta-Energia (Nobel Dreams), depois sobre Física Nuclear (Bad Science) e finalmente algo sobre o qual as pessoas realmente se importam, Nutrição, Obesidade e Doença Crônica (Good Calories, Bad Calories). Mas todos eles são sobre a dificuldade de se fazer a boa ciência e como é fácil ter a resposta errada se você é menos do que implacável em sua atenção aos detalhes e ao que os dados realmente implicam. Esta é uma abordagem idiossincrática apenas porque a maioria dos jornalistas de ciência e saúde tendem a ver seus trabalhos como traduzir os assuntos difíceis da ciência e da medicina para uma língua que o público leigo possa compreender. Estão tão desinteressados quanto mal-informados de que alguns dos assuntos sobre os quais estão escrevendo não estão baseados em conhecimento confiável. Estou muito familiarizado com cientistas que iludem a si próprios sobre a qualidade dos seus dados e isso me fez ter uma abordagem muito mais cética do assunto. Também acho a linha limítrofe entre boa ciência e má ciência fascinante, então, essa é minha área de estudo preferida.

Daily Bell: Nos conte um pouco de seu passado. Como você construiu uma carreira ao longo destas linhas?

Taubes: Eu era um formando de Física e fiz o programa de mestrado em Engenharia, mas estava claro que eu não estava qualificado, intelectualmente, para uma carreira em um ou outro campo. Após a ler "All the President's Men", de Woodward e Bernstein, decidi que reportagem investigativa era a carreira para mim e consegui um outro mestrado em Jornalismo. Eu só comecei a trabalhar como repórter de ciência porque foi o único trabalho que encontrei, depois da faculdade, que não precisava que me mudasse para algum distante e, para mim, desagradável canto do país. Então, passei alguns anos como repórter e escritor para a revista Discover antes de sair para escrever meu primeiro livro - "Nobel Dreams". Morei por 9 meses no CERN, laboratório europeu de Física nos arredores de Genebra, pensando que estava errado em escrever sobre a grande "grande" descoberta da Física de Alta-Energia, e ao invés disso, me encontrei narrando as desventuras de um grande grupo de físicos, liderado por Carlo Rubbia, um laureado ao Nobel e futuro diretor-geral do CERN, e como eles descobriram partículas elementares inexistentes. Foi uma intensa experiência de aprendizado sobre como é difícil fazer boa ciência e como é fácil ter o resultado errado.

Quando meu livro foi lançado, pensava que nunca trabalharia com Jornalismo Científico de novo - Rubbia foi citado no New York Post me chamando de "babaca" – mas ao invés disso, mantive reuniões com cientistas que queriam me contar sobre a má-ciência (e sobre maus cientistas) em seus campos e me apontaram – como uma arma, de fato – na direção do problema. Depois que eu escrevi Bad Science, que era sobre o fiasco da fusão a frio de 1989, um assunto pelo qual eu fiquei obcecado porque, entre outras coisas, era tão obviamente errado, alguns dos meus amigos na comunidade da Física disseram, "Se você acha que a ciência na fusão a frio é ruim, você precisa ver a pesquisa que sugere que campos eletromagnéticos causam o câncer." E eles estavam certos. Aquela conexão estava baseada na epidemiologia observacional e a epidemiologia observacional é a base de muita sabedoria convencional sobre nutrição e doença crônica. Tenho trabalhado nessa conexão desde sempre.

Daily Bell: Aqui estão alguns de seus livros. Por favor, responda aos títulos com um update sobre o impacto dos livros e sobre como o tema mudou ou evoluiu desde que você os escreveu. Nobel Dreams (1987).

Taubes: Esse era sobre a descoberta equivocada das partículas "supersimétricas" por Rubbia e seus colaboradores do CERN, bem como o trabalho anterior que Rubbia ganhou o Prêmio Nobel. Após meu livro, Rubbia se tornou diretor-geral do CERN e foi grandemente responsável por convencer o CERN a construir o Grande Colisor de Hádrons, que é a máquina que só agora vai entrar em funcionamento. Ainda sou um grande fã da Física de Alta-Energia e espero que a máquina realmente encontre algo interessante, embora realmente não aposte nisso.

Daily Bell: Bad Science: The Short Life and Weird Times of Cold Fusion (1993)

Taubes: Este era sobre a errônea reivindicação, em 1989, da fusão a frio por dois cientistas da Universidade de Utah e sobre a tempestade de fogo que se seguiu. Acabei entrevistando umas 300 pessoas envolvidas, e descrevi como e por quê isso surgiu, e como se difundiu entre cientistas, políticos e imprensa. A fusão a frio era um fenômeno inexistente. Era o produto do pensamento positivo e ciência muito, muito ruim. A jogada era que prometia a salvação – energia infinita, barata, limpa – que foi o que a deixou tão sedutora. Como eu previ no final do livro, esse tipo da promessa atrai as pessoas muito depois de tornar-se óbvio a todo o cientista razoável que era simplesmente errada, e assim o interesse no assunto se manteria indefinidamente, embora se aproximasse assintoticamente de zero à medida que os anos se passassem. Vinte anos mais tarde, a previsão estava mortinha.

Daily Bell: Good Calories, Bad Calories (2007)

Taubes: Este foi o resultado da minha incursão na saúde pública e particularmente na pesquisa da Nutrição e Doença Crônica. É difícil de imaginar quão ruim está realmente essa ciência nesse campo até que você volte e leia de verdade os artigos por si próprio, e veja como a evidência era completamente ambígua e como ela foi seletivamente interpretada para dar suporte às preconcepções dos pesquisadores que fizeram os estudos. Eu gastei, dependendo de como contar, de cinco a sete ou oito anos neste livro. O primeiro terço do livro explica como viemos a acreditar que a gordura saturada e o colesterol causam doença cardíaca, e descreve como isso veio através da interpretação seletiva da evidência. O segundo terço fornece uma hipótese alternativa, que é a maioria das doenças crônicas – doença cardíaca, diabete, câncer, e até Alzheimer – são causadas pelo efeito dos carboidratos facilmente digeríveis e dos açúcares em nossa glicose sanguínea, insulina e acúmulo de gordura. Nunca tinha pensado em entrar nisso e que realmente encontraria uma hipótese alternativa atraente; pensei que ia apenas desmerecer a sabedoria convencional, que eu já sabia que era resultado de alguma ciência terrível. Embora, como se observou, houvesse uma hipótese alternativa óbvia e uma linha consistente de evidência que dão suporte a ela, desde o século XIX até a pesquisa mais recente das revistas hoje. Finalmente, o último terço do livro é sobre a Obesidade e o que nos deixa gordos, argumentando que não é esse simplista e eficazmente sem-sentido caloria-para-dentro-caloria -para-fora, mas o efeito dos carboidratos especificamente na insulina, e a insulina sobre o acúmulo de gordura. Quanto ao impacto, ainda estou esperando ver algum. Alguns pesquisadores desse campo leram o livro e acharam atrativos os argumentos, e fui convidado a dar algumas palestras razoavelmente prestigiosas que jornalistas raramente dão – em grandes círculos de escolas de Medicina e no NIH, por exemplo – mas ainda acho que 99% dos pesquisadores relevantes e políticos nem sabem que o livro existe ou diria que é absurdo, e então proclamaria orgulhosamente que nunca o leram e nunca o lerão.

Daily Bell: Você se juntou à revista Discover em um ponto em sua nova carreira. A Discover nos parece bastante popular e uma publicação não-dedicada a fazer o que você definitivamente faz – que é ultrapassar as barreiras da investigação científica popular. Como você se deu bem lá?

Taubes: Eu amei trabalhar na Discover. Foi no começo dos anos 80. O jornalismo científico era visto como a próxima grande fronteira. E a equipe de funcionários incluía algumas pessoas notavelmente espertas e talentosas. Uma vez que me estabeleci, os editores me deixaram praticamente escrever sobre o que eu me interessava e eles tratavam bem aos escritores. O único problema, que eu não percebi, é que este apogeu do jornalismo científico não duraria, e desde então a Discover está em declínio, indo de um proprietário a outro, e sua competição saiu do negócio. É difícil fazer uma revista dar lucro quando o assunto é a difícil boa ciência sem (a maior parte) de enfeites.

Daily Bell: Você ficou surpreso com o excesso de tumulto sobre sua desconstrução do mito da dieta low-fat?

Taubes: Sim, embora não devesse. O que eu não levei em consideração foi o efeito de uma matéria na capa da New York Times Magazine comparado, a por exemplo, Science ou a mesma história em um livro. Eu nunca tinha estado naquela posição antes, agora eu já sei. Se eu tivesse escrito a mesma matéria – "What if it's all been a big fat lie" (E se tudo fosse uma mentira grande e gorda? Leia aqui e aqui) – para a Discover ou para a Science ela passaria virtualmente despercebida (como sua precursora "The soft science of dietary fat," (A Ciência suave da gordura na dieta), publicada na Science, certamente passou). De fato, quando o GCBC (Good Calories, Bad Calories) foi lançado em 2007, escrevi uma matéria para a New York Magazine sobre por que o exercício não leva a perda de peso – um assunto muito controverso. A resposta foi depressiva, no melhor dos casos, porque a New York Magazine não é muito lida fora de Nova York. Há alguns meses atrás a Time Magazine fez uma matéria de capa sobre o mesmo assunto – indiscutivelmente uma versão pobre da minha matéria da NY Magazine e da respectiva seção do meu livro, que a Time mencionou – e, bang, tumulto!

Daily Bell: Você tem um livro de continuação do Good Calories, Bad Calories?

Taubes: Dois. Um provavelmente vai se chamar "Why We Get Fat?" (Por que engordamos?) e usa o argumento de que a obesidade está sendo causada por carboidratos, e não pelas calorias, e se resume em 160 páginas polêmicas. Um problema com o GCBC é que ele era demasiado técnico para o leitor leigo e muito longo para os médicos, pesquisadores e políticos. Em consequência, o argumento mais importante do livro – que a sabedoria convencional sobre a causa da obesidade é disparatada – passou praticamente despercebido. Então, esse é o meu jeito de tentar pegar esse argumento crítico e colocá-lo de uma forma que as pessoas possam realmente prestar a atenção. As pessoas leigas conseguem termina-lo e aprender o que tem que fazer para perder o peso e manter a perda. E os pesquisadores de medicina e médicos podem tirar um tempo para lê-lo – folheá-lo, pelo menos – e aprender algo. Quem sabe, talvez até meus amigos jornalistas de ciência e saúde o lerão, embora provavelmente eu esteja pedindo muito do mundo. O segundo livro é um projeto mais longo sobre os efeitos históricos, políticos e de saúde do açúcar e do xarope de frutose de milho, que podem ser os problemas fundamentais das dietas modernas.

Daily Bell: O que você aprendeu sobre as organizações científicas em seus escritos e sobre sua reação?

Taubes: Bem, não quero sujar toda a organização científica. Em geral, eu ainda preferiria sair qualquer dia com uma dúzia de cientistas do que com uma dúzia de advogados ou banqueiros de Wall Street, mas há alguns campos de estudo que saíram dos trilhos, onde os pesquisadores apenas não compreendem o que é ciência e como é feita. No epílogo do GCBC falo sobre este problema e como eu dei meu jeito de não usar a palavra "cientista" para descrever as pessoas que trabalham com a pesquisa sobre nutrição, doença crônica e obesidade. Nas poucas vezes em que usei, o fiz porque achava que aquelas pessoas eram exceções à regra geral – bons cientistas que teriam reconhecimento em qualquer campo. Então, o que eu aprendi é que esse ceticismo é sempre garantido e os jornalistas científicos deviam abordar os assuntos da mesma maneira que os repórteres políticos abordam política ou até mesmo repórteres esportivos abordam esporte. Não devemos supor que algo é verdadeiro apenas porque uma figura de autoridade nos diz ou porque um artigo foi publicado sobre isso em uma revista peer-reviewed. Por outro lado, a ciência é inerentemente mais difícil de compreender, ou requer pelo menos um background mais técnico, do que a política ou os esportes e requer um nível mais elevado de expertise para ser cético do jeito certo. Não tenho certeza se muitos jornalistas científicos são espertos o suficiente para fazer o tipo de reportagem cética que é necessário, e frequentemente eu me pergunto se sou um daqueles que conseguem usar uns dez ou vinte pontos extra do QI para fazer o trabalho.

Daily Bell: Você poderia explicar as principais descobertas de seu livro Good Calories, Bad Calories?

Taubes: Eu as listei no epílogo do livro. Aqui estão:

  1. A gordura da dieta, saturada ou não, não é uma causa de obesidade, doença cardíaca ou nenhuma outra doença crônica da civilização.
  2. O problema são os carboidratos da dieta, e seu efeito na secreção de insulina e assim, a regulação hormonal da homeostase – o conjunto harmônico completo do corpo humano. Quanto mais facilmente digeríveis e refinados são os carboidratos, maior é o efeito em nossa saúde, peso e bem-estar.
  3. Os açúcares – sacarose e xarope de frutose de milho especificamente – são particularmente prejudiciais, provavelmente porque a combinação de frutose e glicose simultaneamente eleva os níveis de insulina enquanto sobrecarrega o fígado com carboidrato.
  4. Através de seu efeito direto na insulina e na glicose no sangue, carboidratos refinados, amidos e açúcares são a causa dietética da doença cardíaca e do diabetes. São as causas dietéticas mais prováveis do câncer, Alzheimer e das outras doenças crônicas da civilização.
  5. A obesidade é uma desordem do excesso de acúmulo de gordura, e não de comer demais ou do comportamento sedentário.
  6. Consumir calorias em excesso não faz com que fiquemos gordos mais do que faz com que uma criança cresça mais alta. Gastar mais energia do que nós consumimos não nos leva a perda de peso a longo prazo; leva à fome.
  7. O ganho de peso e a obesidade são causados por um desbalanço – um desequilíbrio – na regulação hormonal do tecido adiposo e do metabolismo de gordura: A síntese e o armazenamento de gordura excedem a mobilização da gordura do tecido adiposo e sua oxidação subsequente. Nos tornamos mais magros quando o regulamento hormonal do tecido de gordura inverte este equilíbrio.
  8. A insulina é o primeiro regulador do armazenamento de gordura. Quando os níveis de insulina estão elevados – tanto cronicamente ou depois de uma refeição – nós acumulamos gordura em nosso tecido adiposo. Quando os níveis de insulina caem, liberamos a gordura de nosso tecido adiposo e a usamos como combustível.
  9. Por estimular a secreção de insulina, os carboidratos nos fazem engordar e por último, causam a obesidade. Quanto menos carboidratos consumirmos, mais magros seremos.
  10. Por induzir o acúmulo de gordura, os carboidratos também aumentam a fome e diminuem a quantidade de energia que gastamos com o metabolismo e com a atividade física.

Daily Bell: Você pode nos explicar mais sobre o sal na dieta e a pressão sanguínea, etc.?

Taubes: Por 50 anos, os pesquisadores têm tentado ligar casualmente o consumo de sal com a hipertensão e os dados continuam a ser, no melhor dos casos, ambíguos. É uma hipótese agradável, mas não foi conclusiva em experimentações humanas nem mesmo, realmente, em estudos observacionais. Por outro lado, é sabido desde que meados de 1870 que os carboidratos causam retenção de água e quanto mais água você retém, falando de forma simplista, mais elevada sua pressão sanguínea vai ser. É sabido desde meados de 1950 que quando as pessoas estão em dietas low-carb sua pressão sanguínea cai dramaticamente por causa da perda de água, e se sabe desde 1980 que uma das muitas coisas que a insulina faz é regular a pressão. Além disso, a hipertensão é associada a obesidade e diabete então, de certa forma, o que quer que cause obesidade e diabete causa também hipertensão, e obesidade e diabete, como eu explico no GCBC, são causados quase seguramente pela qualidade e pela quantidade dos carboidratos em nossa dieta.

Daily Bell: Que você pensa sobre o CERN? Pensamos: pode ser uma grande perda de tempo?

Taubes: Como eu disse, sou um grande fã da ciência e da Física de Alta-Energia e não sou contra gastar bilhões de dólares para aprender como o universo funciona. O caso é que podemos não aprender nada de significativo porque pode não haver nada novo para se descobrir na escala energética do novo Grande Colisor de Hádrons do CERN. Isto será entendido como perda de tempo – por que nós gastamos todo esse dinheiro? Mas o único jeito de descobrir que não há nada lá é gastando dinheiro. É um risco que você tem que correr. Então, pessoalmente eu espero que a máquina funcione e trabalhe bem e que eles consigam interpretar corretamente os dados que ela produzir, e que alguma descoberta notável apareça, mas se não funcionar ou se eles não conseguirem interpretar, ainda assim não considerarei uma perda de tempo, apenas uma outra lição infeliz de que a natureza não é amável com seus segredos e que a ciência não é fácil (ou barata).

Daily Bell: Você acha que os inventores (ou assim chamados) da fusão a frio são cientistas ruins. Pode você nos dizer o que faz um mau cientista ou um bom cientista?

Taubes: Em um discurso de formatura que o Richard Feynman deu na Caltech nos anos 60, ele disse que "o primeiro princípio [da ciência] é que você não deve enganar a si mesmo − e você é a pessoa a mais fácil de ser enganada." Então, a maneira mais simples de se pensar sobre isso é que bons cientistas são os que estão mais cientes deste fato: como é fácil ser enganado por seus dados e se iludir. São os que são mais céticos a respeito de seu próprio trabalho, não apenas com o trabalho de outros. Também estão cientes de que a única maneira de não se deixar enganar é trabalhando implacavelmente para tentar refutar suas próprias teorias, não tentando confirmá-las. Maus cientistas fazem um experimento, conseguem algum resultado interessante, decidem que descobriram algo novo, e então gastam o resto de suas vidas tentando provar de algum modo o que conseguiram. Novamente, a ciência não funciona desse jeito. Você tem que botar mais fé na evidência negativa que na positiva; você tem que se esforçar mais tentando refutar suas próprias crenças e hipóteses, do que tentando prová-las. Se você falha refutando-as, daí você pode começar a levá-las a sério. E, sim, os inventores da fusão a frio eram cientistas ruins.

Daily Bell: O que você acha do Prêmio Nobel?

Taubes: Tenho sentimentos misturados. Alguns pontos negativos: frequentemente glorificam as grandes descobertas na ciência, ao invés do trabalho duro e da ciência rigorosa que faz com que aquelas descobertas sejam possíveis. Em alguns casos, eles vão para pessoas que nem mesmo estão na lista dos melhores cientistas desse campo, mas calharam de estar no lugar certo, e na hora certa ou tiveram os recursos políticos para realizar um experimento. Porque eles podem ser dados a somente três cientistas no máximo em qualquer campo em um ano, eles frequentemente criam distinções artificiais sobre quem fez um trabalho significativo e quem não fez. E uma vez feita qualquer dessas coisas, a pessoa que consegue um Nobel têm influência para ter prioridade nas pesquisas e no financiamento, muito mais que seus pares (ou até mesmo que melhores pesquisadores). Dessa forma, os prêmios podem distorcer a ciência e a forma com que nós a percebemos em muitas maneiras diferentes. Quanto aos pontos positivos, bem, eles chamam a atenção para o esforço e motivam muitos cientistas a fazer um trabalho mais interessante e mais desafiador do que qualquer outra coisa.

Daily Bell: Explique o termo "ciência patológica", se não se importa?

Taubes: É um termo inventado pelo laureado ao Nobel, Irving Langmuir para descrever o que ele chamou de "a ciência das coisas que não existem". A fusão a frio é um exemplo clássico da ciência patológica: não existe. É um fenômeno inexistente, mas isso não impediu que dúzias, talvez até centenas, de pesquisadores estudassem ou publicassem artigos sobre isso, e etc. E esses pesquisadores, como Langmuir colocou, eram na maior parte os que "são enganados por resultados falsos pela falta de compreensão a respeito do que os seres humanos podem fazer a si mesmos a fim de que sejam conduzidos por efeitos subjetivos, pensamentos positivos ou interações limítrofes". Você pode encontrar o ensaio original de Langmuir clicando aqui. 

Daily Bel: A dieta de Atkins é mal-compreendida? As críticas são injustificadas?

Taubes: Sim, acho que é mal-compreendida. Fundamentalmente é uma dieta que restringe somente os carboidratos, o que é uma boa coisa a se fazer porque é são os carboidratos que nos deixam gordos. A dieta nos permite comer o quanto quisermos de proteína e gordura, o que é uma boa coisa porque estes nutrientes não engordam, então podemos comer até que nossos corpos estejam satisfeitos, mas não engordamos por causa disso. E, sim, acho que as críticas são mal-concebidas, e sempre foram. Na realidade, os nutricionistas, médicos, pesquisadores e autoridades de saúde pública que nos colocaram nesta situação decidiram que apostariam nossas vidas (não necessariamente as deles) na crença de que gordura saturada causa doença cardíaca, e ignoram toda a ciência séria da regulação do metabolismo do tecido adiposo que nos diz que o carboidrato é o problema. Eles também tiveram que ignorar, e ignoraram, um século de evidência anedótica de que carboidrato engorda, para que pudessem nos dizer para comer menos gordura e mais carboidratos. Eu já não acho isso razoável, mas fica pior pelo fato de que os dados que implicam a gordura saturada com a doença cardíaca eram sempre ruins, também. Muitas das evidências, na verdade, exoneram as gorduras saturadas, então os pesquisadores fizeram o que cientistas ruins sempre fazem, que é racionalizar de fora esta evidência negativa e prestar atenção somente à positiva. Quando eu escrevia uma longa matéria sobre o sal e a hipertensão para a Science lá em 1990, um médico escocês memoravelmente se referiu a esta maneira de trabalhar como o "Epidemiologia Bing Crosby": você acentua o positivo e elimina o negativo. Tem uma rima bacana, mas é a essência da má-ciência.

Daily Bell: Como alguém pode perder peso? Dieta apropriada e exercícios? O que seria isso?

Taubes: Como eu concluí no GCBC, nós engordamos não porque comemos demais ou porque somos sedentários mas porque os carboidratos da nossa dieta elevam os níveis de insulina e a insulina trabalha para armazenar gordura no tecido adiposo. Como os carboidratos literalmente nos engordam, então o único jeito de emagrecer novamente é evitando os agentes ofensores – os carboidratos. Então, para mim, dieta apropriada é uma dieta que evita carboidratos facilmente digeríveis e açúcares – essencialmente, todos aqueles alimentos que a geração da minha mãe achava que engordava mais: pão, massa, batata, arroz, bebidas açucaradas, cerveja, doces, salgadinhos, etc. Não acho que o conteúdo de gordura da dieta seja tão importante como o de carboidratos e podem ser eficientemente irrelevantes se nós fizermos certinhos a parte do carboidrato. Este é um ponto de vista não-convencional, mas como eu disse, passando a maior parte da última década lendo a literatura relevante até o século XIX, acho isso muito mais atraente do que o que fomos ensinados a acreditar.

Daily Bell: Você acredita no aquecimento global?

Taubes: Geralmente. Embora eu possa compreender a perspectiva dos céticos, também.

Daily Bell: Muito obrigado por falar aos nossos leitores. Nós admiramos muito o seu trabalho.


Reflexões


Pela equipe do Daily Bell

A maior parte da ciência escrita é do tipo "Gee Whiz" (N.T.: gíria que quer dizer "poxa vida, que incrível") mas Gary Taubes é uma das poucas almas corajosas que ousam fazer as perguntas difíceis. O foco dele no que constitui boa ciência e o que faz a má-ciência é muito útil para delinear o que está acontecendo hoje. Sua coragem em tirar conclusões legitimadas sobre a nutrição e a dieta não o tornou querido daqueles que buscam usar a criação e a ingestão de alimentos como um tipo de manifesto político.

Na verdade, nossa crítica a Taubes (e não é uma crítica, é mais uma observação) é porque, em nossa opinião, seu ceticismo sobre que o acontece na ciência nos dias de hoje não vai longe o bastante. Entretanto, em deferência ao homem e a seu trabalho significativo, vamos acrescentar que ele mesmo é de uma casta científica, discreto e de certa forma linear em sua metodologia. Ele pode acreditar em conclusões mais amplas com base em seu trabalho, mas ficamos com a sensação de que ele não vai fazer grandes declarações sobre a ciência, uma vez que até mesmo suas conclusões rigorosamente pesquisadas causaram uma boa dose de controvérsia.

Então, vamos entrar na briga por ele. Nós tendemos a acreditar – e esta não é uma opinião à qual chegamos através de qualquer tipo de análise numérica ou científica – que a cultura científica ocidental inteira tem estado pervertida pelas quantidades infinitas de dinheiro injetada por entidades governamentais a mando de um pequeno grupo de indivíduos com grande riqueza e uma pauta do dia de gerações. Isto vai ao coração da análise contínua do Daily Bell, que é sobre os esforços crescentes da elite monetária para impor temas sociais dominantes nas massas ocidentais cada vez mais saqueadas.

A imposição de temas sociais dominantes – iniciativas, se você preferir – cresceu dramaticamente, em nossa opinião, durante todo o século XX com a psicologia e a tecnologia se transformando em ferramentas cada vez mais afiadas que permitiram os que estão no poder criar empreendimentos úteis e geradores de renda.

Também viemos a perceber que a elite monetária faz quase tudo de natureza POLÍTICA a descoberto para que aqueles que estão envolvidos nos seus esforços não possam ser acusados de encobrimentos. Quando se faz qualquer coisa que tem a mínima sugestão de sigilo ao longo destas linhas (dá um google em Bilderbergers), a reação é imensa, especialmente na era da Internet. O que se desenvolveu, portanto, necessariamente, é um grupo de pensadores interligados, ONGs, agências sem fins lucrativos e entidades quasi-governamentais que tendem a aparecer com os temas sociais dominantes que são então promovidos em todo o Ocidente – uma vez que o apoio científico adequado tem sido arranjado.

Quais são estes? Superpopulação, mudança climática, extinção de animais, envenenamento por carbono, vacinas adaptadas para doenças mortais individuais, etc. Cada uma destes e muitos outros são baseados não na ciência, mas na "opinião", e a ciência, o que existe dela, vem depois. A idéia, em nossa estimativa, é criar iniciativas que amedrontem as pessoas para que deem dinheiro e controle às autoridades e às companhias que fornecem soluções apropriadas.

Sem o medo não há nenhuma razão convincente para agir. Sem pânico não há nenhuma razão para fazer algo imediatamente. Criar um clima de medo infinito através de constantes exortações de que o mundo está acabando se este ou aquele problema não for resolvido com rios de dinheiro de quem paga impostos é um negócio lucrativo.

O aquecimento global talvez seja a mais flagrante destas iniciativas (ou memes). A temperatura aparentemente tem diminuído pela década passada, e recentemente estamos começando a ver artigos admitindo este fato, embora relutantemente, nas páginas de publicações como Der Spiegel. Mas o mais significativo de uma iniciativa elitista é que não é nem um pouco descarrilada pelos fatos. É preciso uma confusão extraordinariamente grande para descarrilar um tema social dominante porque muito dinheiro entra para promovê-lo e assim, muita gente eventualmente faz carreiras lucrativas que dão suporte a ele.

Os fatos são fungíveis quando se trata dos temas sociais dominantes. A lógica não importa, somente o resultado (mais leis, mais impostos, etc.). Os efeitos colaterais são rotineiramente minimizados. As dificuldades são deixadas de lado. O argumento lógico torna-se irrelevante.

O dinheiro é o fator motivacional em tudo isso. A quantidade de dinheiro público jogada na ciência hoje é infinitamente corruptora. Se você for um pesquisador, para onde você está indo? As universidades ocidentais estão recebendo dinheiro público e as instituições privadas em sua maioria estão ligadas de uma forma ou de outra às entidades governamentais também - ou pelo menos compartilham de suas agendas.

A ciência, em nossa humilde opinião, é um produto nessa época. Aqueles por trás dos temas sociais dominantes do mundo veem a ciência como uma auxiliar às mensagens importantes projetadas para gerar mais riqueza e controle. No momento vivemos não na idade da razão, mas na idade da promoção. Claro que acreditamos que a Internet está mudando como um todo. Mas nesse ínterim, a má-ciência continuará a fazer volume àqueles mais interessados em suportar temas sociais dominantes do que procurando a verdade. Há somente alguns no passado recente que tentaram combater esta tendência. Gary Taubes é um deles.

(Nota do editor: O acima foi escrito antes da história dos e-mails vazados que aparentemente mostram um "conluio" entre os defensores do aquecimento global.)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O glúten está bagunçando sua mente? Descubra agora.

O custo humano da insulina na América

Me sinto feliz e linda!