
“Definido estritamente, o sobrediagnóstico ocorre quando pessoas sem sintomas são diagnosticadas com uma doença que, em última instância, não faria com que apresentassem sintomas ou morressem precocemente. Definido mais amplamente, ele se refere a problemas relacionados a excesso de medicalização e sobretratamento subsequente, perigo do diagnóstico, mudança de limiares e alarmismo da doença – todos processos que ajudam a reclassificar pessoas saudáveis com problemas pequenos ou em baixo risco como doentes.”
Soa familiar ? Que tal alguns exemplos, direto do texto ?
- Asma – um estudo canadense sugere que 30% das pessoas com o diagnóstico podem não sofrer de asma, enquanto 66% delas podem não precisar de medicação.
- Hipertensão arterial – uma revisão sistemática sugere a possibilidade de sobrediagnóstico substancial.
- Colesterol alto – estima-se que até 80% das pessoas com colesterol quase normal tratadas a vida toda podem ser sobrediagnosticadas.
“Ao contrário das noções populares de que os tipos de câncer são universalmente nocivos e fatais, alguns podem regredir, deixar de progredir ou progredir tão lentamente que não causarão danos antes que o indivíduo morra por outras causas.”
Mas não é disso que estou falando… O ponto é esse:
“Evidências de estudos de autópsias sugerem um grande reservatório de doença subclínica na população em geral, incluindo câncer de próstata, tireoide e mama, cuja maior parte nunca causou danos. De maneira similar, rastrear o coração de pessoas sem sintomas ou em baixo risco também pode levar ao sobrediagnóstico de aterosclerose coronária e a subsequentes intervenções desnecessárias. (…)
Exames de imagens diagnósticas do abdome, da pelve, do tórax, da cabeça e do pescoço podem revelar “achados acidentais” em até 40% dos indivíduos que estão sendo examinados por outros motivos. Alguns deles são tumores, e a maior parte desses “acidentalomas” é benigna. Um número muito pequeno de pessoas se beneficiaria da detecção precoce de um tumor maligno acidental, enquanto outras sofreriam de ansiedade e efeitos adversos de outros exames e tratamentos de uma “anormalidade” que jamais as teria prejudicado.”
E mais ainda, o que quero apontar são os motivadores do sobrediagnóstico (grifo meu):
- Mudanças tecnológicas que detectam “anormalidades” cada vez menores.
- Interesses comerciais e profissionais velados.
- Grupos com conflitos de interesse que produzem definições expandidas de doenças e redigem diretrizes.
- Incentivos legais que punem o subdiagnóstico, mas não o sobrediagnóstico.
- Incentivos do sistema de saúde que favorecem mais exames e tratamentos.
- Crenças culturais de que mais é melhor; fé na detecção precoce não modificada pelos seus riscos.