Tudo o que você sabe sobre gordura está errado
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
Você acha que uma dieta pobre em gorduras é a chave para a saúde ? Pense outra vez.
Você não pode culpar os pacientes por serem céticos. Após anos advogando por dietas pobres em gordura, o Dr. Oz recentemente declarou que comer gordura saturada pode não ser afinal tão ruim. E no mês anterior, a imprensa fez estardalhaço sobre um novo estudo indicando que não há boas evidências de que gordura saturada cause doença cardíaca. A Associação Cardíaca Americana (AHA), entretanto, continua a promover dietas com pouca gordura. Então o que os médicos devem dizer a seus pacientes agora ?
A maioria dos médicos praticantes são pouco preparados para entender tudo isso. (Mesmo os médicos do comitê das Diretrizes do Colesterol 2013 contrataram outras pessoas para ler a literatura por eles). O que os doutores devem aconselhar - agarrar-se ao low-fat ou começar a cozinhar com banha ?
No seu novo livro, "The Big Fat Surprise: Why Butter, Meat and Cheese Belong in a Healthy Diet" (N.T.: em tradução livre: "Uma gorda surpresa: porque manteiga, carne e queijo pertencem a uma dieta saudável), a escritora científica Nina Teicholz implica que deveríamos fazer o segundo. Como muitas pessoas, Teicholz foi uma vez discípula das dietas low-fat - mas depois que recebeu a tarefa de escrever resenhas sobre restaurantes, ela percebeu que estava perdendo peso com uma dieta de cremes pesados e carnes gordas. A sua curiosidade foi aguçada, e ela começou uma revisão crítica sobre gordura dietária, por quase uma década. A sua conclusão ? Comer gordura saturada pode ser a chave para desenvolver um corpo magro e saudável.
Entretanto, para não consumir calorias demais, comer mais gordura implica em comer menos carboidratos. De fato, essas dietas pobres em carboidratos e ricas em gordura (LCHF) estão de volta com o crescimento do movimento Paleo - parcialmente porque as pessoas estão começando a questionar se a ingestão aumentada de carboidratos causou os níveis crescentes de obesidade. Além disso, para perda de peso, dietas com pouca gordura dão apenas resultados moderados e para algumas pessoas, não funcionam de jeito nenhum.
Esse foi o caso do Dr. Peter Attia, que foi o convidado no programa do Dr. Oz. Attia é um ex-cirurgião do Hospital Johns Hopkins, que seguia uma dieta low-fat e malhava muitas horas por dia, mas tinha sobrepeso. Eventualmente, ele desenvolveu síndrome metabólica - uma condição que pressagia a diabetes e doença cardíaca. Mas ele foi capaz de perder o excesso de peso e reverter a síndrome metabólica ao deixar de consumir carboidratos simples e, no processo, comer mais gordura.
A história do Dr. Attia subverte o erro comum de achar que os obesos são simplesmente preguiçosos e gulosos ou estúpidos e indisciplinados demais para seguir uma dieta. Talvez o que esteja tornando as pessoas gordas sejam seus hormônios - nesse caso, a insulina, que, em pessoas suscetíveis, sobe demais após uma refeição rica em carboidratos e faz com que a energia seja convertida em tecido adiposo.
Essa hipótese era o trabalho de pesquisadores alemães e austríacos pré-Segunda Guerra Mundial, e amadureceu nos EUA durante os anos 1950. Ela foi divulgada e recebeu respeitabilidade em 2002 pelo escritor científico Gary Taubes no seu artigo do New York Times “What If It’s All Been a Big Fat Lie?” (N.T.: em tradução livre, "E se foi tudo uma gorda mentira ?"). Taubes continuou e escreveu dois livros sobre o assunto. Enquanto para muitas pessoas, o seu trabalho ajudou a remodelar o pensamento sobre porque engordamos, alguns acadêmicos influentes permenacem não-convencidos.
Mas muitos médicos praticantes estão prescrevendo dietas LCHF de qualquer manteira - simplesmente por elas serem tão efetivas. Na prática, o Dr. Rakesh Patel, um médico da família do Arizona, viu enormes melhoras em pacientes muito doentes. "Esses pacientes estão honestamente tentando conseguir com low-fat", Patel disse, "Mas elas voltam após o terceiro, quarto, quinto stent cardíaco - e eu as ponho em uma dieta LCHF e elas melhoram. Um cardiologista me mandou um paciente recentemtne, e após 3 meses ela perdeu 11kg, o seu colesterol está normal e as partículas de LDL baixaram em 1000 [somente com a mudança na dieta]. A sua energia está ótima, ela se sente muito bem".
Dr. Patel tem prescrito dietas LCHF pelos últimos 4 anos e, como outros médicos país afora, tem conseguido resultados incríveis. Ele já foi capaz de demonstrar a reversão de placas ateroscleróticas. Quando perguntado o porque de estar tão confortável prescrevendo uma dieta rica em gordura para parcientes cardíacos, enquanto a AHA ainda promove dietas pobres em gordura, Patel diz que acredita que a ciência está do seu lado.
"Para 80% das pessoas com doença cardiovascular, é uma questão glicêmica. Isso já foi demonstrado muitas vezes na literatura. Mesmo em 1999, com o estudo DECODE,” diz ele. “Os carboidratos é que são o elefante na sala.”
Mas para o médico mediano, lotado de trabalho, guiado pelas diretrizes, dietas low-carb ainda tem uma difícil batalha de relações públicas para vencer. Opositores ativos das dietas LCHF insistem que as dietas te deixam doente, similar a usar quimioterapia ou anfetaminas para perder peso. Usar a dieta, de acordo com o Dr. Dean Ornish, defensor do low-fat, vai "hipotecar a sua morte".
O Dr. Ornish ficou famoso nos anos 1990 ao mostrar efeitos de reversão de doença arterial coronariana usando uma dieta muito pobre em gordura, quase vegetariana. Desde então, outros médicos, como Caldwell Esselstyn, tem usado dietas veganas sem adição de gordura ainda mais efetivamente para reverter placa aterosclerótica. Pode parecer difícil para as duas abordagens conviverem pacificamente.
Mas o Dr. Patel não vê dessa maneira. "Essas dietas também são pobres em carboidrato - não importa muito se você enche o resto do prato com plantas ou com gordura. Há mais de uma maneira de esfolar um gato", Patel diz. "Mas eu gosto de LCHF porque na minha experiência, percebi que é mais fácil para os pacientes continuarem a seguir".
As duas abordagens tem um par de coisas em comum. Ambas discordam das recomendações dietárias da AHA de 25-35% das calorias diárias sob forma de gordura (sendo 7% gordura saturada) - muito para uma, pouco para a outra. E os promonentes de ambas desconsideram igualmente uns aos outros. "Eu acho irônico", diz o Dr. Patel, "que as pessoas de cada lado estejam mais que dispostas a sustentar suas crenças com evidências clínicas anedóticas, mas atacam o outro lado por fazer o mesmo".
Isso tem sido um tema na política da nutrição desde o princípio. Ambos os lados tem certeza quase religiosa que estão certos, e ambos sentem que estão lutando pela saúde dos pacientes. "Nutrição é um esporte sangrento", Nina Teicholz concluiu após quase uma década observando como a ciência é feita. "Quando a ciência é fraca, recai tudo sobre a política. Esse foi o tema do meu livro". E muitas pessoas concordam: com a ciência da nutrição, tem sido difícil chegar à verdade.
"Esse não é o tipo de coisa que você pode atestar ao fazer um grande estudo", diz o Dr. Patel. "Você tem essa população heterogênea e uma dieta pode não ser ideal para outro paciente. É nesse ponto que a medicina personalizada entra - os médicos tem que ficar confortáveis lidando com isso".
Para ter certeza, a "verdade" pode ser que uma dieta LCHF não é a resposta para cada paciente. Mas as gorduras saturadas parecem ter sido descriminalizadas. Com a mudança de opinião do Dr. Oz - e o trabalho duro de muitos pacientes e médicos - os médicos convencionais tem algo diferente para oferecer aos pacientes que estão falhando no tratamento convencional. Se a história serve de guia, médicos e pacientes não veem a hora de a ciência melhorar. Pode ser que ela nunca seja boa o bastante.
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