A fisiologia da perda de peso para mulheres. Parte I: Estrogênio
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
Muitas pessoas no mundo moderno acreditam que é mais difícil para as mulheres perderem peso do que para os homens. Isso é triste, e é uma super-simplificação, mas a idéia não é exatamente errada. O corpo de uma mulher é cheio de complexidades hormonais que o de um homem não tem. Isso nasce do simples fato de que mulheres são organismos feitos para acolher fetos. Por tal razão, o corpo feminino vem equipado com todo um conjunto de mecanismos projetados para garantir que ela tenha nutrientes e energia suficientes para suportar outra vida crescendo em seu interior.
Esses mecanismos agregadores de gordura podem ser divididos em dois fatores primários: deposição adiposa comandada por estrogênio, e regulação de peso hipotalâmica. Ambas são complexas; ambas interferem uma com a outra; e ambas são de entendimento crucial, para que uma mulher perca peso com facilidade e saúde. Esse artigo é sobre estrogênio.
Estrogênio e o corpo feminino
Níveis de estrogênio estão correlacionados com, e são responsáveis pela menstruação de uma mulher. Por tal razão, os níveis de estrogênio de uma mulher começam a aumentar durante a puberdade, chegam ao pico nos 20 e 30 anos, e decaem na menopausa. Essa mudança menopausal causa massa corporal adiposa aumentada e localizada em mulheres mais velhas. Em mulheres em idade reprodutiva, por outro lado, os níveis de estrogênio sobem e caem com o ciclo menstrual. Durante a fase lútea na qual o útero se prepara para ser implantado com um óvulo, os níveis de estrogênio chegam ao pico com concentração 4-6x maior do que pode ser no ponto mais baixo do ciclo - o primeiro dia de menstruação.
Há 3 variedades de estrogênio no corpo de uma mulher. Eles se diferenciam pelo número de moléculas -OH ligados, e são comumente chamados de E1, E2 e E3. A forma mais proeminente de estrogênio no corpo feminino, ao menos antes da menopausa, é a E2. (Na menpausa, E2 desaparece e E3 torna-se mais proeminente). E2 é também chamado estradiol, então quando a maioria das mulheres tem os seus níveis hormonais testados, essa é a forma mais comumente avaliada. Ainda assim, dado que E2 compõe a vasta maioria dos níveis de estrogênio de uma mulher em idade reprodutiva, e uma vez que todas as formas de estrogênio tem funções similares, chamar E2 de "estrogênio" geralmente cai bem.
Em mulheres pré-menopausa, os ovários são a principal fonte de estrogênio, que funciona como um hormônio circulatório para agir em tecidos-alvo distais. Isso significa que o estrogênio produzido nos ovários influencia o corpo inteiro; que tal estrogênio ovariano pode aumentar o ganho de peso ou alterar a expressão de DNA em células tão distantes entre si quanto as do dedinho do pé de uma mulher e as do seu baço.
Porque o estrogênio está comumente associado a ganho de peso
Estrogênio está geralmente associado a peso de ganho. Mas qual deles implica no outro ? A gordura causa estrogênio, ou é o posto ?
São ambos. Primeiro, células de gordura iniciam a produção de estrogênio. Mas então, níveis de estrogênio elevado baixam o metabolismo, de maneira que o estrogênio tem seu papel em convencer o corpo a armazenar mais peso. Para muitas, isso se torna um ciclo vicioso de ganho de peso acelerado.
O mecanismo pelo qual o estrogênio causa ganha de peso é através da inibição da função da tireóide. Em uma mulher de peso normal, estrogênio e hormônio da tireóide interagem um com o outro em um equilíbrio complexo. Ainda assim, quando uma mulher tem sobrepeso, os seus níveis de estrogênio guiam a sua função tireoidiana implacavelmente para baixo. Com a função da tireóide desbalanceada, uma mulher pode se sentir lenta e fatigada, por conseguinte gastar menos energia e subconscientemente regular para baixo o metabolismo de forma que seu corpo queime menos e menos combustível - e ela não fica nem sabendo disso. Quase 10% das mulheres americanas tem problemas com hipotiroidismo.
A enzima pela qual uma célula converte testosterona em estrogênio é chamada aromatase. A aromatase é a fonte primária de estrogênio nos homens, pois converte testosterona em estrogênio dentro das células. Enzimas tipo aromatase estão presentes em todos os tipos de tecidos, mas a aromatase produzida no tecido adiposo é responsável pela vasta maioria da produção de estrogênio não-ovariano em homens e mulheres. Esse é o motivo pelo qual, na prática, muitas mulheres sofrem de sintomas de deficiência de estrogênio quando perdem muito peso. Adicionalmente, a transformação de testosterona em estrogênio via aromatase aumenta com o peso e a idade. Isso é um problema para os homens, bem como outro fator de composição para mulheres em menopausa. Ele também pode levar a uma dominância bastante rápida do estrogênio, o que pode causar uma outra série de problemas reprodutivos.
Porque o estrogênio é na prática um importante fator na perda de peso. Parte I: dentro da célula
Seja como for, o estrogênio é um importante fator na perda de peso, e por diversas razões. A primeira que ele diminui a atividade de absorção de gordura dentro da célula. Ele faz isso ao diminuir a atividade da lipase lipoprotéica (LPL). LPL é uma enzima que favorece a entrada de gordura nas células, então ter estrogênio dentro de uma célula ajuda a evitar que ela cresça.
Segundo, o estrogênio aumenta a atividade de outra enzima chamada lipase hormônio-sensitiva (HSL). HSL é o outro grande jogador na regulação do metabolismo de gorduras de uma mulher. A atividade do HSL ocorre mais comumente durante o exercício. Então o que o estrogênio está fazendo, de certa forma, é tornar esse fenômeno do exercício mais poderoso e mais frequente. Durante o exercício aeróbico, a temperatura corporal aumentada e uma maior concentração de epinefrina na corrente sanguínea aumenta a resposta do HSL à epinefrina. Isso então dispara a atividade de quebra de gordura do HSL.
Já se reportou que o estrogênio estimula a produção de hormônio do crescimento (GH). O GH inibe a entrada de glicose (carboidratos) nos tecidos gordurosos e aumenta a mobilização de ácidos graxos das células de gordura. GH funciona inibindo a produção de insulina no pâncreas e estimulando HSL, a enzima quebradora de gordura descrita acima. A insulina é o principal hormônio que promove o transporte de glicose para as células musculares, para uso como energia, e é um potente inibidor do HSL. Por essa razão, baixar os níveis de insulina via GH via estrogênio ajuda a acelerar a atividade de queima de gordura do HSL.
Porque o estrogênio é na prática um importante fator na perda de peso. Parte II: determinando o local de armazenamento da gordura
Mulheres tem mais gordura que homens. Uma mulher "em forma" pode ficar sem problemas ao redor de 18% de gordura corporal, mas não menos - enquanto um homem pode chegar quase tão baixo quanto quiser, sem apresentar problemas. Alguns fisiculturistas masculinos conseguem chegar a próximo de 5%. Adicionalmente, mulheres armazenam gordura em locais diferentes dos homens. Quando homens ganham peso, ele fica geralmente concentrado em volta do abdomen. Isso é chamado gordura visceral, e é a gordura mais associada com diabetes e outras doenças da civilização.
O outro tipo de gordura é chamado de subcutânea, e é a gordura que aparece sob a pele, espalhada pelo corpo. O corpo de uma mulher prefere a gordura subcutânea. Esse fenômeno explica porque mulheres tipicamente tem menor definição muscular que os homens - uma pequena camada de gordura está usualmente suavizando todos os contornos musculares. Também explica o porque delas terem quadris mais largos ao invés de grande abdomens. Mulheres tem mais gordura subcutânea que homens em geral, e também a armazenam preferencialmente o tecido ao redor dos quadris, coxas e glúteos. Em nota paralela, o estrogênio também é importante, mas não o único fator, para o desenvolvimento e tamanho do tecido das mamas.
Mas mulheres só tem quadris grandes ao invés de abdomens enquanto tiverem estrogênio suficiente em seus sistemas. Assim que o estrogênio diminui, especificamente na menopausa, as mulheres veem a massa de gordura se mudar para a sua porção média. Isso é um perigo para a saúde delas, bem como um pouco de afronta às suas identidades como criaturas reprodutivas, com formas. Há maneiras de mitigar isso, é claro - primeiramente comendo uma dieta natural, antiinflamatória. Em segundo, manter-se ativa e fisicamente condicionada.
O estrogênio causa um aumento no receptor conhecido como alfa 2A-adrenérgico anti-lipolítico (anti-lipolítico = anti-gordura). É assim que as células subcutâneas mantém sua massa de gordura enquanto outras células não mantém. Ao ativar esse receptor, o estrogênio aumenta o número de receptores anti-quebra de gordura na gordura subcutânea. Por causa do aumento desses receptores, as células quebram gordura com menos frequência.
Isso não é uma coisa ruim! Isso é uma coisa gloriosa. Enquanto pode parecer que o estrogênio está te deixando gorda e mantendo os seus bíceps escondidos, o que ele está fazendo de verdade é mantendo a reserva de gordura que o seu corpo naturalmente quer que fique longe do seu abdomen e mais nos seus seios, quadris e bumbum. Os homens não tem tanta sorte. Eles ajuntam a gordura abdominal causadora de doença como se fosse uma obrigação. O estrogênio, por outro lado, protege uma mulher desse fenômeno. Bem como deixa o corpo dela feminino. O que é sexy.
Porque o estrogênio é na prática um importante fator na perda de peso. Parte III: sinalizando a abundância de energia para o hipotálamo
O estrogênio também tem um papel crucial na moderação do gasto energético e no apetite da mulher. Isso faz sentido, intuitivamente: se os níveis de estrogênio no sangue estiverem altos o suficiente, significa que os ovários estão funcionando e que a mulher tem gordura suficiente para suportar um feto.
O hipotálamo, que é o centro do cérebro que regula o apetite e a alimentação, inclui receptores para um número de hormônios e metabólitos. O estrogênio é um deles. Quanto mais estrogênio uma mulher tem em seu corpo, mais o hipotálamo detecta suficiência de de energia, e menos ela precisa comer. Isso também implica o contrário: quando os níveis de estrogênio caem muito, como quando os ovários de uma mulher são removidos ou se ela estiver anoréxica, compulsões e ingesta alimentar aumenta exponencialmente.
Tendo dito tudo isso...
O estrogênio desempenha um papel complicado na distribuição da gordura e na regulação de peso de uma mulher. Ele está associado com altos níveis de gordura, mas isso não é necessariamente porque ele deixa a mulher gorda. Ao invés, isso é possivelmente porque as células de gordura produzem estrogênio. Na prática, o estrogênio é em geral muito útil para a perda de peso. Ele ajuda o corpo a saber que está alimentado. Ele regula o metabolismo de gorduras para cima. E para dizer o mínimo, o estrogênio é responsável por manter os quadris, seios e todas as gloriosas partes femininas naquela feminilidade gloriosa. Sem estrogênio, as mulheres não seriam mulheres, e quão possivelmente chato o mundo seria dessa maneira ?
Por isso "viva a reposição hormonal" e para driblar ainda mais toda essa turbulencia nada melhor que banir os cabs do mal. Tenho 52 anos , pra mim deu certo. Uso meu jeans 38 com orgulho:).Nenhum médico te dirá que na menopausa sua resistencia periférica à insulina vai gritar ...e talvez a maioria se conforme em perder pra sempre a cinturinha :(
ResponderExcluirE quando uma mulher em idade reprodutiva engorda muito os seios e abdomem, seria por excesso de estrogênio ou desequilíbrio entre tireoide e hormônios sexuais?
ResponderExcluirGeralmente a mulher engorda nos seios e abdômen quando engorda de maneira geral, ou seja, é gordura por estar acima do peso. O próprio excesso de gordura e alimentação com carbos ruins podem desregular os hormônios (isso inclui hormônios da tireoide, estrogênio e demais hormônios femininos). Um nutricionista funcional pode ajudar.
ExcluirInteressante...eu tenho tido dificuldades em manter um ritmo de perda de peso e tenho sofrido com as tentações!!
ResponderExcluirMudei minha alimentação para low-carb há aprox. 10 meses e no começo a perda de peso foi fácil, depois empacou.
Tenho/tinha resistência a insulina com ovários policísticos. Tomava Metformina, hoje não mais.
Há anos não menstruo pois uso implantes. Há um ano troquei pelo Mirena, que é o DIU hormonal. Será que o hormônio do DIU ( progesterona sintética ) pode 'atrapalhar' a perda de peso? Há um exame para medir os níveis de Leptina? Se souber onde posso encontrar tais informações ficarei imensamente grata!
Obrigada por este post, muito bom!!! Ah esses hormônios femininos são uma loucura !!!
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