Dane-se a sua dieta pobre em gordura: Como um vegano reformado se entope com as comidas que a sua avó gostava... e nunca se sentiu melhor

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por John Nicholson

À medida que a cozinha se enchia com o cheiro de carne caramelizada, minha boca aguava em antecipação da festança por vir: um bife grosso e macio, frito na manteiga e azeite de oliva.

Isso não era uma guloseima regular. De fato, nos 26 anos anteriores, eu tinha sido vegano - evitando não apenas a carne, mas todos os produtos animais.

Minha dieta era uma versão extrema do regime "Coma bem" do Sistema Nacional de Saúde (SNS), que recomenda muita comida cheia de amido e pequenas quantidades de gordura saturada, colesterol, açúcar e carne vermelha.

Em 2010, John Nicholson decidiu abandonar o suposto 
estilo de vida saudável e abraçar a boa e velha carne


De acordo com o aconselhamento governamental, eu estava fazendo tudo certo - e ainda assim a minha saúde nunca esteve pior. O meu peso tinha aumentado ao longo dos anos, até que em 2008 eu cheguei a pesar 92kg - que é um bocado de gordura para quem tem 1.77m - e fui classificado como clinicamente obeso.

Eu me chacoalhava por aí, suando e sem fôlego, brigando com um colesterol extremamente alto e sofrendo de indigestão crônica. Estava sempre cansado e precisava tirar cochilos toda tarde. Tinha dores de cabeça constantes, engolia paracetamol e antiácidos como se fossem bala.

Pior de tudo, eu tinha síndrome do intestino irritável (SII), que me deixava sentindo como se tivesse pesos de chumbo nas tripas. Minha barriga ficava inchada e distendida após cada refeição. Eu estava, para usar um termo técnico, lascado.

Mas isso estava a ponto de mudar. Em 2010, decidi largar minha suposta vida saudável e abraçar a boa e velha carne.

Daquele dia em diante, comi carne vermelha quatro ou cinco vezes por semana. Comi a gordura das costelinhas, a pele do frango, pele de porco estalando. Me enchi de tudo o que somos ensinados a evitar. Os resultados foram instantâneos.

24 horas após comer carne novamente, todos os meus sintomas de SII tinham desaparecido. À medida que as semanas e meses passaram, cada aspecto da minha saúde melhorou dramaticamente. Fiquei mais magro, deixando a gordura corporal para trás e me tornando mais forte e condicionado. Minhas dores de cabeça se foram, para nunca mais voltar. Até a minha libido aumentou.

Me senti jovem novamente, como uma ressureição. Mas apesar de me sentir energizado, eu também estava furioso.

Mudança de dieta: John era gordo e doente enquanto vegano, à esquerda, 
mas agora é o retrato da saúde como um comedor de carne, à direita


Furioso comigo mesmo por aderir ao "saudável" aconselhamento sobre alimentação, que na prática estava longe de ser uma dieta sensata. Mas também furioso com os chamados "experts" que tem nos empurrado essa armadilha com muito carboidrato e pouca gordura por tanto tempo que ninguém pensa em questionar.

Minha avó materna teria certamente confrontado isso. Assim como meu avô, ela nasceu numa família pobre de East Yorkshire na virada do século e a alimentação deles era simples: carne e pelo menos dois vegetais por refeição, montes de manteiga e creme de leite gordo (eles teriam feito pouco caso do iogurte como pouco mais que "leite estragado"), pão, batatas, bolo e pudins.

Nada os teria feito sair daquele estilo de vida. Se uma dieta com pouca gordura fosse sugerida por um médico, a vovó teria dito na cara dele que tudo isso era lixo, e que você precisaria de gordura para "manter o frio de fora".

Se ela pudesse ter visto as pessoas comprando leite desnatado hoje em dia, ela teria pensado que elas ficaram doidas. Livrar-se da melhor parte do leite ? Loucura.

Mais tarde na vida, eu me lembro dela fazendo piada com o conselho de limitar o consumo de ovos por causa das preocupações com colesterol. Em uma ocasião, ela assistiu assombrada um desses cozinheiros-celebridades da TV fazer um omelete com claras de ovo. "É um idiota, esse sujeito", ela disse.

Acontece que ela estava certa em ser cética. Por anos as autoridades nos disseram que comidas ricas em colesterol nos matariam - mas já aprendemos que isso é um disparate absoluto.

Enquanto Ancel Keys, o cientista cuja pesquisa nos anos 1950 primeiro ergueu preocupações sobre níveis de colesterol, sugeria que doença cardíaca estava ligada a grande quantidade de colesterol no sangue, ele nunca afirmou que esses níveis estavam ligados à quantidade de colesterol que comemos.

"Não há qualquer conexão entre o colesterol na comida e o colesterol no sangue", disse ele em um artigo de revista em 1997. "E nós já sabemos disso há tempos".

Desde então, a paranóia do SNS sobre o colesterol na comida foi substituída pelas preocupações sobre gordura saturada - encontrada em tudo de manteiga, queijo e creme a tortas, bolos e biscoitos.

Eles sugerem que a gordura saturada aumenta o risco de doença cardíaca. Mas isso está aberto para debate.

A França tem a taxa mais baixa de morte por doença coronariana na Europa, e ainda assim o país tem o consumo mais alto de gordura saturada.

A vovó chegou aos 80, e o vovô aos 70, apesar de trabalhar nas minas a sua vida inteira. Eles conseguiram isso comendo cremes sem gordura, óleo de soja ou leite desnatado ? Não, eles viviam de produtos antiquados como manteiga, banha e gordura de vaca. De fato, um corpo crescente de opiniões sugere que os produtos feitos em fábricas que tem substituído os alimentos básicos - óleos vegetais, margarina poliinsaturada e cremes - são a causa real das doenças degenerativas tão comuns hoje em dia.

Estudos pela Fundação Weston A. Price, uma organização de pesquisa americana sem fins lucrativos, mostram que a maior parte dos casos de ataque cardíaco no século XX foram de uma forma previamente conhecida como infarto do miocárdio (IM) - um grande coágulo sanguíneo levando à obstruçaõ da artéria coronária.

Saudável: a paranóia do SNS sobre o colesterol na comida foi substituída por 
preocupações sobre a gordura saturada encontrada em tudo de manteiga, queijo 
e creme até tordas, bolos e biscoitos


IM era quase inexistente nos EUA em 1910, e não causava mais de 3.000 mortes por ano em 1930. Entretanto, por volta de 1960, houve no mínimo 500.000 mortes por IM ao ano país afora.

Certamente não pode ser uma coincidência que isso aconteceu enquanto os EUA abraçavam uma nova dieta baseada em porções cada vez maiores de comidas altamente processadas e óleos vegetais ?

Mudanças similares na dieta nacional entraram em prática na Grã-Bretanha durante a minha juventude e não posso deixar de imaginar se meu pai ainda estaria vivo hoje se não tivesse sido por essas alterações.

Eu cresci no noroeste durante os anos 60, e não tinha idéia do que era "comer saudavelmente". As poucas pessoas que pensavam sobre sua dieta eram vistas como esquisitas.

Ninguém pensava que a comida fosse um problema, a menos que fosse a quitanda da esquina ficando sem linguiças numa sexta-feira. Comíamos pudim de tutano toda semana, nossos ovos e bacon eram fritos na banha, o leite era integral - não tenho certeza se leite desnatado existia nos anos 60 - e comíamos ovos todos os dias.

Então, nos anos 70, as coisas mudaram. Ficamos mais ricos e a comida tornou-se mais barata. Mamãe começou a comprar mais bolos e confeitos ao invés de assá-los em casa. Comiamos mais comida comprada em lojas, geralmente.

Ela também parou de usar banha para fritar, optando por sprays de margarina. A vovó não gostou. Ela achava que óleos vegetais eram uma modinha recém-criada - e era mesmo, sendo precisamente esse o motivo de mamãe gostar. Ela via isso como um avanço, moderno e na moda.

Papai nunca fazia qualquer exercício e dirigia para toda parte em seu recém-recebido carro da empresa.

Mais comida processada, margarina, açúcar e óleo vegetal, combinado com dias gastos atrás de uma mesa e de um volante, e ele ganhou uma barriga considerável e o formato de "maçã" tão comum hoje em dia. Em 1987, ele morreu de um ataque cardíaco maciço, com apenas 65 anos.

Sua dieta nos anos finais não era uma que teria agradado a vovó. Ela era veementemente contra a margarina.

"Eu não vou comer nada feito numa fábrica", ela dizia. "Você não sabe o que puseram aí".

Era um medo compartilhado por muitos da época dela. Se eu tivesse dado ouvido a esses ouvidos, teria evitado minha batalha com a comida processada, sob a forma de soja - o grão cujos extratos industrialmente produzidos são comercializados como "de pouca gordura" e fontes excepcionalmente saudáveis de proteína.

Hoje, a soja está em toda parte. Cerca de 2/3 de toda a comida processada nos EUA contém alguma forma de soja. Essa percentagem não vai ser muito diferente aqui - você ficaria assombrado com a frequência com que come soja "escondida".

Quando a minha companheira, Dawn, e eu decidimos nos tornar veganos durante os anos 80, tais praticantes ainda eram raros na Grã-Bretanha. Essa mudança de estilo de vida veio pouco depois de nos graduarmos na Politécnica de Newcastle e nos mudarmos para uma casinha alugada no norte da Escócia, para viver de forma auto-sustentável.

Quando uma das nossas galinhas ficou doente, foi incrivelmente difícil para nós sacrificá-la. e começamos a duvidar se matar - ou comer - animais era para nós.

Não víamos o motivo pelo qual outra pessoa deveria fazer o nosso trabalho sujo por nós, então em janeiro de 1984 comemos os nossos últimos sanduíches de bacon e embarcamos na nossa mudança dramática de estilo de vida.

Mais ou menos nessa época, os governos dos EUA e da Europa estavam recomendando que as pessoas diminuíssem a ingestão de gorduras animais, colesterol e carne vermelha em favor de mais comidas cheias de amido, frutas, legumes, verduras e grãos integrais.

Esse novo aconselhamento nutricional saudável tinha muito em comum com a dieta vegetariana. Sentimos que estávamos seguindo por um caminho dourado, especialmente quando descobrmos as aparentes maravilhas da soja.

 Nos anos 60, as pessoas não se estressavam sobre sua dieta e regularmente consumiam coisas 
como peixe e batatas fritas, pudins de tutano e bacon com ovos fritos na manteiga

Só mais tarde descobrimos que a pesquisa pela Fundação Weston A. Price tinha sugerido que comidas processadas a partir de soja são ricas em substâncias químicas chamadas inibidores de tripsina, que atrapalham a digestão de proteínas. Eu acredito que foi isso o que criou  todos os meus problemas com a SII

A soja também já foi associada com hipotiroidismo, ou com uma tiroide sub-ativa, uma condição cujos sintomas incluem ganho de peso inexplicável, falta de energia e depressão - todos problemas que Dawn começou a apresentar. Esses problemas fora exacerbados por outros problemas de saúde causados pela nossa dieta.

Como consumidores vorazes de oleaginosas, leguminosas e grãos integrais, nossa dieta era muito rica em cobre, e por falta da proteína animal, pobre em zinco. Alguns pesquisadores já relacionaram esse desequilíbrio a sensações constantes de fadiga, coisas com as quais Dawn e eu éramos muito familiares.

Por anos, nós demos ao SNS todas as chances de descobrir o que estava errado conosco e nos deixar bem. Mas os médicos não conseguiram - talvez porque eles sequer considerassem que a nossa aparentemente saudável dieta pudesse ser o problema.

Finalmente, em desespero, Dawn sugeriu que tentássemos comer carne novamente. Ao mesmo tempo, eliminamos todos os óleos vegetais, exceto azeite de oliva, e comemos montes de banha, gordura de carne, manteiga, creme e leite integral.

Também cortamos as comidas ricas em amidos tais como pão, que contém um componente que causa grandes variações de glicemia, levando a um ciclo de fome e alimentação excessiva.

Reconhecidamente, a ausência de pão é um aspecto da nossa nova dieta que teria feito a vovó perguntar se eu tinha ficado de "miolo mole". Na época dela, precisava-se de muitos carboidratos para sustentar suas vidas fisicamente demandantes, mas nós somos muito mais sedentários.

Mas tenho certeza de que ela teria aprovado todo o resto sobre a nossa nova dieta, porque sua geração sabia comer direito. Essa é uma habilidade que esquecemos, com a lavagem cerebral sofrida nas mãos do governo e da propaganda médica.

É hora de nos relembrarmos disso, questionarmos o aconselhamento nutricional "saudável" que recebemos diariamente e optarmos ao invés por comidas de verdade, não-processadas, feitas em casa.

Achooooou!

Comentários

  1. Hilton, acredito que houve um equívoco na hora de digitar este parágrafo:

    "Furioso comigo mesmo por aderir ao "saudável" aconselhamento sobre alimentação, que na prática estava longe de ser uma dieta sensata. Mas também furioso com os chamados "experts" que tem nos empurrado essa armadilha com POUCO carboidrato e MUITA gordura por tanto tempo que ninguém pensa em questionar."

    O pouco e muita estão trocados e acaba passando a ideia errada.

    Att,

    Alexandre

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