Enquanto escrevia um artigo para a
Revista Dieta Paleo, me lembrei de um texto do Andreas Eenfeldt no qual ele fala sobre o livro “Diabetic Cookery” (Culinária para Diabéticos), escrito pela Rebecca Oppenheimer. Trata-se de uma publicação de 1917, de receitas específicas para diabéticos – lembre-se de que naquela época, não existiam medicamentos antidiabéticos. Todo o tratamento da diabetes era feito via alimentação…
Só com a descoberta da metformina nos anos 1920, e a sua popularização nos anos 1940, é que a a recomendação de “tratamento” da diabetes passou a ser “fazer o paciente comer toneladas de amido e açúcar, e normalizar a glicemia na pancada com remédio”.
Para quem tem galactosemia ou intolerância à lactose, recomenda-se não comer lactose. Para quem tem doença celíaca, recomenda-se não comer glúten. Para quem tem fenilcetonúria, recomenda-se não comer fenilalanina.
Tiramos da equação o agente que causa a ofensa, reduzimos ou controlamos o problema, certo ?
Para quem tem “””intolerância à glicose””” (muitas aspas, aqui), recomenda-se não comer gordura, entuchar-se com 45-55% de carboidratos, e “ficar de olho na glicemia”, pois pode ser necessário tomar remédio e/ou insulina.
Mais alguém vê uma falta de simetria, lógica ou vergonha na cara por aqui ?
Medicamento |
Serve para quê ? |
Abilify |
Antipsicótico |
Nexium |
Refluxo gástrico, “prevenção” de úlcera |
Humira |
Antiinflamatório |
Crestor |
Redutor de colesterol |
Advair Diskus |
Antiinflamatório broncodilatador |
Enbrel |
Doenças auto-imunes |
Cymbalta |
Depressão, fibromialgia, neuropatias diabéticas |
Remicade |
Doenças auto-imunes |
Neulasta |
Prevenir neutropenia em pacientes de quimioterapia |
Copaxone |
Tratamento de esclerose múltipla |
Lantus Solostar |
Diabetes tipo 1 (insulina) |
Rituxan |
Câncer |
Spiriva |
Broncodilatador |
Januvia |
Diabetes tipo 2 |
Atripla |
Evitar a reprodução do HIV |
Lantus |
Diabetes tipo 1 e 2 |
Avastin |
Câncer |
Lyrica |
Anticonvulsivante |
OxyContin |
Analgésico |
Epogen |
Anemia |
Se considerarmos as vendas no mundo, o Lantus sobe para o quinto lugar…
Vitória esmagadora dos medicamentos para tratar doenças crônicas não-transmissíveis! É tetra! É penta! É hexa!
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E enquanto isso, lá em 1900-e-vovó-era-jovem, a Rebecca nos ensinava o seguinte:
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Tabela 1
Comidas que podem ser livremente consumidas, sob orientação:
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- Carnes frescas: Boi, cordeiro, porco, vitela
- Órgãos: miolos, coração, rins, tutano, pâncreas, língua
- Partes externas: Pés, orelhas, rabo, boca
- Aves diversas
- Carnes de caça
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- Carnes secas, curadas e salgadas: Bacon, boi, presunto, salsichas (feitas em casa), língua
- Peixes frescos, ovas de peixe e rãs
- Peixes defumados, secos e curados
- Crustáceos: ostras, lagostas, camarões, tartarugas e cágados (ok, estes são répteis 🙂
- Gorduras animais e vegetais: manteiga, banha, azeite de oliva, óleos Wesson e Crisco (lembre-se, em 1917 ninguém fazia idéia do efeito desses óleos poliinsaturados e trans sobre a saúde – a autora só estava de olho no fato de serem gorduras)
- Laticínios: creme de leite comum e azedo, creamcheese, parmesão
- Vegetais: alcachofras-de-jerusalém, aspargos, feijão de corda, talos de beterraba, couves-de-bruxelas, pepinos, kohlrabi, cebolinhas, chucrute, vinagreira, espinafre, abóbora
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- Saladas: alface, cebola, agrião, dente-de-leão, pepino, chicória
- Farinhas: aleuronat, casoid, farinha de caseina, farinha de glúten (descobri que “aleuronat” era uma farinha de glúten puro – lembre-se que em 1917, ninguém sabia sobre doença celíaca ainda. “Casoid”, ninguém sabe o que é – muita gente aposta que era whey)
- Oleaginosas: todas as oleaginosas, exceto castanhas-portuguesas, amendoins e cacau – estas só devem ser usadas sob orientação médica.
- Conservas: alcaparra, endro, rábano, mostarda, azeitona, pickles, rabanetes, nozes. Catchup e molhos em quantidades limitadas
- Condimentos: erva-doce, canela, endro, cominho, noz-moscada, pimenta, sal
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Tabela 2
Comidas nesta tabela podem ser usadas moderada e ocasionalmente
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- Frutas: maçãs (1 pequena), damascos (1 pequeno), cassis (1 colher de sopa), cranberries, toranjas, groselhas verdes, limões, laranjas (azedas), pêssegos (1 pequeno, maduro), peras (1 pequena), ruibarbo, morangos (8 ou 10)
- Verduras e legumes: alcachofras, brócolis, couve-lombarda, aipo, berinjela, couve, cenoura, couve-flor, alface cozido, cogumelos, quiabo, batata (uma), abóbora, pimentões, tomates (um), nabos
- Saladas: aspargo, aipo, repolho, couve-flor, tomate
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- Queijos: chester, edam, roquefort, suíço
Tabela 3
- As comidas a seguir, devido às suas grandes qualidades nutritivas, são de valor especial: manteiga, azeite de oliva, creme de leite
- Creamcheeses: gervais, neufchâtel, stilton, cheddar, brie, camembert, pot-cheese (similar à ricota), philadelphia
- Carnes e aves: bacon, presunto, porco, língua, boi, carneiro, ganso, pato
- Peixes e ovos: cavala, salmão, caviar, ovos
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Tabela 4
Comidas estritamente proibidas
Açúcar, todas as comidas farináceas, amidos, tortas, pudins, farinha de trigo, pão, biscoitos, arroz (só com permissão), sagu, goma de araruta, cevada, aveia (só com permissão), polvilho doce, macarrão, beterraba (só com ordem do médico), cebolas grandes, todas as frutas doces e secas, mel, levulose (nome antigo da frutose ;-), todos os vinhos doces, licores alcóolicos e não-alcoólicos, xaropes, cervejas (ale, stout, porter), chocolate, leite condensado |
Agora me diga você: ter uma “saúde” artificialmente mantida por medicamentos enquanto continua a comer o que te ofende, faz sentido ?
Para muitas pessoas, sim – “mais vale um gosto que o dinheiro no bolso”. Mas pense que a maior parte das pessoas não é informada, não sabe que há um tratamento alternativo que pode ser eficaz… São simplesmente levadas pela informação, pois é difícil questionar uma autoridade.
No início da minha jornada com dieta paleo, eu era um cara mais aguerrido: depois de ver o “outro lado” da alimentação dita saudável, eu quis derrubar o sistema. Queria que o açúcar fosse abolido e criminalizado; que o trigo fosse queimado nos campos.
Hoje sei que isso não passava de bobagem da minha parte. O açúcar e o trigo não tem que ser banidos. O que precisamos é dar educação nutricional de verdade às pessoas, e pronto. Que cada pessoa saiba exatamente o efeito daquilo que ela come, sobre a sua saúde. E que as pessoas em posição de fragilidade – especialmente crianças – sejam poupadas da enxurrada de propaganda que nos afoga.
Com uma boa educação, metade do problema se resolve.
Se você quiser baixar o livro da Rebecca e testar algumas receitas, ele
está aqui. Dê notícias depois, sobre o quão mais gostoso era o remédio para a diabetes 100 anos atrás 😉