Agora me sinto no controle do meu peso

Desde que me lembro por gente, sempre tive em maior ou menor grau um problema de controle de peso, mas ainda lembro que há uns 15 anos atrás estava em um peso ainda razoável. Depois disso, meu peso não parou de subir, apenas alternando com períodos em que ficou mais ou menos estacionado. Algumas vezes, tentei seguir uma dieta convencional low-fat, que serviu apenas para me fazer passar fome, e nunca trouxe uma perda de peso duradoura. Para alguém cujo trabalho depende de concentração e criatividade, passar o dia inteiro pensando em comida é uma receita para perder a cabeça. Como tal, acabava sempre negligenciando a saúde.

Tenho este costume inconveniente de querer "otimizar" tudo na minha vida. Por exemplo, há alguns anos atrás, quando viajava muito de carro, e o custo com gasolina começou a pesar no meu orçamento, fui atrás de dicas sobre economia de combustível e descobri algo que o pessoal chama de "hypermiling", técnicas para extrair o máximo de eficiência na condução de um carro. Mergulhei em todos os textos que encontrava a respeito, e após algum tempo de prática, já estava regularmente atingindo médias de 28km/l nas minhas viagens. Hoje não preciso mais disso, e certamente não me preocupo mais com isso da mesma forma, mas as técnicas estão de tal forma enraizadas na minha forma de dirigir, que mesmo dirigindo sem prestar atenção atinjo médias de consumo que muitos julgariam incompatíveis com o carro que eu dirijo. E enquanto muita gente sonha com BMWs, Mercedes, Porsches e Ferraris, o meu sonho de consumo desde esta época passou a ser um Toyota Prius, um carro híbrido elétrico, que hoje é o segundo carro da família. Tudo isso para dizer que, quando "compro" uma idéia, mergulho fundo nela até mudar minha forma de enxergar muitas coisas. O mesmo vale para outras questões da minha vida, como finanças pessoais, investimentos, compra vs. aluguel da casa própria (cuidado com a bolha imobiliária brasileira!), entre outros assuntos.

Pois bem, nos últimos anos, estava cada vez mais incomodado com a questão do meu peso, e decidi pesquisar sobre o assunto. Infelizmente, esse é um ramo cheio de picaretas e charlatães. A cada "esquina" da internet, você encontra alguém vendendo um plano milagroso, usando técnicas de marketing que beiram a falta de ética (um exemplo do que estou falando, sem entrar no mérito se a dieta funciona ou não: http://www.flatbellyforever.co... Para um leigo no assunto, fica difícil distinguir o que é verdade e o que é moda passageira. Nas minhas primeiras pesquisas, encontrei o livro "Perfect Health Diet" de Paul e Shou-Ching Jaminet, o qual devorei com muito interesse. Porém, o livro (pelo menos em sua primeira edição) parecia mais um apanhado de recomendações das pesquisas da área, sem uma síntese bem definida do diferencial da dieta. Tentei seguir por uma época e não deu muito certo. Incidentalmente, foi a primeira vez que ouvi falar em dieta paleo.

No ano passado, ao voltar de uma viagem para a Europa, onde como de costume exagerei experimentando a culinária local, atingi o maior peso que me lembro de ter atingido, quase 123kg, e decidi fazer algo a respeito. Naquele momento, decidi seguir uma dieta de um livro chamado "The Hacker's Diet", que seguia o paradigma de Calories In Calories Out, mas que pelo menos tinha ferramentas para acompanhar o peso e ajustar a ingestão de comida para atingir seus objetivos. Mas, ao mesmo tempo, continuei pesquisando por algo que, a esta altura, já consideraria algum tipo de milagre, a dieta perfeita.

Alguns dias após começar esta nova dieta, encontrei o conceito de low-carb, e infelizmente nem me lembro onde – possivelmente no site do Diet Doctor, que se não foi o primeiro, foi um dos primeiros. Como cientista, fiquei cético a princípio, especialmente por ser algo que vai contra as recomendações vigentes – como assim, gordura faz bem? Mesmo assim, resolvi dar uma chance à dieta, pois simpatizei com a ideia de algo que tinha um princípio por trás, a restrição de carboidratos. Não lembro qual foi o primeiro livro que li, mas talvez tenha sido "The Art and Science of Low Carbohydrate Living", do Volek e Phinney. Foi o primeiro material coerente, explicando a bioquímica da restrição de carboidratos, que realmente me convenceu que isso poderia dar certo. Cerca de umas 2 ou 3 semanas depois de começar esta dieta convencional, resolvi abraçar uma dieta low-carb e nunca mais olhei para trás. Comecei a devorar mais e mais livros, e também foi nesta época que encontrei o site do Dr. Souto. A princípio, lia apenas materiais em inglês, pois no geral penso que tudo o que se discute no Brasil está atrasado em relação ao resto do mundo (desculpe, pelo menos na área em que trabalho esta parece ser a realidade, e também nos outros tópicos que me interessam, como citado acima). Mas não demorou para perceber que o Dr. Souto representava uma verdadeira ilha de conhecimento no meio da ignorância e da mediocridade, e passei a acompanhar fielmente o blog.

Dali em diante foi só sucesso. Seguindo a recomendação do blog, li "Why We Get Fat" do Gary Taubes, onde aprendi mais sobre a hipótese da insulina. Li muitas coisas depois disso, como livros do Jimmy Moore (Keto Clarity e Cholesterol Clarity), "Diet 101" da Jenny Ruhl, "Eat Stop Eat" do Brad Pilon, "The Carb Nite Solution" do John Kiefer (e com isso fui ajustando minha dieta, incluindo as carb nites e o jejum intermitente), "The New Atkins for a New You", e outros. Ler "Good Calories, Bad Calories" do Gary Taubes também me marcou muito – é quase como se "Why We Get Fat" fosse para crianças e "Good Calories, Bad Calories" para adultos. Enquanto isso, continuava perdendo peso sem esforço e sem fome.

Em novembro, meus pais, vendo os resultados que atingi com a dieta, resolveram aderir à dieta. Ambos perderam cerca de 15kg desde lá. Somente minha esposa que não vem tendo tanta sorte assim, me acompanhando na dieta desde quando comecei – foram "apenas" 10 kg.

Marcamos uma viagem no final do ano para a Serra Gaúcha, e mesmo sentindo que a dieta ia muito bem, pensei que uma consulta com o Dr. Souto poderia ser proveitosa. Realmente é uma experiência excelente, que se pudesse recomendaria a todos do blog. É uma hora de conversa densa, útil, onde pude aprender muito e fazer algumas correções de rota na minha dieta. Durante esta viagem, resolvi tirar "férias" da dieta também, e passei 15 dias comendo massas, pizzas, doces e tudo mais. Nesse tempo, ganhei 10 kg, mas fiz isso sem medo pois a esta altura já estava plenamente ciente que o meu peso estava sob o meu controle – um período similar de dieta e perderia tudo novamente. De fato, ao final de janeiro, já estava de volta no meu peso antigo. Desde então, foram mais cerca de 4 ou 5 kg em um mês, tendo atingido ontem menos de 93 kg.

Se pudesse resumir, diria que a grande vantagem da dieta é que agora me sinto no controle do meu peso, assim como tenho controle de outros aspectos da minha vida, como as minhas finanças. Caso decida fazer uma compra de um valor mais alto, sei exatamente o quanto isso irá atrasar a minha independência financeira, e também sei que posso apertar os cintos um pouco para compensar e retornar ao meu caminho original. Da mesma forma, é claro que passo vontade de coisas que não posso comer, como doces, mas também sei que posso fugir da dieta por uma noite, um final de semana ou mesmo 15 dias como fiz, e que bastará voltar à linha que o peso baixa novamente após pouco tempo; nada daquele desespero de não saber quanto tempo de sofrimento você terá que se sujeitar para voltar ao peso antigo.


Décio



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