Veneno da Lata

Não, esse post não tem nada a ver com a Fernanda Abreu e nem com o "Verão da Lata" – aquele mítico verão de 1987-88 em que 22 toneladas de maconha, sob forma de latas de 1.5kg, apareceram boiando no litoral do Rio e São Paulo.

Antes fosse.

Estou aqui para tratar de veneno mesmo. Não me lembro bem como, mas outro dia eu esbarrei com um post que falava sobre "as 10 coisas enlatadas mais nojentas". O artigo lista leite de égua em pó, fórmula infantil sabor bacon, larva de bicho-da-seda em conserva, etc e etc.

Ok, tudo isso é nojento – mas principalmente pela nossa cultura, e não pelo processo em si. Para um habitante do Cazaquistão, onde tomar leite de égua é normal, leite de égua em pó não deve ser nojento. Idem para o bicho-de-seda em conserva, para um habitante da Coréia.

O que me mais chocou, dada a minha cultura, foi a imagem abaixo.

Nham-nham!

Sim, amigos. É um frango. Inteiro. Em lata. Coberto com algo que parece catarro ou aquelas gosmas do filme "Alien".

Como dizíamos lá na roça, "É o mesmo que ver".

Outra pérola foi o cheeseburger em lata:

Dois hambúrgueres, catarro, pus, pickles e um pão seboso

A partir daí, fiz uma busca rápida por produtos alimentícios enlatados, e achei o "frango inteiro com caldo"...

Igual ao da vovó

... o pão enlatado...

E você achava que pão-de-forma era ruim

... o desjejum completo enlatado, com salsicha, almôndega, cogumelo, bacon, feijão e molho de tomate...

Desjejum dos campeões!

... as asinhas picantes enlatadas...

Uma brasa, mora ?

... o gambá cremoso enlatado com batata-doce e molho de gordura de guaxinim...

Espero que o cheiro seja bom!


... e o jantar de natal enlatado.

Ho-ho-ho!
Ovos com bacon
Torta de carne
Peru com batata
Molho
Patê
Molho de cranberry
Couve-de-bruxelas ou brócolis
Cenoura e cherívia assada
Pudim de natal


Não sei quanto a vocês, mas em mim isso causa um desgosto profundo – não tanto pela "comida" em si, mas pelo fato de que ela existe porque há um mercado que a consome e um marketing que a vende. Veja bem, eu adoro "carne de lata": aquela que a vovó fazia lá na roça, com carne de porco frita e mergulhada na própria banha. Carne, sal e banha, só.

O problema aqui não é "ser enlatado". Não sou hipócrita de esconder que como creme de leite enlatado de vez em quando, ou azeitonas. 

O meu desconforto vem principalmente do fato de haver um pensamento que envolve "enlatar tudo o que for possível". 

Certamente há quem goste de gambá com batata-doce e gordura de guaxinim, então "vamos dar um jeito do cara poder comer isso o ano inteiro, sem ter que sujar as mãos". 

Certamente há quem não tenha grana para bancar um jantar de natal, então "vamos socar tudo dentro de uma lata e prover uma ceia feliz a baixo custo" (distribuir melhor a renda para que todos possam bancar o jantar de natal, nem pensar!)

O que sempre fica não-dito, que nunca consta no rótulo, é o preço pago pela saúde de quem come os enlatados. Latas não são feitas de metal encantado, que preserva magicamente o que se põe nelas: para impedir que bactérias e fungos cresçam, dentro de cada lata vai um monte de produtos destinados a matar bichinhos. E é preciso preservar texturas, realçar sabores, melhorar a cor, emulsificar, espessar...

Já deu para perceber onde vai parar, né ?

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