Não trocamos pão sem manteiga por pão sem margarina
Conversando com um amigo que não segue paleo/LCHF, ele me fez algumas perguntas e colocações que achei muito pertinentes, e deram o que pensar:
1 - Sabe-se que a pirâmide alimentar tradicional, com grãos na base e gorduras no topo, só é seguida no papel. Na prática, as refeições de 3 em 3 horas com alimentos "saudáveis" viram uma comilança a qualquer momento, geralmente entupindo-se de açúcar (escondido ou não). As porções pequenas de carboidratos viram mega-porções com o tempo. As pessoas se entopem de carboidratos e de gorduras. Ele apresentou um estudo que aponta indícios de que o vício em comidas não existe, e outro que mostra indícios de que gordura também vicia.
Eu ainda acredito na teoria do vício em carboidratos (aqui, aqui e aqui), mas ainda assim não posso descartar sumariamente o que ele apontou. Temos visto a mídia começar a rever sua postura diante da gordura saturada, e mesmo uma mudança significativa nas políticas de saúde pública de pelo menos um país, mas nada garante que, se o reconhecimento de low-carb chegar, as pessoas REALMENTE entenderão e adotarão o estilo.
É mais ou menos como as "loucuras dietéticas" que chegam semestralmente, e depois somem sem deixar vestígios: "chia emagrece". Então toca comer chia, sem mexer no resto. "Óleo de coco emagrece". Vamos comer óleo de coco coberto de açúcar.
Desta maneira, ao invés de não seguir a pirâmide tradicional, passaremos a não seguir a pirâmide primal. É o famoso "trocar pão sem manteiga por pão sem margarina"...
Entre a detenção de um conhecimento e o uso que se faz do mesmo, vai um grande caminho - o que leva ao segundo ponto:
2 - Existe hoje uma indústria multi-bilionária do low-fat. Encontra-se DE TUDO com baixo teor de gordura, e já sabemos o que isso vem acarretando: uma epidemia de obesidade e diabetes. Quando low-carb chegar "para valer", vai surgir também uma indústria do low-carb, que provavelmente vai ser tão danosa quando a do low-fat. Isso, combinado com o ponto 1, vai levar cenários do tipo "pior dos mundos": o cara se entope de gorduras, mas não abandona seus hábitos low-fat - e se entope de açúcar junto: caixão e vela preta.
Me parece bastante plausível, principalmente para o consumidor médio. Aquele que só pensa em "emagrecer sem esforço".
O que sinto no meio das comunidades low-carb é uma mudança de paradigma, possivelmente forçada pelo fato de não haver indústria malvada low-carb HOJE: praticantes de LCHF tem muito forte a questão do "comida de verdade" e do "faça você mesmo". Todas as coisas que tem rótulos são olhadas "de banda", com desconfiança. As listas de ingredientes são lidas com atenção sempre, buscando pelo açúcar escondido e os conservantes. Se você consegue fazer em casa, com produtos frescos, o equivalente a um produto industrial do qual gosta (linguiça ? bacon ? maionese ? barrinhas de "cereal" ?), por que diabos dar grana para a indústria ?
Então o ponto 2 não me assusta muito, pelo menos para os "macacos velhos". Talvez novas gerações de low-carbers sejam fisgadas pela indústria que está por vir. Provavelmente serão.
Atenção para ensinar às pessoas ao seu redor sobre o que é realmente comida de verdade, sob pena de se tornar cúmplice de mais um desastre...
Como se faz maionese sem óleo vegetal? Isso é paleo?
ResponderExcluirGostei do ponto onde um dia chegará a indústria do low carb.
Olha essa aqui, feita de gordura de bacon: http://cavemanfood.blogspot.com.br/2009/04/bacon-mayonnaise.html
ExcluirMaionese é feita com qualquer óleo + ovo....
Obrigado pela dica do bacon, pensei em tudo menos nele. Ja fiz com azeite de oliva mas fica muito forte.
ExcluirA indústria do Low Carb já estreou, vide snacks paleo (não é comida de verdade) http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/09/restaurante-paleo-em-sao-paulo.html
ResponderExcluirLá fora, já é forte inclusive: http://www.paleotreats.com/
ExcluirÉ uma lástima saber que os espertinhos de plantão já estendem seus tentáculos. Low carb e páleo são estilos de vida e não modismo, temos que ficar atentos à estes enganos que já estão surgindo.
ResponderExcluir+1 !
ExcluirSe 50% da população adotassem o estilo páleo estrito (alimentos não industrializados) o mundo entraria em colapso econômico de imediato.
ResponderExcluirAlém, é claro, de não haver a disponibilidade de alimento páleo estritos para todos os que adotassem a nova alimentação. Por uma questão simples de oferta e demanda esses alimentos passariam a custar verdadeiras fortunas (e eu já não os acho baratos, hoje em dia, com a atual demanda).
Como eu não vejo a menor possibilidade de isso ocorrer, e se ocorrer será muito gradual, as indústrias terão tempo para se adaptar e fazer essas "trapaças".
Mas, e, isso é natural, o ser humano empreendedor é assim mesmo vai sempre onde vê possibilidades de negócio.
É um problema a ser considerado.
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Concordo com o fato do colápso econômico, porém, haveria uma maneira - desde que politicamente coordenada - de se fazer produção em massa através da economia familiar, claro que deveria mudar a maneira de enxergar o mercado consumidor, os lucros não deixariam de existir, só que seriam melhor dividido e os preços não subiriam tanto. Claro que sempre vamos conviver com os trapaceiros, afinal de contas a natureza não é de toda perfeita mesmo.
ExcluirPoliticamente coordenada?! Utopia!
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Pois é, o grande problema com paleo é a escala. Todo mundo comer carne e gordura "para encher" funcionava bem quando havia animais abundantes e poucos humanos...
ExcluirEm tempos modernos, se não houver carne "de verdade artificial" (veja que nó no cérebro!), o estilo não é sustentável.
É preciso dar a mão à palmatória e reconhecer que se não fossem os grãos, não estaríamos aqui hoje - em 10.000 anos, a humanidade movida por eles conquistou o planeta... E acho que é exatamente o ponto que o meu amigo defende: o que vem causando a epidemia de obesidade/diabetes não são os grãos em si, mas a relação que temos com eles.
100 anos atrás, já comíamos grãos e açúcar e a taxa de diabéticos era de 1:4000. Hoje, beira 1:4. Será que o problema não está no excesso, ao invés de nos grãos/açúcar em si ?
Entram aí, na minha opinião, a força da mídia que nos empurra para longe da gordura, e a combinação viciante de açúcar embebido em gordura. Talvez se resolva com educação, pura e simplesmente - mas a força política para tanto tem que ser ENORME.
O fato de LCHF começar a ser reconhecida como alternativa saudável já é uma grande vitória a meu ver - mas não tenho sonhos de ver um mundo baseado em gordura :-)
Na verdade foi dado prioridade aos grãos. Se houvessem dado prioridade ao gado de corte, seríamos todos alimentados com carne, e olha que se consome muita carne pelo mundo e ainda há espaço para quadruplicar (sem contar com as terras já agricultáveis) a criação de animais.
ExcluirConcordo plenamente com o fator EXCESSO. Ninguém ficará doente se consumir uma porção de grãos ou um punhado de açucar, o problema são todos os componentes químicos que acompanham estes produtos e a maioria de nós não ficamos contentes com uma pequena porção por dia. Pão, margarina e café açucarado pela manhã; biscoitinho e mais café doce lá pelas 10 e meia; Arroz, feijão, macarrão, farinha e batata frita no almoço, de sobremesa um potinho de doce de leite. Chega....minha glicemia bateu 420. Este EXCESSO e seus químicos é que matam.
Perfeito Hilton!
ExcluirTudo Aqui, eu acho que não. Malthus e David Ricardo já previam problemas nesse sentido que só não ocorreram por conta da "revolução verde", com a altíssima produtividade de grãos híbridos. Se, de repente, a humanidade toda se decidisse por páleo estrita, não haveria alimento para todos e, em seguida não mais haveria emprego. Eu creio que o Hilton tem razão, há que se buscar uma dieta que inclua grãos saudáveis e altamente produtivos, feijão, arroz, grão de bico, milho, e sem exageros. Para quem não tem a síndrome metabólica, creio que o consumo "balanceado" de grãos saudáveis não seria um problema.
É assunto para uma postagem completa! Não vi ninguém debatendo isso ainda. Claro que vai muita opinião pessoal, mas esse debate é importante.
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André, veja este artigo do Dr. Souto, lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2013/10/consequencias-nao-antecipadas-e.html#disqus_thread . As previsões de Malthus ou David Ricardo provavelmente não previram as consequencias, e se fosse dado prioridade ao gado? Também não saberíamos as consequências. Eu NÃO sou contra o consumo de qualquer tipo de alimento, grãos, carne, inseto, etc. Mas temos que consumir tudo com moderação - já é demonstrado, cientificamente, que os carbs, provenientes dos cereais, causam problemas à saúde, eu era um grande consumidor deles - hoje tenho diabetes e ainda tentando controlar uma alta glicemia - iniciei low carb há 15 dias e já sinto uma boa diferença. Indiferente disso, hoje não acredito nas dietas mas em uma maneira correta de se alimentar. Sempre acreditei que a humanidade pode criar ou plantar em abundancia, o que impede são os políticos.
ExcluirTudo Aqui, obrigado, eu já havia lido!
ExcluirNo caso, creio que o tempo validou as teorias de Ricardo e Malthus. A revolução verde certamente era uma consequência não antecipada por eles pois não lhes era possível imaginar isso. No caso, a engenhosidade do ser humano e o trabalho árduo de muitos conseguiram reverter a tendência prevista por Ricardo e Malthus.
No meu caso, particularmente, acho impraticável conseguir a produtividade necessária às criações animais se para conseguir alimentar a população mundial se esta se decidisse por páleo. Claro, posso estar errado...
Entretanto, algumas consequências nefastas da revolução verde, especialmente no tocante ao trigo, podem ocorrer na busca de uma produtividade anormal das criações e inviabilizar o consumo saudável de carne criada. Se é que isso já não ocorre em parte, hoje em dia.
Um abraço!
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Sempre que ouço falar em lanches rápidos paleo fico preocupado. Gosto muito de jejuar e na rua para mim so expresso. Lembro-me de na infância não observar tanta obesidade e comida de pacote era luxo para poucos. Paleo é o oposto de comida de pacote
ResponderExcluirCreio que cada um chegará ao conhecimento que buscar... Se forem os próximos páleos, preguiçosos, realmente cairão na trapaça da indústria; mas por outro lado se verem que comida de verdade não tem rótulos, irão pelo caminho correto.
ResponderExcluirCreio TUDO está aí para todos, cabe a TODOS buscarem as fontes e informações corretas!!
Mais um vez, parabéns Hilton pela postagem.
Também acredito que as informações estão disponíveis a todos. Seguir um estilo paleo, hoje em dia, é quase que impossível, porém, podemos comer comida de verdade mesmo em um restaurante self-service. Há muitas folhas, raizes, proteinas, gordura animal. Não precisamos comer as coisas fritas e empanadas ou mesmo os grão, caso seja tão radical, ninguêm precisa pegar as sobremesas. Tudo é uma questão de escolhas.
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