As bactérias do seu intestino não gostam de comida-lixo – ainda que você goste

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

Antes que você leia o texto abaixo, já adianto algumas coisas que vão gerar dúvida: ele fala sobre dietas ricas em gordura sendo prejudiciais, e depois elogia as leguminosas (feijões, no caso).

Primeiramente, preste reparo a 2 coisas:

1 - O teste da gordura foi feito com ratos, e não com humanos. O próprio texto já alude a isso: "mas há diferenças óbvias entre nós e ratos de laboratório, bem como nos nossos micróbios naturais".

2 - Quais gorduras foram dadas aos ratos ? O estudo não explicita se foi gordura animal de alta qualidade (eu duvido que seja, pelo preço) ou se foram gorduras vegetais industrializadas (mais provável...)

Sobre as leguminosas (feijão, grão-de-bico, lentilha, ervilha, amendoim): eu não como (exceção para o amendoim, de vez em quando), mas não acho que devam ser "banidas". Já pensei assim, mas não mais.

Elas tem antinutrientes sim, mas diversas outras comidas também tem, e a comunidade paleo faz vista grossa ;-) Por exemplo, cacau e castanhas tem ácido fítico. Aí os paleos não comem feijão porque tem lectina, mas comem castanha sem pensar duas vezes...

O Dr. Souto outro dia me puxou a orelha quando perguntou "mas onde estão os estudos de qualidade que apontam para os malefícios das leguminosas ?". Elas são boas fontes de proteína, fontes moderadas a baixas de carboidrato, e tem algumas substâncias ruins que podem ser minimizadas com molho e cozimento.

Na prática, leguminosas não fazem falta do ponto de vista bioquímico. Tudo o que tem nelas, eu acho em carnes, ovos e verduras. Mas se fulano AMA feijão e não quer viver a vida inteira sem feijão, não vejo mal comer um pouquinho...

Quem discorda, atire a primeira castanha e o primeiro cacau :-D


por Tim Spector



Bactérias intestinais não gostam disso.


Quando Morgan Spurlock ficou famoso ao passar um mês comendo os maiores lanches do McDonald's para seu documentário Supersize Me, ele ganhou peso, danificou seu fígado e afirmou ter sofrido sintomas de síndrome de abstinência. Isso foi popularmente atribuído à mistura tóxica de carboidratos e gorduras, mais os produtos químicos adicionados e conservantes da comida-lixo. Mas poderia haver outra explicação ?

Nós podemos ter esquecido de outros que realmenet não gostam de fast food. Estas são pobres criaturas que vivem no escuro do nosso intestino. São centenas de trilhões de micróbios que ultrapassam o total de células humanas em 10 para 1, e digerem nossa comida, fornecem muitas vitaminas e nutrientes e nos mantêm saudáveis. Até recentemente, nós as víamos como danosas – mas estas (como a Salmonella) são uma pequena minoria, e a maioria é essencial para nós.

Estudos com ratos de laboratório mostraram que quando alimentados com dietas ricas em gorduras, sua microbiota muda dramaticamente e para pior. Isso pode ser evitado em parte pelo uso de probióticos; mas há diferenças óbvias entre nós e ratos de laboratório, bem como nos nossos micróbios naturais.



Um estudo recente tomou um grupo de africanos que comiam uma dieta tradicional rica em feijões, verduras e legumes, e um grupo de americanos que comiam uma dieta rica em gordura e proteína animal e pouca fibra, e trocou as dietas de ambos. Os africanos pioraram com a dieta estilo americano: seu metabolismo mudou para um perfil diabético e doente em apenas 2 semanas. Os americanos, por sua vez, reduziram seus marcadores para câncer de cólon. Os testes de ambos os grupos mostraram microbiomas diferentes

Testando em casa


Curiosamente, ninguém investigou especificamente o efeito da comida-lixo em ocidentais, do ponto de vista do microbioma.

Pelo bem da ciência e para pesquisa para o meu livro The Diet Myth, eu tenho experimentado com diversas dietas não-usuais e registrado seus efeitos em meus micróbios intestinais. Estas incluem jejum, uma dieta para colonoscopia, e uma dieta intensiva de queijo francês não-pasteurizado. Meu filho Tom, graduando em Genética pela Universidade de Aberystwyth, sugeriu um experimento observacional crucial: rastrear os micróbios enquanto se muda de uma dieta ocidental mediana para uma dieta intensiva de fast food por mais de 1 semana.

Tom Spector encarando o desafio.


Eu não era o sujeito ideal, já que não estava mais na dieta mediana, mas Tom, que como a maioria dos estudantes, gosta do seu fast food, estava. Então ele concordou em ser a cobaia, desde que eu pagasse por todas as suas refeições e que ele pudesse analisar e usar os resultados para a sua dissertação. O plano era comer todas as suas refeições no McDonalds por 10 dias. Ele podia comer ou BigMac ou Chickn McNuggets, mais batatas fritas e Coca-cola. Para ter vitaminas extras, ele podia tomar cerveja e comer batatas tipo Pringle's à tarde. Ele iria coletar amostras de fezes antes, durante e depois da dieta, e enviá-las a três laboratórios diferentes para garantir a consistência dos resultados.

Tom começou bastante animando, e muitos dos seus colegas ficaram com inveja do seu orçamento ilimitado de comida-lixo. Como ele mesmo comentou:

Eu me senti bem por 3 dias, depois fui lentamente morro abaixo. Fiquei mais letárgico, e por volta de 1 semana meus amigos comentaram que eu estava com um tom de pele acinzentado. Os últimos dias foram realmente uma luta. Me senti realmente mal, mas não tive qualquer sintoma de síndrome de abstinência e quando finalmente terminei, corri para comer algumas frutas e saladas (o que não é comum da minha parte).

Ao mesmo tempo que ficou claro que a dieta intensiva o fez sentir-se temporariamente mal, tivermos que esperar alguns meses para os resultados chegarem. Eles vieram da Universidade Cornell, nos EUA e do British Gut Project, que permite que pessoas testem seu microbioma e compartilhem os resultados na internet para qualquer um analisar. Todos contaram a mesma história: a comunidade microbiana do intestino de Tom tinha sido devastada.

O intestino dele tinha sofrido mudanças maciças nos grupos de micróbios comuns, por razões que ainda não estão claras. Firmicutes foram substituídos por Bacteroidetes como tipo dominante, enquanto as Bifidobacterias amigáveis que suprimem a inflamação, diminuíram à metade. Entretanto, a marca mais clara de um intestino doente é perder a diversidade – e depois de apenas alguns dias, Tom tinha perdido um estimado em 1400 espécies (cerca de 40% do total). As mudanças persistiram e duas semanas após a dieta, seus micróbios ainda não tinham se recuperado. A perda da diversidade é um sinal universal de saúde ruim nos intestinos de obesos e de pessoas diabéticas, e dispara uma gama de problemas de imunidade em ratos de laboratório.

Que a comida-lixo é ruim para você, não é novidade, mas saber que ela dizima os nossos micróbios intestinais nesta proporção e velocidade, é preocupante. Muita gente come fast food regularmente, e ainda que tentem ficar longe das calorias, o metabolismo corporal e o sistema imune estão sofrendo através dos efeitos dos micróbios.




Nós dependemos de nossas bactérias para produzir muitos dos nosso nutrientes e vitaminas essenciais, enquanto elas dependem de nós comermos plantas e frutas para provê-las com energia e torná-las capazes de produzir certas substâncias que mantêm o nosso ssitema imune funcionando normalmente.

É improvável que paremos de comer fast food, mas os efeitos devastadores sobre nossos micróbios e nossa saúde no longo prazo podem possivelmente ser mitigados se também comermos comidas que nossos micróbios adoram, como probióticos (iogurte), raízes, tubérculos, castanhas, azeitonas e comidas ricas em fibras. O que elas parecem desejar, acima de tudo, é diversidade alimentar – e uma fatia de pickles no sanduíche simplesmente não é suficiente.

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