Das gorduras aos carboidratos à síndrome metabólica
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Axel Sigurdsson
O tempo nos deixa gordos. Não é um mito, é um fato biológico. Quando envelhecemos, engordamos. em dezembro de 1863, William Banting, um coveiro inglês que fez grande esforço para tratar sua própria obesidade, escreveu em sua famosa Carta sobre a corpulência:
... pois eu fui em geral informado que a corpulência é o resultado natural do passar dos anos...
É claro que engordar não seria um problema se não afetasse nossa qualidade de vida e risco de doença. Banting também escreveu:
... E ainda assim o mal aumentou e, como os mariscos parasitas em um navio, se não destruir a estrutura, ele obstrui a beleza e o progresso confortável pelo caminho da vida.
Entretanto, a associação da obesidade com o envelhecimento não significa que ficar gordo e sofrer suas consequências é inevitável. De fato, sabemos que algumas pessoas nunca engordam, e que algumas engordam mais que outras. Entretanto, apesar de haver influências genéticas e outros fatores que não podemos controlar, temos que compreender que grande parte é sobre como vivemos nossas vidas.
Está bem documentado que a obesidade está associada com risco aumentado de pressão arterial, desordens lipídicas e diabetes tipo 2, as três marcas da síndrome metabólica. Entretanto, tenha em mente que apesar de a obesidade viajar com estas condições, ela não é necessariamente a sua causa.
Às vezes tendemos a nos focar demais na obesidade como um problema por si. Se a observarmos de maneira ligeiramente diferente, parece que alguns aspectos da vida moderna, juntamente com um número de fatores genéticos e ambientais conhecidos e desconhecidos, criou uma desordem metabólica com consequências múltiplas, uma das quais é a obesidade. Outras consequências desta desordem, à parte das marcas da síndrome metabólica, são a doença cardiovascular, a doença hepática gordurosa não-alcóolica, a síndrome do ovário policístico, câncer e demência.
Síndrome metabólica e resistência à insulina
Se William Banting estivesse vivo hoje em dia, poderíamos provavelmente tê-lo diagnosticado com síndrome metabólica. Ele não tinha histórico familiar de obesidade e não considerava-se preguiçoso ou inativo, e ainda assim a obesidade cresceu nele na casa dos 30 anos.
A primeira descrição da síndrome metabólica pode ser traçada de volta a Eskil Kylin (1889-1975), um médico e cientista sueco que descreveu um grupo de condições, incluindo pressão alta, glicemia alta, obesidade e níveis altos de ácido úrico que pode levar à gota. Ela veio mais tarde a ser chamada de "síndrome X", ou mais comumente síndrome metabólica.
As cinco condições descritas abaixo são usadas apra definir a síndrome metabólica. Tres destas precisam estar presentes para a condição ser diagnosticada.
- grande circunferência abdominal
- alto nível de triglicérides
- baixo nível de HDL
- pressão sanguínea elevada
- glicemia elevada
A síndrome metabólica não é uma desordem rara e sua prevalência vem crescendo rápidamente. Acredita-se que 70 milhões de americanos sofram com ela.
Em sua palestra Banting, na Associação Americana do Diabetes em 1988, Gerald M. Reaven propôs a resistência à insulina como o fator subjacente da síndrome metabólica. Desde então tem sido reconhecido que a resistência à insulina tem papel chave e o termo "síndrome da resistência à insulina" tem sido usado por alguns especialistas.
Insulina é um hormônio secretado pelo pâncreas. Ele tem um papel importante para o metabolismo dos carboidratos dietários. A resistência à insulina é definida como uma resposta diminuída a dada concentração de insulina. A maioria das pessoas com resistência à insulina tem níveis elevados de insulina no sangue.
Quando as ações da insulina são prejudicadas, o metabolismo de carboidratos torna-se anormal. Esta condição foi chamada de intolerância ao carboidrato. Ela reflete a habilidade alterada do corpo de metabolizar carboidratos quando a resistência à insulina está presente.
Em seu livro, "Por que engordamos: o que fazer a respeito", Gary Taubes argumenta que a insulina tem papel chave no acúmulo de gordura no corpo:
... Primeiro, quando os níveis de insulina estão elevados, acumulamos gordura no nosso tecido adiposo: quando estes níveis caem, liberamos gordura desse tecido e a queimamos como combustível
... Segundo, nossos níveis de insulina são efetivamente determinados pelos carboidratos que comemos.
O papel dos carboidratos
A imagem abaixo é de um artigo recente publicado por Richard D. Feinman e colegas, mostrando dados do NHANES (Questionários de Exame Nacional de Saúde e Nutrição) indicando um grande aumento nos carboidratos como maior contribuinte ao excesso calórico nos EUA de 1974 a 2000. A quantidade total de gordura diminuiu para os homens no período, e mostrou apenas leve aumento para mulheres.
Consumo de macronutrientes durante a epidemia de obesidade e diabetes tipo 2. Dados do NHANES por ano, e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças. No detalhe, a incidência de diabetes (milhões de pessoas com diabetes indicadas por ano). Dados de Gross LS et al.
Durante o mesmo período, a obesidade aumentou dramaticamente e também a prevalência da diabetes. Hoje, 70% dos adultos nos EUA são classificados como sobrepesados ou obesos, em comparação com 40% 40 anos atrás. Se a relação entre o consumo aumentado de carboidratos e o aumento da obesidade e diabetes é causal ou não, ainda é assunto de debate. Entretanto, a a falta de qualquer relação entre o consumo de gordura total e saturada e a prevalência de obesidade e diabetes é chocante.
Ainda assim, para ser justo, é preciso enfatizar que a mortalidade devido a doença coronariana diminuiu significativamente na maioria dos países durante os últimos 40 anos. Dados sobre a incidência são difíceis de achar, particularmente nos EUA, mas evidências de muitos países europeus sugere que incidência caiu também. Então, menos pessoas são diagnosticadas com doença coronariana e menos pessoas morrem dela. Entretanto, a prevalência da doença cardíaca ainda é muito alta. A população está envelhecendo e as pessoas frequentemente vivem com doença cardíaca por décadas.
É claro que a queda dramática na mortalidade devido a doença coronariana é devida a múltiplos fatores. A terapia médica e cirúrgica melhorou. Estudos também mostraram que menos tabagismo, colesterol mais baixo e melhor controle da pressão, todos contribuíram marcadamente para a menor mortalidade. Enquanto isso, no entanto, a prevalência de obesidade e diabetes estão indo na direção oposta.
O que fazemos sobre isso ?
A maneira mais eficiente de resolver um problema é achar suas causas. Entretanto, quando o assunto é obesidade e de síndrome metabólica, fica complicado porque ainda não sabemos, ou no mínimo não concordamos, sobre as causas subjacentes. Há diversos contribuintes potenciais, entre eles o aumento da ingestão calórica, mudanças na composição das nossas dietas, menos atividade física e mudanças na microbiota intestinal.
Em um apanhado geral do Jornal Americano do Colégio de Cardiologia, o Dr. Carl Lavie e colegas argrumentam que o declínio progressivo da atividade fícisa por mais de 5 décadas causou primariamente a epidemia de obesidade. Sua pesquisa demonstrou declínios muito marcados no gasto energético ligado à atividade física relacionada ao trabalho durante os últimos 50 anos.
Seguindo a publicação do artigo de Lavie, Larry Husten escreveu um artigo na Forbes, ressaltando um possível conflito de interesses. Hustem escreve:
Gary Taubes argumenta que não engordamos porque comemos demais. Ele acredita que tudo se resume a um desequilíbrio hormonal:
Em um apanhado geral do Jornal Americano do Colégio de Cardiologia, o Dr. Carl Lavie e colegas argrumentam que o declínio progressivo da atividade fícisa por mais de 5 décadas causou primariamente a epidemia de obesidade. Sua pesquisa demonstrou declínios muito marcados no gasto energético ligado à atividade física relacionada ao trabalho durante os últimos 50 anos.
Seguindo a publicação do artigo de Lavie, Larry Husten escreveu um artigo na Forbes, ressaltando um possível conflito de interesses. Hustem escreve:
...O artigo diminui o papel das calorias e da dieta e não inclui as palavras "açúcar", "refrigerante" ou "bebida". Três dos quatro autores do artigo reportam ligações financeiras com a Coca-Cola...
Gary Taubes argumenta que não engordamos porque comemos demais. Ele acredita que tudo se resume a um desequilíbrio hormonal:
... o estímulo da secreção de insulina causado pela ingestão de comidas ricas em caroidratos facilmente digeríveis: carboidratos refinados, incluindo farinha de trigo e grãos cereais, vegetais cheios de amigo como batatas, e açúcares, como a sacarose (açúcar de mesa) e o xarope de milho de alta frutose. Estes carboidratos literalmente nos deixam gordos, e ao nos levarem a acumular gordura, nos deixam com mais fome e nos tornam sedentários.
Organizações de saúde pública e sociedades médicas geralmente advogam um dieta com pouca gordura, rica em carboidratos e deficiente em energia, para controlar o peso. A Associação Americana de Cardiologia acredita que devíamos abordar a síndrome metabólica reduzindo o nosso peso; aumentando a nossa atividade física; comendo uma dieta saudável para o coração que seja rica em grãos integrais, frutas, vegetais, carnes magras e peixe, e laticínios desnatados ou semi-desnatados, e evitando comida processada - que frequentemente contém óleos vegetais parcialmente hidrogenados e é rica em sal e açúcar adicionado.
... restrição de carboidratos parece ser um método efetivo para lidar com as doenças metabólicas induzidas pelo estilo de vida, e suas consequências. Entretanto, a menos que profissionais e autoridades médicas reconheçam o potencial desta abordagem, não podemos esperar muito sucesso.
Em seu recente livro publicado, "The Big Fat Surprise", Nina Teicholz escreve sobre as mudanças na dieta americana desde que as diretrizes dietárias foram publicadas nos anos 70:
... desde os anos 70, aumentamos com sucesso o nosso consumo de frutas e verduras em 17%, grãos em 29%, e reduzimos a quantidade de gordura de 43 para 33% das calorias...
Teicholz então reflete sobre os marcantes aumentos na obesidade e diabetes nos EUA:
...É um quadro trágico para uma nação que de acordo com o governo, tem seguido fielmente todas as diretrizes dietárias oficiais por tantos anos. Se temos nos portado tão bem, podemos perguntar, então por que nossa saúde está tão ruim ?...
Evidência existente indica que a restrição de carboidratos positivamente afeta a maioria dos pontos essenciais da síndrome metabólica. Perda de peso é geralmente obtida, circunferência abdominal é diminuída, pressão arterial é melhorada, triglicérides de HDL melhoram, há menos resistência à insulina, e o metabolismo de glicose melhora.
Independente da epidemia de obesidade ocorrendo bem no nosso nariz, ainda há discórdia sore suas causas subjacentes fundamentais. Consequentemente, os especialistas discordam em como lidar com ela. Infelizmente, as autoridades de saúde pública não tem sido capazes de oferecer muito direcionamento. Entretanto, observando as evidências disponíveis, restrição de carboidratos parece ser um método efetivo para lidar com as doenças metabólicas induzidas pelo estilo de vida, e suas consequências. Entretanto, a menos que profissionais e autoridades médicas reconheçam o potencial desta abordagem, não podemos esperar muito sucesso.
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