A melhor dieta detox

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

O artigo do Groves é de 2008, quando pouco ou nada se falava sobre o papel do amido resistente. Ainda assim, o texto dele é de grande valor...



por Barry Groves

O sistema digestório dos animais carnívoros e herbívoros opera em maneiras muito diferentes: nos primeiros, é especificamente adaptado para digerir proteína e gordura animais, enquanto o segundo é construído para processar matéria vegetal.

Enquanto a fermentação bacteriana de fibras e amidos vegetais, com produção e absorção de ácidos graxos de cadeia curta, contribui com algo entre 60 e 90% dos requisitos energéticos de herbívoros, a fermentação colônica em humanos é de importância menor para a nutrição, com menos de 10% dos requisitos energéticos vindos da digestão colônica de amido, fibra e proteínas não absorvidas no intestino delgado, se o intestino tem tamanho e função normais.

Quando matéria vegetal entra no nosso sistema digestório, a celulose da qual as células das plantas são feitas, que constitui uma grande proporção das plantas e que não podemos digerir, passa pelo estômago e intestino delgado, terminando no cólon (intestino grosso) em estado não-digerido. Outros carboidratos, ainda que tenham sido processados até certo ponto, também vão acabar no cólon.

O que acontece a eles é de considerável importância.

Juntamente com a comida que ingerimos, a saliva que engolimos, o muco dos nossos narizes que engolimos ao respirar, estão milhões de bactérias. A vasta maioria será morta pelo potente ácido hidroclorídrico do estômago e pelos sucos do intestino delgado. Mas umas poucas vão inevitavelmente escapar e terminar no cólon. Se as condições lá estiverem favoráveis, elas vão instalar residência e constituir família. Se não estiverem, elas serão excretadas.

As floras bacterianas vivendo no intestino de herbívoros e carnívoros são muito diferentes uma da outra [1]. O processo digestivo de um herbívoro continua no cólon por fermentação bacteriana. É uma parte vital do sistema digestório do herbívoro, adaptado a extrair o máximo possível daquilo que é uma fonte pobre de nutrientes. Mas nenhuma digestão útil ocorre no nosso cóon. Toda a nossa digestão ocorreu no intestino delgado e ela é perto de 100% eficiente quando comemos alimentos de origem animal. Então o que resta é apenas uma quantidade pequena de lixo (se essa é a palavra adequada) puro. Dentro dos nossos cólons estão espécies muito diferentes de bactérias, comparadas às dos herbívoros. As nossas são – ou deviam ser – bactérias proteolíticas (significando que elas quebram proteínas) que vivem de proteínas e ácidos graxos, quebrando-os de maneira similar às enzimas proteolíticas que digerem proteínas no intestino delgado. No cólon, estas bactérias atacam qualquer proteína e gordura que tenha escapado da digestão e as convertem em aminoácidos, glicerina e conglomerados de aminoácidos chamados proteoses e peptídeos – exatamente o mesmo processo que acontece um pouco acima no tubo intestinal. Mas estas bactérias também são capazes de operar com carboidratos. E quando isso acontece, ácido e gás são produzidos.

Um carnívoro exclusivo não deveria comer matéria vegetal, então não deveria existir qualquer carboidrato em seu cólon para suportar bactérias fermentadoras. Sem estas para produzir ácidos, as bactérias protelíticas prosperam em um saudável ambiente alcalino.

O homem civilizado não restringe sua dieta a apenas carne e gordura. Ele também come carboidrato – e influenciado por teorias como a hipótese de Burkitt sobre as fibras, e pela a exortação para comer "ao menos 5 porções de frutas e vegetais por dia" – isso garante que um bocado de carboidrato indigerível sob forma de fibras de frutas, legumes e cereais, bem como uma proporção de outros carboidratos, cheguem a seu cólon. Isso altera a microbiota consideravelmente.

Infelizmente, a ciência médica ainda não tem muito conhecimento sobre tais detalhes em seres humanos, apesar de ser certo que mudanças são feitas quando o açúcar substitui o amido; mudanças muito maiores acontecem quando carboidratos substituem as proteínas e gorduras na dieta.

Mesmo uma pequena quantidade de carboidratos no cólon vai sustentar uma colônia de bactérias fermentadoras; se houver uma grande quantidade de carboidratos mais indigestos como farelo e vegetais crus de saladas, as bactérias fermentadoras vão florescer e podem se tornar dominantes. À medida que a produção de ácido no cólon aumenta, o ambiente resultante torna-se hospitaleiro a leveduras e outros fungos. Esses também são fermentadores ávidos e, enquanto seus números aumentam, o ambiente colônico torna-se mais e mais ácido. Mas este ambiente não atende às bactérias proteolíticas, benéficas, que deveriam estar lá – então elas morrem, deixando as danosas bactérias fermentadoras sem oposição. Isso deixa o cólon irritável e irritado. Nós começamos a ver diarréia e outros sinais de estresse digestivo. O paciente não fica sabendo da mudança ocorrida nas bactérias. Tudo com o que ele se preocupa é que suas fezes estão ficando mais mal-cheirosas, amolecidas e ácidas, e que seu reto está coçando e ardendo.

Ao mesmo tempo, o cólon irritável perturba o resto do trato digestório. O estômago torna-se produtor de gás e o intestino delgado acelera o transporte do alimento. As várias fibras vegetais, que no melhor caso são difíceis de digerir, são aceleradas ao longo do cólon com ainda menos digestão do que antes. E como a absorção de nutrientes pelo corpo toma tempo – e esse tempo foi agora reduzido – mais nutrientes chegam ao cólon. Isso provê um ambiente ainda melhor para as bactérias fermentadoras, que proliferam, e as coisas vão de mal a pior.

O homem pré-histórico sem dúvida consumia alimentos de origem vegetal. Mas somente no período neolítico, depois que eles foram tornados comestíveis pelo cozimento e outras formas de preparo, que passaram a ser usados em quantidades reais [2]. Até os tempos romanos, vegetais, mesmo saladas de folhas, eram invariavelmente servidos cozidos. Enquanto plebeus pobres eram descritos como alimentando-se de plantas cruas como chicória, alface e alho, aristocratas romanos certamente não faziam isso – a menos que precisassem de laxativo.

A ingestão de vegetais crus morreu durante a Idade Média, sendo usada apenas como purgante. A Renascença italina parece ter reintroduzido a moda da salada, mas mesmo então as saladas eram cozidas e resfriadas, tanto os vegetais quanto o peixe.

O uso de plantas cruas para outros fins que não laxante ou purgante, é uma moda moderna. E pode não ser muito saudável.

O que é realmente uma "dieta detox" ?



Um dos conceitos que profissionais alternativos de saúde acreditam é em "limpeza" ou "detoxificação" (N.T.: "desintoxicação" ?). Ela pode acontecer quando você adiciona um super suplemento à sua dieta, ou quando você elimina as coisas ruins que constumava comer ou beber. Nós estamos bem familiarizados com esse conceito para drogas e álcool, mas não tanto para comidas e outros estilos de vida.

São os carboidratos dietários por si que causam desarranjos intestinais de variados graus em carnívoros e no homem. O que deveríamos comer é uma dieta não-irritante: uma na qual os carboidratos podem ser comidos, mas de maneira que não instaurem o caos na flora intestinal. Precisamos de algum tipo de dieta que desintoxique o intestino.

Por causa de conhecimento incorreto ou insuficiente, as dietas "detox" todas parecem ser baseadas em vegetais crus e sucos de legumes e frutas. Qual é o motivo disso eu não faço idéia, porque como mostrei, esse tipo de dieta é na prática bastante tóxico para o intestino grosso. E a ciência já mostrou que um copo de água filtrada comum é muito mais efetivo do que os vários e caros produtos vendidos para "detoxificar".

No que diz respeito ao intestino, a dieta deveria ser uma que não o irrita. Isso significa, em primeiro lugar, excluir laxantes tais como ameixas, figos e ruibarbo; significa evitar restos pontiagudos e irritantes como farelo de cereais; e também significa não extrair sucos de matéria vegetal crua pois isso, perversamente, é uma das melhores maneiras de causar toda essa agonia.

Para absorver a maior parte dos carboidratos no intestino delgado, e assim evitar que eles cheguem ao cólon em grandes quantidades, é necessário quebrar as paredes celulares de maneira que as enzimas digestivas possam entrar e digerir os nutrientes contidos. Extrair o suco não faz isso. Observado em microscópio, mesmo após a extração do suco, células vegetais são vistas claramente intactas, meramente flutuando na porção fluida. Nesta forma, eles são tão indigeríveis quanto eram em sua forma original.

Ao beber um copo de suco de laranja, é fácil ingerir 5 ou 6 frutas e, desta maneira, aumentar enormemente a quantidade de carboidratos na dieta – que é a última coisa que você deveria fazer.

Sucos de fruta enlatados estão em uma categoria diferente, pois o calor usado durante o processo de envasamento tende a desintegrar as paredes celulares vegetais. Mas como esses sucos são geralmente bebidos como a primeira coisa da manhã, eles entram e passam pelo sistema digestório muito rapidamente e terminam no cólon virtualmente inalterados – um meio perfeito para as bactérias fermentadoras e seus amigos. Sucos prontos também são frequentemente adoçados, o que não é boa idéia.

Só há uma maneira de equilibrar as coisas, e é comer poucas coisas que deixam carboidratos não-digeridos chegarem ao cólon. Isso é possível. Dietas sintéticas compostas de aminoácidos puros, ácidos graxos e glicose, que não precisam de digestão e não deixam resíduos, enquanto páram a produção de ácido no cólon e restauram o equilíbrio adequado [3]. Mas testes com voluntários mostraram que leva cerca de 3 meses de dietas estritas para conseguir esse resultado, que teve que ser conduzido em ambiente hospitalar.

Uma maneira mais realista é reduzir o volume de carboidratos na sua dieta ao mínimo. E evite a todo custo matérias como farelo e outras fibras não-digeríveis de legumes e frutas, porque elas certamente terminarão alimentando as mesmas bactérias das quais você está tentando livrar-se.

Se você quer realmente "detoxificar", a parte que precisa de limpeza é o seu cérebro: livre-o de preconceitos, inibições e apetites herdados. Livre-o de dogmas infundados e preencha-o com ciência e bom-senso.

Prender ou não a respiração


A maioria de nós não anda por aí cheirando excremento de animais ou mesmo o nosso próprio. Mas aqueles que vivem na área rural e andam pelos campos provavelmente já perceberam que onde animais como vacas são mantidas para pastar, suas fezes geralmente não têm cheiro ou têm cheiro não-desagradável. O mesmo é verdade para carneiros, coelho e todos os outros animais que comem sua dieta natural, incluindo carnívoros. Compare isso com o cheiro insuportável que você vai levar para casa se pisar em cocô de cachorro numa rua da cidade. Isso é porquê cães não comem uma dieta natural.

O mesmo vale para humanos. Você solta gases ? Quando o faz, ele tende a esvaziar a sala ? Quando você vai ao banheiro, precisa abrir a janela e sugerir ao próximo da fila que seria prudente esperar alguns minutos antes de entrar ?

Minha família e eu, não. Quando vamos ao toalete, usamos um pedaço de papel higênico para descobrir que não precisávamos dele – nossas fezes são expelidas sem deixar resíduo. E não deixamos cheiros para trás – exceto pelos dias em que vamos jantar fora com amigos.

Por último, mas não menos importante


Mas voltando ao que a maioria das pessoas quer de uma dieta detox – melhor de longe, e muito mais barato que todos os livros e medicamentos, tudo o que você precisa é beber água.

Referências


  1. Dukes HH. The Physiology of Domestic Animals. Comstock Publishing Company, Ithaca, New York, 1955. 
  2. Voegtlin WL. The Stone Age Diet. Vantage Press Inc, New York, NY 1975. 
  3. JAMA 9 May 1966 and Medical World News 20 May 1966. Quoted in Voegtlin WL. Op cit.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O glúten está bagunçando sua mente? Descubra agora.

O custo humano da insulina na América

Me sinto feliz e linda!