A saúde ancestral está virando conhecimento convencional?
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
por Chris Kresser
Não muito tempo atrás, o conceito de "saúde ancestral" era encarado com ceticismo completo. A resposta geral era que a expectativa de vida curta de nossos antepassados "provava" que eles viviam com uma saúde ruim. Mas um interesse renovado em estudar a saúde das tribos modernas de caçadores-coletores está sinalizando uma mudança no pensamento convencional.
Quando eu publiquei "Your personal paleo code" em 2013 (agora rebatizado "The Paleo Cure"), a idéia central do livro – que a incompatibilidade entre nossos genes e o ambiente moderno é o principal causador das doenças crônicas – encontrou ceticismo e crítica nos meios de comunicação populares.
Tanto a imprensa dominante quanto a medicina convencional pareciam ainda mais duvidosos da premissa de que podemos aprender algo útil ao estudar a dieta e o estilo de vida de nossos antepassados caçadores-coletores ou de grupos contemporâneos que mantiveram suas formas tradicionais. Lembre-se dos artigos ridiculizando a "dieta das cavernas"? Você não precisa voltar muito longe; na verdade, eles ainda estão lá.
Mas a maré está finalmente virando.
Estudos sobre os caçadores-coletores Tsimane sublinham o conceito de saúde ancestral
Recentemente, dois artigos foram publicados no New York Times, examinando a ausência de doença crônica nos Tsimane, uma população caçadores-coletores da Bolívia que também pratica agricultura de subsistência.
O primeiro artigo, "Aprendendo com os erros de saúde cardíaca dos nossos pais", informou sobre um estudo que mostra que os Tsimane têm uma prevalência de aterosclerose 80% menor que os americano e que 9 em cada 10 adultos de Tsimane entre 40 e 94 anos têm artérias completamente limpas e nenhum risco de doença cardíaca.
O segundo artigo, "Uma antiga cura para a doença de Alzheimer?", especulou que o ApoE4, um genótipo que confere um maior risco de doença de Alzheimer no mundo industrializado, parece ter o efeito oposto nos Tsimane – talvez porque protege seus cérebros dos parasitas pelos quais eles são comumente infectados.
O que mais me interessou sobre esses artigos, no entanto, não foi seu conteúdo, mas seu contexto: a aceitação da hipótese da "incompatibilidade" como um princípio fundamental do campo da medicina evolutiva, ao invés de uma teoria maluca propagada por blogueiros paleo. Do artigo sobre Alzheimer:
Os cientistas muitas vezes se referem a esses lugares como "estranhos" – ocidentalizados, educados, industrializados, ricos e democráticos – e salientam que nossos corpos ainda são projetados para o ambiente "não-estranho" em que nossa espécie evoluiu. Contudo, não sabemos quase nada sobre como a demência afetava os seres humanos durante os 50 mil anos anteriores a desenvolvimentos como antibióticos e agricultura mecanizada. Estudar os Tsimane, acredita o Dr. Trumble, poderia esclarecer essa praga moderna.
Imagine isso! Ao invés de ridicularizar a idéia de que possamos ter algo a aprender com os caçadores-coletores, esses artigos a estão afirmando. Eles ainda colocaram de lado a velha afirmativa de que os caçadores-coletores não têm "doenças da civilização" como diabetes e doenças cardiovasculares porque não vivem o suficiente para desenvolvê-las:
Os Tsimane sofrem de altas taxas de mortalidade infantil, mas aqueles que atingem a idade adulta vivem tanto quanto a maioria das outras pessoas, permitindo medir seus resultados de saúde até 90 anos e além.
Uau! Em que universo estamos vivendo? Isso apenas mostra que a mudança é realmente possível – mesmo quando parece improvável.
Daqui a pouco a Associação Americana de Cardiologia admitirá que a gordura saturada não é o bicho-papão que eles sempre apontaram, e a Associação Americana do Diabetes deixará de recomendar dietas com alto teor de carboidratos e baixo teor de gordura para os diabéticos.
Vai saber, coisas estranhas aconteceram ...
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