Fazendo música: o motivo pelo qual você deveria pegar um instrumento e começar a tocar

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

por Mark Sisson


Em artigos anteriores, eu falei sobre a necessidade de participar de atos inerentemente humanos, aqueles comportamentos que parecem persistir através das culturas e idiomas, e através do tempo e espaço. Para mim, tal universalidade implica importância e, talvez, necessidade. Por que os humanso de todos os locais e épocas dançam ou fazem ferramentas ou produzem arte, se não para satisfazer alguma necessidade primitiva que vai além da pura sobrevivência ? Hoje, eu apresento a vocês outra constante cultural universal que merece nossa atenção e participação: música.

A maioria das pessoas gosta de ouvir música. Mesmo que não gostem, ainda que não sejam do tipo que mantêm-se atualizado com as últimas bandas ou sempre tenha algo tocando como música de fundo, sempre há aquela música que os "pega". Os Beatles, por exemplo. Quem não gosta deles ? De qualquer maneira, ouvir música tem um número de efeitos psicológicos positivos sobre nós, conforme discuti num artigo passado, incluindo redução de estresse, fornecimento de dopamina (que nós interpretamos como “arrepiar”) aos centros de prazer do nosso cérebro, e aumento da motivação durante o exercício. E sobre os efeitos de saúde de fazer e tocar música ? Afinal de contas, alguém precisa tocar.

A maioria das pesquisas sobre os efeitos de saúde de fazer música focam-se no cérebro, e por boas razões: o cérebro está fazendo a maior parte do trabalho! O modelo do cérebro estático está morto, suplantado pelo modelo plástico que mostra que à medida que aprendemos novas coisas e pensamos novos pensamentos, a anatomia do nosso cérebro – e suas capacidades – mudam. Pesquisas recentes mostram que a prática da música, que força nossos cérebros a trabalharem de maneira completamente diferente, é um contribuinte importante para a plasticidade neural. Mesmo só 2 semanas de prática de piano produzem mudanças neuroanatômicas ao contexto auditivo do córtex em não-músicos. Ela também pode reduzir ou evitar a degradação ligada à idade da Área de Broca, uma seção do cérebro parcialmente responsável pela produção da fala. O mesmo efeito protetor foi visto no córtex auditivo de músicos idosos, que controla o reconhecimento da fala entre outras coisa.

Treinamento musical pode aumentar a plasticidade cerebral de outras áreas do cérebro também; outra pesquisa mostrou que crianças que recebem treinamento musical mostram aumentos de QI, memória verbal, e habilidade linguística, mesmo quando o grupo de controle é composto de crianças com históricos (status socioeconômico, acadêmico, etc) diferentes exceto pelo treinamento.

Tudo bem até aí, mas o benefício primário de tocar um instrumento é que ele simplesmente te faz sentir bem. É óbvio, ainda que eu não tenha tocado muito desde o sax, flauta e clarineta lá na escola, que fazer música é divertido. Apenas olhe para como se chama: tocar (N.T.: a tradução perdeu-se um pouco, porque em inglês os verbos "brincar" e "tocar" (música) são escritos "play" –  e o Mark Sisson é um grande defensor do "play/brincar" como atividade essencial para manutenção da saúde).

Ah, e se você quer um estudo para provar que fazer música te faz sentir bem, eu tenho um. Ano passado, pesquisadores descobriram que tocar um instrumento (tambor/bateria), cantar ou dançar, todos causam liberação de endorfina (conforme mostrado por um aumento na tolerância à dor pós-performance e, eu acho, a presença de grandes sorrisos). Meramente ouvir a mesma música não teve o mesmo efeito. Você tinha que participar ativamente, ou na criação ou dançando. Tocar música também aumentou o efeito positivo, ajudando os participantes a sentire-se entusiasmados, energizados, confiantes, ativos e alertas.

Eu acredito nisso. Já fui a círculos de tambores em Venice Beach aos domingos, só para sentir o astral. Lá é onde pessoas de todos os estilos de vida (apesar da considerável representação do grupo demográfico de usuários de roupas de cânhamo) botam o pé na areia por volta do meio dia, para fazer uma "jam session". Você tem empresários ricos, moradores de rua, rastas, viciados, turistas, surfistas, trabalhadores, crianças, esportistas, motoqueiros, nerds, noiados, veganos militantes, praticantes de crossfitt, mães de classe média e hipsters, todos batendo tambor (ou garrafões vazios), balançando pandeiros (ou os quadris). Entre dançarinos e percussionistas, a taxa participante/espectador é muito mais alta que na maioria de oturos eventos, e isso contribui muito para a energia do círculo. Quando chega o pôr-do-sol, o círculo cresceu, e a batida muda, organicamente. Você tem diferentes batidas acontecendo na roda, mas de alguma forma elas se misturam. É muito primal. Parece algo saído direto das cavernas. Altamente recomendado, se você estiver na área.

Eu estou pensando que devíamos montar uma roda de tambores no próximo PrimalCon. O que você acha ?

Esqueça todos aqueles benefícios à saúde suportados por estudos por um minuto, e considere como a música afeta a você e aqueles ao seu redor:


  • Pense sobre como cantarolar musiquinhas que você acabou de inventar, usando palavras sem sentido, faz com que seu filho de 4 meses fique em êxtase, com o sorriso banguelo de orelha-a-orelha.
  • Pense sobre como a batida tribal xamânica pode induzir estados alucinógenos e místicos naqueles que a ouvem.
  • Pense sobre todas aquelas memórias que estão inseparavelmente ligadas a músicas que você ouviu quando elas foram formadas, e como você consegue reviver os sentimentos simplesmente ouvindo (ou mesmo pensando) as músicas
  • Pense sobre como você se sente quando escuta aquela música. Você sabe, aquela música.

Então, música tem poder. Você sabe disso ouvindo-a e sentindo o que ela te faz, e vendo o efeito sobre outros. Agora imagine o que deve ser ter esse poder, ainda que por um instante, até que você perca o batida e tenha que achá-la novamente; ainda que sua única audiência seja você  mesmo ou uma criança que não consegue falar ainda; ainda que você esteja simplesmente tirando um som numa praia à meia-noite em frente a uma fogueira e garrafas abertas de vinho.

Ah, quase esqueci! Há outro benefício em fazer música. Para muitas pessoas, pegar um instrumento também significa encarar um medo. Colocar-se lá, ainda que seja tocando um instrumento não-familiar em frente a pessoas em um ambiente totalmente informal, pode ser realmente, realmente assustador. É bom fazer coisas que te assustam, seja fazer um discurso como padrinho de casamento, convidar aquela pessoa para sair, ou pegar um violão. É atirar-se no desconhecido desconfortável, onde você pode estragar tudo, fazer papel de idiota ou ser forçado a admitir que não é bom em alguma coisa. Esse último é realmente difícil para mim, e eu suspeito, para muitos de vocês.

Ok, você está convencido dos benefícios e interessado em conseguir alguns. Para facilitar, eu sugiro escolher um instrumento relativamente simples, fácil de aprender e que signifique algo para você, talvez usado para reduzir custos. Aqui estão umas opções. Garanta que já ouviu música feita com o instrumento antes de comprar:


  • Djembe – tambor do oeste africano
  • Ukelele (cavaquinho) – instrumento em forma de violão, com 4 cordas, mais fácil para iniciantes
  • Penny whistle – instrumento de sopro simples, originário das ilhas britânicas
  • Flauta doce – outro instrumento simples
  • Sua própria voz – cantar é a maneira mais antiga e acessível de fazer música.

Uma vez tendo escolhido o instrumento, simplesmente procure no Google "como tocar [seu instrumento]". Procure por aulas gratuitas no YouTube. Ache uma roda de tambores ou jam session perto de você usando o Meetup.com. Pague por algumas aulas. Ou simplesmente toque e divirta-se. O que quer que você faça, divirta-se!

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