Dallas Buyers Club
Se você ainda não assistiu "Dallas Buyers Club", vá correndo ver e depois volte aqui.
O texto abaixo revela detalhes do filme, então se ainda não viu e pretende ver, não leia agora!
O filme é baseado na história real de Ron Woodroof, que se descobriu, machão assumido que era, portador de HIV em meados dos anos 80 - quando a AIDS ainda era pouco estudada e estigmatizada como doença de homossexuais.
Sem muitas alternativas e com apenas 1 mês de vida (estimativa dos médicos), o Ron começou a testar medicamentos experimentais em si - e onde todo mundo veria apenas limões, ele viu uma limonada e ajudou muita gente (além de faturar uma grana).
Opondo-se ao aconselhamento médico da época, que cismava em entupir os pacientes de AZT, Ron conseguiu para si uma sobrevida de 7 anos - bem mais que os 30 dias que o doutor lhe havia dado. A dose de AZT recomendada, no decorrer dos anos, caiu assustadoramente e foi combinada com outros medicamentos e terapias, chegando ao tratamento moderno anti-HIV que temos. No frigir dos ovos, Ron fez bem em não tomar a superdosagem que era prescrita nos testes da FDA na época.
Sim, o ponto do artigo está ligado ao comportamento da nossa velha amiga, a FDA - equivalente à ANVISA no Brasil.
É claro que o papel de uma instituição governamental de controle é controlar, no sentido de oferecer à população produtos alimentícios e medicamentos eficazes e seguros - mas o que aconteceu com o Ron, e que ainda acontece hoje em dia, remete àquela velha letra d'Os Raimundos:
(...)
Decidindo o destino dos outros como se fosse Deus
Atrás da mesa o açougueiro comanda
E a intolerância me manda de novo pro banco dos réus
Armando com propaganda.
(...)
Chegou a hora de mudar, de por sangue novo
E deixar essa porta sempre aberta pro povo
(...)
A justiça não me olha, porque é cega
Mas o seu dinheiro na carteira ela enxerga
A lei do cão não é nada mais que a própria lei do homem
(...)
E quanto mais eu olhava, aumentava a crença
De que o guarda do seu lado não é nada que você pensa"
No filme, a FDA se mostra (novamente) um fantoche da indústria farmacêutica, chegando ao ponto de negar a um paciente terminal a escolha de comprar e tomar ele mesmo um remédio experimental.
Alguém consegue ver o tamanho da injustiça e incoerência nisso ? E as semelhanças com o aconselhamento nutricional de hoje em dia ?
Quem é que tem mais a perder com a diminuição da venda de medicamentos contra colesterol, diabetes, hipertensão e cardiopatias ? Quem é que mais perde com a diminuição das cirurgias bariátricas ? Quem é que perde com a redução da (falsa) necessidade crônica de se fazer exercícios em academias e comprar pílulas mágicas ? Quem é que perde quando deixamos de comprar porcarias feitas com farinha e recheadas com açúcar e gordura trans ?
Armados com propaganda, nos empurram medo goela abaixo, todo dia. Aqui, cito outro luminar do cancioneiro nacional: Renato Russo.
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês"
O contexto da letra é outro (até pelo nome, "Geração Coca-Cola" :-), mas as palavras caem muito bem.
Faça como o mote do filme: "Dare to live".
Ouse viver!
Esse filme é EXCEPCIONAL!
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