O aconselhamento dietário ruim do governo

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Nina Teicholz


Por duas gerações, os americanos comeram menos ovos e outros produtos de origem animal porque os criadores das políticas nutricionais lhes disseram que a gordura e o colesterol eram ruins para a sua saúde. Agora, ambos os dogmas foram derrubados em rápida sucessão.

Primeiramente, no outono passado, especialistas do comitê que desenvolve as diretrizes dietárias do país reconheceram que descartaram a dieta com pouca gordura. Na quinta-feira passada, o relatório deste comitê foi liberado, com uma mudança ainda maior: ele removeu a restrição de longa data ao colesterol, dizendo que "não havia relação apreciável" entre o colesterol dietário e o colesterol sanguíneo. Os americanos, ao que parece, têm evitado desnecessariamente as gemas de ovo, fígado e frutos do mar por décadas. As novas diretrizes, as primeiras a serem publicadas em 5 anos, vão influenciar tudo desde merenda escolar a aconselhamento médico.

Como é que os especialistas erraram tanto ? Certamente, a indústria alimentícia sujou a água com seu lobby. Mas o principal problema é que a política nutricional há tempos tem confiado em um tipo de ciência muito fraco: estudos epidemiológicos ou "observacionais", nos quais os pesquisadores acompanham grandes grupos de pessoas ao longo de muitos anos. Mas mesmo os mais rigorosos estudos epidemiológicos sofrem de uma limitação fundamental. No melhor caso eles consegue mostrar apenas associação, e não causalidade. Dados epidemiológicos podem ser usados para sugerir hipóteses, mas não para prová-las.

Ao invés de aceitar que esta evidência era inadequada para dar aconselhamento sólido, cientistas de pulso firme estressaram a significância de seus estudos.

Muitos dos dados epidemiológicos que suportam o aconselhamento dietário governamental vem de estudos feitos pela Escola de Saúde Pública de Harvard. Em 2011, os diretores do Instituto Nacional de Ciências Estatísticas analizaram muitas das descobertas mais importantes de Harvard e descobriram que elas não podiam ser reproduzidas em testes clínicos.

Não é surpresa que as diretrizes nutricionais antigas agora estejam sendo desafiadas.

Em 2013, o conselho governamental para reduzir a ingestão de sal (que permanece no relatório atual) foi contradita por um estudo autoritativo do Instituto de Medicina. E diversas meta-análises recentes lançaram dúvidas sérias sobre se a gordura saturada está mesmo ligada à doença cardíaca – conforme as diretrizes continuam a afirmar.

Ciência incerta não deveria guiar a nossa política nutricional. De fato, reduzir a gordura e o colesterol, como os americanos tem conscientemente feito, pode ter piorado nossa saúde. Ao tirar dos nossos pratos a carne, ovos e queijo (gordura e proteína), nós comemos mais grãos, massas e vegetais amilosos (carboidratos). Ao longo dos últimos 50 anos, reduzimos a ingestão de gordura em 25% e aumentamos a de carboidratos em mais de 30%, de acordo com uma nova análise de dados governamentais. Ainda que a ciência recente tenha demonstrado cada vez mais que uma dieta rica em carboidratos, açúcar e grãos refinados aumente o risco de obesidade, diabetes e doença cardíaca – muito mais que uma dieta rica em gordura e colesterol.

Não é que as autoridades de saúde não foram alertadas. "Eles não estão agindo com base em evidência científica, mas com base em uma idéia plausível mas não-testada", avisou o Dr. Edward H. Ahrens Jr, um dos maiores especialistas da Universidade Rockefeller e crítico proeminente da doutrina de redução das gorduras e colesterol dietários na década de 80. Face à pressão urgente para oferecer uma solução para a crescente maré de doença cardíaca, entretanto, ele tornou-se a Cassandra dos nossos dias 

Hoje, estamos prestes a cometer os mesmos erros. O novo relatório do comitê também aconselha a eliminar a "carne magra" da lista de comidas saudáveis recomendadas, bem como reduzir ainda mais a carne vermelha e carnes processadas. Menos escolhas de proteínas vão no final das contas encorajar os americanos a comer ainda mais carboidratos. Também vai ter implicações políticas: a carne poderia ser limitada em merendas escolares e outros programas federais de alimentação.

É possível que uma dieta em sua maioria sem carne pudesse ser saudável para todos os americanos – mas novamente, poderia não ser. Simplesmente não sabemos. Não há ensaios clínicos rigorosos sobre tal dieta, e apesar de dados epidemiológicos existirem para adultos vegetarianos, não há nenhum para crianças.

Desde que as primeiras diretrizes nutricionais que restringiram a gordura saturada e o colesterol foram publicadas pela Associação Americana de Cardiologia em 1961, os americanos tem sido os sujeitos de um experimento vasto, sem controle e com consequências desastrosas. Temos que começar a observar com mais ceticismo os estudos epidemiológicos e repensar a política nutricional do zero.

Até então, seríamos espertos em retornar ao que funcionava melhor para as gerações anteriores: uma dieta que inclua menos grãos, menos açúcar e mais comidas animais como carne, laticínios integrais e ovos. Isso seria um começo decente.

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