
Sumário
O que há abaixo da HMG-CoA reductase?
Quais são possíveis efeitos colaterais da terapia de estatinas?
Estatinas aumentam o risco de lesões músculo-esqueletais. Em um estudo recente, usuários de estatinas (caracterizados pelo uso de uma estatina por pelo menos 90 dias) mostraram mais propensos que não-usuários a desenvolver dor músculo-esqueletal, lesões (luxações, estiramentos, torções, distensões) e doenças. Outro estudo encontrou resultados similares para uso de estatinas e osteoartrite, artrite reumatóide e condropatias.
Estatinas aumentam a fadiga. Em um estudo recente, um grupo de 1000 homens e mulheres saudáveis com 20 anos ou mais, tomaram estatinas ou placebo. Os que tomaram estatinas reportaram redução na energia geral no dia-a-dia, e na quantidade de energia que conseguiam reunir durante o exercício. Tais efeitos foram mais pronunciados em mulheres tomando a droga.
Estatinas aumentam o risco de diabetes, com estatinas mais fortes tendo efeito maior. Três mecanismos foram propostos. Primeiro, estatinas reduzem a tolerância à glicose e induzem tanto hiperglicemia quanto hiperinsulinemia. Segundo, certas estatinas alteram a maneira como a insulina é secretada pelas células beta do pâncreas. Terceiro, a redução da CoQ10 desequilibra a função celular por todo o corpo, levando à disfunção. Essas são características das estatinas. Elas podem não levar todas à diabetes completa, mas tais mecanismos ocorrem uniformemente em usuários de estatinas em graus variados, e quanto mais tempo você aderir à sua terapia com estatina, maior o risco.
Estatinas podem aumentar o risco de certos cânceres. Em meio a manchetes espalhafatosas e enganadoras afirmando que as estatinas poderiam baixar o risco de câncer de mama – baseado inteiramente na associação entre altos níveis de colesterol e câncer de mama de um estudo que sequer examina as estatinas – temos o uso de estatina a longo prazo na prática aumentando o risco de câncer de mama em mulheres e a mortalidade geral por câncer em idosos, o suficiente para deslocar a redução na mortalidade cardiovascular.
Tudo o que sabemos, só sabemos porque as companhias farmacêuticas se dignaram a prover os dados.
Elas controlam o fluxo de informação. Elas tem os dados crus, e liberam apenas a pesquisa publicada que foi escolhida a dedo e passada por um pente fino. Na realidade, não sabemos o que está acontecendo, o que foi removido e o que foi omitido porque não temos acesso. Ver como as companhias tem tanto a oportunidade quanto os motivos para omitir ou minimizar resultados desfavoráveis, eu não estou confiante de que estamos vendo toda a história dos efeitos colaterais das estatinas. Por exemplo, grandes estudos clínicos frequentemente tem um “período de aquecimento”, no qual as pessoas que apresentam tolerância ruim à droga são eliminados do estudo completo. Isso é simplesmente loucura. Nós precisamos de estudos que olhe especificamente, ou ao menos incluam os intolerantes à estatina. Efeitos colaterais certamente são raros quando você exclui as pessoas que estão mais propensas a tê-los.
Ok, ok. Mesmo com os potenciais efeitos colaterais, certamente o benefício à saúde cardíaca faz tudo isso valer a pena. Certo ?
Ainda que as estatinas possam reduzir a mortalidade por doença cardíaca em certas populações, elas consistentemente falham em reduzir mortalidade por todas as causas em todo mundo exceto pessoas com histórico clínico de doença cardíaca estabelecido. Para a prevenção primária em pessoas sem história prévia de doença cardíaca, mesmo para aqueles considerados em “alto risco” (LDL alto e tal), as estatinas não reduzem a mortalidade por todas as causas. O mesmo vale para os idosos (que parecem sofrer mais depressão e declínio cognitivo quanto tomando estatinas). Nem as estatinas reduzem o número total de eventos adversos sérios, que incluem morte (por qualquer causa), admissões hospitalares, internações, incapacitação permanente e câncer. Esta é a história, uma vez após outra. Você pode ficar menos propenso a morrer de infarto, mas estará mais propenso a morrer de outra coisa. No final das contas, não vale de nada – a menos que você já tenha história prévia de doença cardíaca ou infarto.
O que isso quer dizer para você ?
Estatinas podem não te machucar. Elas podem até ajudar, se você já teve um infarto e não é idoso. Não estou dizendo que você não devia tomá-las. Só estou sugerindo é que se você estiver passando por quaisquer das questões mencionadas acima, você provavelmente deveria considerar não tomá-las – com a ajuda do seu médico para ver se os efeitos passam. E se o seu médico estiver te pressionando para toamr estatinas por causa de números levemente elevados de colesterol, pense sobre todos os importantes processos fisiológicos que ocorrem ao longo do mesmo caminho cuja inibição você está considerando.
A narrativa parece estar mudando, entretanto. Sim, eles querem dar estatinas a mulheres grávidas e já houve cochichos por anos sobre colocá-las na água potável, mas as coisas estão ficando melhores. Os forçadores de pílulas foram longe demais. A sua última versão das diretrizes para a prevenção primária da doença cardiovascular, que parece suspeitamente similar às diretrizes que você usaria se o seu objetivo primário fosse fazer o máximo possível de pessoas usar a sua droga, está recebendo um empurrão contrário considerável dos médicos do Reino Unido. Médicos com presença na mídia que escrevem para o site TheHeart.org estão questionando publicamente a utilidade das estatinas.
Estatinas tem o seu lugar. Não vou negar isso. Mas elas não são para todo mundo, há consequências e eu acho que as pessoas merecem saber disso.