A inflamação do leite A1 é tremenda

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Lara Briden

Para algumas pessoas, o leite de vaca é simplesmente devastador para a saúde. Nós podemos desejar que o leite seja saudável por causa do seu cálcio e proteína. Podemos esperar que ele seja melhor se for cru ou orgânico.

Mas não podemos fugir do fato de que uma das proteínas do leite – caseína A1 – é altamente inflamatória para algumas pessoas. Em indivíduos susceptíveis, a caseína A1 é quebrada para formar um opiáceo imuno-modulador chamado casomorfina.

Nem todas as vacas produzem caseína A1. Ela vem de vacas Holstein e Friesian, que são as raças dominantes na Europa ocidental, América do Norte e Austrália. Vacas leiteiras na África, Ásia, Islândia e sul da Europa produzem leite principalmente com caseína A2. Estes países têm incidências mais baixas das condições discutidas abaixo.

Leite que tem predominante ou exclusivamente a caseína A2 está ok para a maioria das pessoas. Esbarro com isso o tempo todo na minha clínica. Leite de cabra é A2. E também o leite de vacas Jersey. Laticínios que são quase exclusivamente gordura – como manteiga – também estão ok.

Quais condições sofrem com o leite A1 ?


Caseína A1 é um gatilho para o diabetes tipo 1 (a pesquisa sobre isso é fascinante). Também está altamente implicada em doença arterial coronariana e doenças autoimunes.

A caseína está envolvida – junto com o glúten – no autismo e esquizofrenia. A evidência é que a casomorfina seja mais danosa ao cérebro que a gliadorfina do glúten.

O efeito da casomorfina, similar ao de drogas, explica o motivo de ela piorar a ansiedade e desordens do humor, e causar compulsões por laticínios e açúcar (causa sintômas de abstinência quando é interrompida).

A inflamação da caseína A1 causa congestão linfática, supressão metabólica e ganho de peso.

O leite A1 pode piorar a acne, eczema e infecções do trato respiratório superior, asma e alergias.

Ela causa problemas digestivos, e não por causa da lactose, mas por causa da liberação maciça de histaminas da casomorfina.

Na minha prática hormonal, vejo que a caseína A1 leva à endometriose. Acredito que faça isso por causa de seu efeito inflamatório e perturbador da imunidade. Ainda estou para ver um caso de endometriose que não melhorasse evitando leite A1.

Quem é afetado ?


Algumas pessoas se dão bem com a caseína A1 (elas desativame e eliminam a casomorfina com segurança). Não há um teste simples. Isso não é uma alergia.

O problema ocorre em pessoas que:

  1. não têm as enzimas digestivas para desativar a casomorfina ou
  2. tem permeabilidade intestinal que permite ao peptídeo reativo entrar na corrente sanguínea
  3. ambos
A pista clínica pela qual busco é: infecções recorrentes do trato respiratório superior, quando criança. Sejam infecções de ouvido, bronquite ou tonsilite. Tais infeções foram induzidas pela caseína A1, e na idade adulta, a mesmo imuno-perturbação manifesta-se como outras condições inflamatórias.

Cru é melhor ?


Certos tipos de pasteurização aumentam a quantidade de casomorfina em laticínios A1, então leite cru pode ser melhor. Meu instinto é que ser cru não resolve o problema. Precisamos deixar de lado as vacas Holstein.

Se você quer saber mais sobre caseína A1, por favor leia o livro do professor neozelandês Keith Woodford, Devil in the Milk: Illness, Health, and the Politics of A1 and A2 Milk (Em tradução livre: "O diabo no leite: Doença, Saúde e a política dos leites A1 e A2"). Eu passei uma tarde inteira lendo-o (como um garoto lendo Stephen King), e amo seu estilo de escrita. Quando ele se refere a vários estudos, dá um passo extra ao "verificar os números" ele mesmo.

A indústria de laticínios na Austrália e Nova Zelândia está introduzindo o alelo A2 em seus rebanhos, e leite A2 está agora disponível na maioria dos supermercados (rotulado como A2).

Referências


  1. 2014 Research Update: New peer-reviewed study in the European Journal of Nutrition: Comparative evaluation of cow β-casein variants (A1/A2) consumption on Th2-mediated inflammatory response in mouse gut. PMID 24166511. (Evidence that A1 beta-casein (but not A2 casein) generates inflammatory markers including myeloperoxidase (MPO) and interleukin-4 (IL-4).)
  2. New Human study: Comparative effects of A1 versus A2 beta-casein on gastrointestinal measures: a blinded randomised cross-over pilot study. PMID: 24986816
  3. 2014 Alert with regard to labelling: Some Australian dairy brands have started putting “A2 protein” on their labels. That is misleading because they still contain 50% A1 Casein. Please choose the A2 brand, which contains exclusively A2.


Um bocado de gente tem me perguntado sobre o tipo de leite produzido no Brasil. A resposta não é simples. Ao que parece, o gado zebuíno (Gir, Nelore, Guzerá) produz leite A2 em maior proporção. As raças européias (Holandês, Jersey) produzem proporções maiores de A1.

O problema é que o mercado brasileiro ainda não liga para essas coisas, e mistura todos os leites na hora de embalar ou fazer laticínios... Além disso, há muitas raças híbridas de gado zebu e europeu. Impossível adivinhar a proporção de leite A1 que produzem...

Leia mais:




Comentários

  1. e as vacas brasileiras produzem qual tipo de leite?

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    1. Dá uma conferida nesse artigo aqui: http://www.enxaqueca.com.br/blog/o-leite-a2/

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  2. Olá Hilton...
    Estou com a mesma dúvida que o Diego... acho que muitos leitores seus ficarão com esta dúvida...
    Qual tipo de vaca temos no Brasil???
    E qual tipo de leite ela produz???
    Pesquisei e não encontrei...
    Obrigada!

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    1. Dá uma conferida nesse artigo aqui: http://www.enxaqueca.com.br/blog/o-leite-a2/

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  3. "Uma pesquisa genética de nossos patrícios da USP de São Carlos demonstrou que todas as raças zebuínas ainda produzem leite A2 na sua quase totalidade (números bem próximos a 100%), não tendo sido afetadas por aquela mutação genética. Ponto para os criadores de Gado Gir Leiteiro. Além das características já conhecidas de rusticidade e resistência a parasitos externos, aparece agora mais essa vantagem, o leite do Gir é não-alergênico.

    Nas raças taurinas (européias), apenas a raça Guernsey, que já foi a raça leiteira mais criada no Brasil e infelizmente quase se extinguiu devido a vários fatores, e que agora está retornando e aumentando em nível mundial, produz exclusivamente o Leite A2, ficando a raça Jersey em segundo lugar com 75% de leite A2 e 25% de leite A1 alergênico e a raça holandesa com 50% de leite A1 e 50% de leite A2."

    fonte (créditos ao Hilton Teimosia): http://www.enxaqueca.com.br/blog/o-leite-a2/

    Lendo esse dois parágrafos conclui-se que no passado, aqui no Brasil, todo ou quase todo o gado leiteiro proporcionava leite A2. Mas por outro lado, nada se diz sobre os criadores de gado de hoje, a unica certeza pelo artigo sao os criadores de Gado Gir Leiteiro, que possuem leite A2.

    Então permanece a questão, afinal, quantos/quais produtores possuem leite A2?

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  4. Obs.: os comentários deste artigo também valem a leitura!

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  5. Talvez você não possa me responder, mas tenho dúvida se o gado que a minha avó cria lá no nordeste produz leite A2 (acredito que sim). Eu verifiquei que a raça dele é "pe-duro". Eu não consegui encontrar nada relacionado.

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    1. Olá, Gabriel. É impossível saber, sem fazer uma análise do leite... O fato de ser pé-duro quer dizer que houve incontáveis cruzamentos entre raças - provavelmente houve animais que tinham maior produção de A1 reproduzindo com animais A2...

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