Reporte especial: Açúcar, a amarga verdade ?

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.


por Anna Pursglove

Por quatro décadas nós temos sido levados a crer que a gordura é o inimigo alimentar definitivo, mas nos empurraram uma mentira: o perigo real é doce, viciante - e encontrado em quase tudo o que comemos.



Então o que você sabe sobre comer e engordar ? Se você é o britânico médio, então é mais ou menos algo nessa linha: comer gordura demais vai me tornar obeso, entupir minhas artérias e levar a um ataque cardíaco, então eu devo seguir uma dieta com pouca gordura e comer muitas frutas e vegetais.

Errado. Enquanto você estava ocupado se estressando com as suas gorduras saturadas dietárias e colesterol, havia uma comida muito mais potente rondando a sua cozinha: açúcar. A quantidade de açúcar que comemos está agora sendo acusada não apenas pela epidemia de obesidade, mas também de doença cardíaca, diabetes tipo 2 e taxas de câncer galopantes. Não são apenas calorias em excesso que estamos consumindo; o problema está na maneira como metabolizamos o açúcar.

'Nos venderam uma mentira absoluta sobre alimento e saúde', diz Zoë Harcombe, nutricionista e autora de "The Obesity Epidemic" (N.T.: A Epidemia da Obesidade). 'Desde os anos 70 tem se afirmado que a gordura era o vilão, ainda que as únicas gorduras que saibamos serem nocivas sejam as transsaturadas, e essas são quase exclusivamente feitas pelo homem. Se a gordura ocorre naturalmente, então tudo bem - sem exceções. Açúcar, por outro lado, quando adicionado à comida, é quase uniformemente ruim'.

Então por que essa informação foi escondida de nós ? 'Porque', diz Harcombe, 'os produtores comerciais de comida que dependem do açúcar, representam um lobby gigantesco e poderoso. Não são apenas as marcas óbvias, tais como fabricantes de refrigerantes, que sofreriam se o açúcar fosse removido das nossas dietas. Açúcar é adicionado aquase tudo que você compra pronto para consumir: pães, molhos, refeições congeladas, bebidas, enlatados... A lista é infinita'. Mesmo feijões enlatados (N.T.: muito consumidos em países de língua inglesa) podem conter duas colheres e meia de açúcar em meia lata. Além disso, dizem os militantes, a indústria do "pouca gordura" (que atualmente vale bilhões) é completamente dependente do açúcar porque a única maneira de impedir produtos sem gordura de terem gosto de papelão é trocar gordura por açúcar.

Dr. Robert Lustig é um endocrinologista pediátrico e expert em obesidade infantil da Universidade da Califórnia, e um dos mais ativos militantes da campanha anti-açúcar. Sua palestra de 90 minutos, "Açúcar: A amarga verdade" (vista mais de 4 milhões de vezes no YouTube) é intransigente em sua condenação do açúcar como causa da epidemia de obesidade e na sua afirmação de que os governos (sob pressão dos poderosos produtores de comida) precisam manter esse fato escondido.

Lustig estressa o ponto de que temos tentado a abordagem com pouca gordura por 40 anos e ela falhou em nos tornar mais magros. Na prática, ficamos mais gordos - e mais doentes (6% dos adultos no Reino Unido estão registrados como diabéticos).

Enquanto a percentagem da nossa ingesta diária de calorias provenientes de gordura caiu consistentemente, a incidência de obesidade e doenças relacionadas, incluindo diabetes tipo 2, explodiu. "Açúcar é o problema", afirma Lustig, "e ainda assim os oficiais de saúde pública recomendam seguir uma dieta pobre em gordura. É a definição da insanidade segundo Einstein - fazer a mesma coisa repetidas vezes e esperar resultados diferentes".

Tudo poderia ter sido diferente se, 40 anos atrás, tivéssemos dado ouvidos a John Yudkin, fisiologista britânico e nutricionista. Seu livro de 1972, "Pure, White and Deadly" (N.T.: Puro, Branco e Mortal), argumentava que estávamos comendo muito mais açúcar do que o necessário, o que estava não apenas nos tornando gordos, mas também causando danos hepáticos, doença cardíaca e câncer. Entretanto, essas crenças lhe garantiram alguns inimigos poderosos na indústria do açúcar. Em 1979, a Organização Mundial para Pesquisa do Açúcar taxou seu trabalho de "ficção científica", enquanto a indústria alimentícia concentrou-se em peso atrás da teoria de que a gordura era o demônio dietário.

O problema de Yudkin, acrescenta Lustig, era que ele podia ver a correlação entre açúcar e doença, mas não podia provar. Adiantemos para 2014 e o lobby anti-açúcar agora tem a ciência a seu lado. Agora sabemos, por exemplo, que os carboidratos (dos quais o açúcar é a forma mais perigosa), e não as gorduras naturais, é que gera o tipo de LDL que leva à doença cardíaca. E numerosos estudos ligaram tanto a superprodução de insulina (que estimula o crescimento celular) e a obesidade a riscos aumentados de diversos cânceres incluindo de mama e de fígado.

O que Lustig tem na mira em particular é a frutose, um açúcar de frutas que compõe 50% do açúcar refinado encontrado em virtualmente tudo o que você compra pronto para consumir. O problema com a frutose é duplo. Primeiramente, não há hormônio que remova a frutose da nossa corrente sanguínea (ao contrário da glicose, que estimula a produção de insulina). 



Fica então a encargo do fígado removê-la, e quando o fígado fica sobrecarregado ele converte frutose em gordura hepática - que aumenta a nossa chance de desenvolver resistência à insulina (um precursor da diabetes), artérias enrijecidas e doença cardíaca. Em segundo, a frutose suprime o hormônio leptina, que te diz quando você está cheio. Em outras palavras, o seu cérebro te deixa consumir frutose sem limites.

Vai ser difícil reverter o relógio do açúcar, diz Lustig. Mas um bom lugar para começar seriam as bebidas, porque é particularmente ruim ingerir açúcar em forma líquida. "Pense dessa maneira", diz David Gillespie, um advogado australiano, pai de seis e autor militante de "Sweet Poison" (N.T.: Doce Veneno). "Se você deixar uma tigela de frutas na frente dos seus filhos, tudo o que eles vão comer é uma laranja, porque a laranja contém fibras, que te enche. Não há problema aqui - meus filhos pensam nas frutas como a sobremesa da natureza. Agora tire toda a fibra (transformando a laranja em suco) e de repente aquela criança pode consumir muito mais que uma laranja em uma sentada".

A quantidade de frutose escondida na sua caixa de suco depende de se o fabricante adicionou açúcar extra. Entretanto, para dar uma idéia do porque os militantes anti-açúcar estão tão preocupados com o suco de frutas, 350ml de suco de maçã não-adoçado contém 9 colheres de chá de açúcar (36g) - mais que uma lata de refrigerante, que tem cerca de 8 colheres de chá.

Organizações de saúde pública estão começando a ouvir. A Organização Mundial de Saúde (OMS) agora diz que restrições de açúcar precisam ser consideradas de maneira a podar a "onda global" de câncer. Supõe-se que a OMS esteja à beira de revisar as suas diretrizes para os açúcares adicionados por fabricantes (incluindo o açúcar do mel, xaropes e sucos de frutas), baixando de 10 para 5% da nossa ingesta calórica diária - isso significa cerca de 6 colheres de chá por dia, para uma mulher.

Podemos apenas imaginar o que John Yudkin, que faleceu em 1995, teria pensado da larga aceitação de suas idéias. Seu livro "Pure, White and Deadly" está de volta às livrarias - desta vez, com uma introdução de Robert Lustig. "Eu acho que ele teria ficado feliz", diz seu filho Michael Yudkin, bioquímico. "Não para dizer 'eu te disse', mas porque a grande paixão do meu pai era a saúde pública e ele viu o mundo ser ameaçado por algo que ele imaginava ser evitável".

David Gillespie acredita que estamos à beira de uma revolução na saúde pública - similar ao que aconteceu com o tabaco. "Mas esta não vai tomar o mesmo tempo, nem de longe", ele prevê. "Os militantes anti-tabaco antigamente não tinham a internet e as mídias sociais. Umas poucas pessoas poderosas tinham o controle dos dados, mas isso não acontece mais. Em dez anos, os pais vão olhar para traz e dizer 'Você pode acreditar que antigamente davam suco de frutas para as crianças?'"

FRUTOSE: OS FATOS
  • Frutose é encontrada nas frutas, na sacarose (açúcar de mesa) e no xarope de milho de alta frutose. É um açúcar simples, e é mais doce que a glicose.
  • Sacarose (o açúcar que geralmente adicionamos à comida) é feito de 50% de glicose e 50% de frutose.
  • Xarope de milho de alta frutose (que contém mais frutose que glicose) rotineiramente substitui a sacarose no mercado americano de produtos alimentícios por ser mais doce e mais barato. No Reino Unido, pode ser rotulado como "xarope de glicose-frutose" ou HFCS.
  • Como ela causa um pico de insulina mais baixo que a sacarose e a glicose, e por conseguinte tem menor índice glicêmico, os fabricantes recebem a permissão para afirmar que a frutose é mais "saudável" que as outras duas.

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