Em 2003, pesquisadores escrevendo para o Jornal Americano de Medicina descobriram algo que deveria mudar a maneira como você pensa sobre novidades médicas. Eles observaram 101 estudos publicados pelos maiores periódicos científicos entre 1979 e 1983, que afirmavam que uma nova terapia ou tecnologia médica era muito promissora. Apenas 5, eles descobriram, chegaram ao mercado em 1 década. Apenas 1 (inibidores de ACE, uma droga farmacêutica) ainda era extensivamente usada quando a pesquisa foi publicada.
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Porque você (quase) nunca acredita em estudos médicos isolados Eles são usualmente falhos, tendenciosos e contraditos por pesquisas posteriores Gráfico 1: Dos 50.000 novos artigos de periódicos revisados anualmente, apenas 3.000 são julgados terem qualidade suficiente para resultar em cuidados com pacientes. Gráfico 2: De 49 estudos médicos altamente referenciados, 14 foram ou contraditos por estudos posteriores ou descobriu-se que tinham efeitos menores que os sugeridos. Gráfico 3: De 101 novas terapias ou medicamentos divulgados por estudos médicos como promissores, apenas 5 chegaram ao mercado. Gráfico 4: 85% – ou US$200 bilhões – dos gastos anuais com pesquisa são desperdiçados com pesquisas mal-projetadas ou redundantes. |
Infelizmente, entretanto, a descoberta de Zamboni era mais publicidade que avanço médico. O que não recebeu tanta atenção quanto sua busca romântica foi o fato de que seu estudo era pequeno e mal-projetado. Outros pesquisadores que tentaram replicar suas descobertas falharam. Logo, casos de complicações com pacientes e recaídas emergiram.
Este ciclo repete-se de novo e de novo. Um estudo inicial promete um milagre. A mídia alardeia o milagre. Os pesquisadores eventualmente descartam o milagre.
“Há uma grande, grande diferença entre como a mídia pensa sobre as notícias e como os cientistas pensam sobre as notícias”, Naomi Oreskes, professora de História da Ciência em Harvard, recentemente disse-me em entrevista. “Para vocês, o que faz uma notícia é o fato dela ser novidade – e isso cria uma tendência na mídia pela busca por resultados novos. Minha visão seria de que resultados recentes seriam os mais provavelmente errados”.
A maioria dos estudos médicos está errada
Enquanto a ciência está ralando, nós repórteres e nossas audiências agarram-se às “descobertas promissoras”. É excitante ouvir como é que uma nova idéia poderia – PODERIA – revolucionar a medicina e impedir algum mal que faça as pessoas sofrerem. Somos frequentemente cutucados por cientistas que adoram alarde, como Zambini, que estão sob pressão para atrair fundos de pesquisa e publicações.
Nós não esperamos por consenso científico; nós reportamos cedo demais, e levamos pacientes e responsáveis por políticas a caminhos ruins ou redundantes que terminam com esperança destruída e medicina falha.
Esta tendência poderia ser minimizada se ao menos nos lembrássemos de que a maioria esmagadora dos estudos médicos falha.
O repórte de saúde da Forbes, Matthew Herper, recentemente desfez um novo documentário sobre uma “miraculosa” cura do câncer. Enquanto as terapias experimentais mostradas no filme parecem ser o santo graal do tratamento do câncer no momento, elas também são as últimas em uma longa fila de tratamentos aparentemente “revolucionários”. De acordo com uma das fontes de Herper, na prática houve mais de 200 falhas de supostas “revoluções” no tratamento do câncer em anos recentes.
Um serviço altamente considerado que examina novos estudos de descobertas clínicas mostra que – na média – 3.000 de 50.000 novos artigos publicados a cada ano são bem projetados e relevantes o suficiente para determinar cuidados com pacientes. Isso são 6%.
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Mais frequentemente que não, estudos simples se contradizem – tais como as pesquisas sobre comidas que causam e previnem contra o câncer. A verdade pode ser encontrada em algum lugar na totalidade da pesquisa, mas nós reportamos cada estudo isoladamente, com manchetes chamativas. (Vinho tinto aumenta a sua vida numa semana, e te mata mais rápido na outra).
Para um estudo sobre se tudo o que comemos está associado com câncer, pesquisadores selecionaram aleatoriamente 50 ingredientes de receitas do livro de culinária da Escola de Culinária de Boston. A maioria dos alimentos tinha estudos relacionados, afirmando tanto resultados positivos quanto negativos.
Pesquisadores nem sempre podem reproduzir as descobertas de outros pesquisadores, e por várias razões muitos sequer tentam. Tudo isso dito, uma estimativa de 85% – US$200 bilhões – do gasto anual com pesquisa é desperdiçado com estudos mal-projetados ou redundantes.
Isso significa que a pesquisa médica mais recente estará provavelmente errada até que talvez, se tivermos sorte, ela esteja certa. Mais palpável, apenas uma pequena fração da nova ciência irá levar a qualquer coisa que seja útil para os humanos.
Não há cura o nosso vício em alarde médico
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Eu frequentemente me pergunto se há algum valor em reportar pesquisas em estágio muito inicial. Os periódicos publicam suas descobertas, e o público se apodera delas – mas não foi sempre assim: os periódicos foram imaginados para a discussão entre pares, não para consumo das massas.
Trabalhando no sistema atual, nós repórteres alimentamos as manchetes dos jornais e é difícil resistir ao apelo das descobertas chamativas. Somos inceitvados a achar coisas novas sobre as quais escrever, assim como os cientistas e instituições de pesquisa precisam atrair atenção ao seu trabalho. Os pacientes, é claro, querem melhores medicamentos, melhores procedimentos – e esperança.
Mas esse ciclo está nos ferindo, e está obscurecendo as verdades que a pesquisa tem a oferecer. (Apesar da ciência muito incipiente por trás da terapia da libertação, os afligidos por esclerose múltipla viajaram o mundo buscando por ela, e lançaram movimentos políticos pedindo recursos para financiar o tratamento).
De minha parte, tenho tentado reportar novos estudos em seu contexto, e usar revisões sistemáticas –
meta-análises de todos os melhores estudos sobre questões clínicas – sempre que possível. Quando os cientistas ou outros membros da mídia permaturamente alardeiam uma “nova revolução”, eu tenho tentado transmitir a realidade de que provavelmente não é uma revolução. Quanto mais faço isso, mais percebo a verdade no que os academicos Oreskes (de Harvard), John Ioannidis (de Stanford), e tantos outros pesquisadores respeitáveis têm reiterado ao longo dos anos: precisamos olhar além da ciência mais recente, para onde o conhecimento tem se acumulado. Lá, encontraremos vislumbres que nos ajudarão a ter vidas e sociedades mais saudáveis.
À medida que nos afastamos das “pílulas mágicas” e tratamentos miraculoso, acredito que vamos nos focar mais nas coisas que na prácita contam para a saúde – tais como educação, igualdade e ambiente.
Não é sempre fácil, e as forças que nos empurram para a pesquisa de ponta são poderosas. Mas eu tento proceder com cautela, e lembrar a mim mesma que a maioria do que estou vendo hoje é completamente falha, e de que há valor em olhar para trás.