Minha atitude e modo de ver o mundo foram inteiramente alterados por esse estilo de vida
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
Eu deveria estar feliz - estava sentado em torno de uma mesa de jantar apreciando um martini comeu padrasto e falando com o resto da família. Estendi o braço para pegar outro pãozinho (sem manteiga, é claro) mas antes que pudesse dar uma mordida, me senti tonto ao ponto de ter que deixar a mesa. No banheiro do restaurante, quase desamaiei - não tinha idéia do que estava errado comigo. O que eu não sabia é que estava sangrando por dentro, e a hemorragia era significativa. No dia seguinte, depois da minha ida matinal ao banheiro, percebi que tudo o que saiu foi sangue - isso se repetiu por três vezes naquela manhã. Depois de uma longa noite no hostpital e um diagnóstico meia-boca de "úlcera hemorrágica", recebi alta e orientado a ver um especialista. A dor e a doença não eram novidade, nem as intensas dores de cabeça, mas tudo estava ficando pior.
Eu estava no fim de um alistamento militar de 6 anos, e tinha sido incapaz de cumprir os requisitos físicos mínimos naquele ano; ninguém, incluindo eu mesmo, pôde entender o motivo. Cerca de 6 meses antes, eu corria mais de 15 milhas por semana e vivia na academia. Agora eu não conseguia correr as 2 milhas no tempo especificado, não passava nem perto; tinha que parar diversas vezes durante a corrida para tomar fôlego antes de me obrigar a correr mais algumas centenas de metros. Senti uma vergonha imensa, mas isso era apenas o começo. Aos 28 anos, minha saúde estava entrando em colapso - e apenas 1 ano antes eu estava em grande forma e muito ativo. Abaixo está a foto da minha namorada (atualmente, esposa) e eu, 1 ano antes dos sintomas começarem.
Meus níveis de energia, força e resistência vinham caindo consistentemente por meses - a única mudança na minha saúde na época era uma intensa dor abdominal. Após mais diagnósticos errados, minha frustração crescia; eu não podia viver o estilo de vida ativo que apreciava antes da doença, e a sensação de que essa era a maneira como eu ia viver a minha vida estava me levando a uma depressão profunda. O peso começou a se acumular e minha saúde física, emocional e mental estavam acabando. Algo tinha ceder.
Finalmente, algo cedeu - o meu apêndice. Eu acordei no meio da noite com uma dor aguda em um novo ponto. Soube quase instantaneamente o que era, acordei minha noiva (hoje em dia, minha amada esposa) e com dentes cerrados disse a ela que precisava ir para pronto-socorro. Depois de dar entrada, falei com a enfermeira qual era a minha suspeita e esperei por quase 1 hora. Quando fui chamado, o médico fez alguns testes para confirmar e disse o que eu já sabia - apendicite. Antes da cirurgia eles precisavam fazer exames de sangue - e foi aí que a m... bateu no ventilador. O médico voltou ao meu quarto e me perguntou se eu tinha sido "ferido" recentemente. Quando pedi para ele ser mais claro, ele sugeriu facadas, tiros ou cortes severos como possíveis causas para o hematócrito de 7% que foi medido das minhas amostras (os valores normais para homens estão na casa dos 40-50%).
Em meio a uma preocupação crescente, recebi múltiplas transfusões durante as próximas horas, antes do cirurgião remover os pedaços do meu apêndice rompido. Essa situação inteira levou a diversas conversas com um gastroenterologista especializado. Durante essas reuniões ao longo dos meses seguintes, perguntei repetidamente sobre causas dietárias potenciais e a única resposta era "você testou negativo para doença celíaca" Eventualmente, chegamos a um diagnóstico de doença de Crohn. O diagnóstico me fez sentir um alívio amargo. Eu estava aliviado por "saber" que a causa, ainda que eu estivesse condenado a essa horrível condição pelo resto dos meus dias. No mínimo, agora eu sabia o que vinha causando a deterioração da minha saúde nos últimos 4-5 anos.
Os anos seguintes foram gastos tentando medicamentos inúteis e monitorando de perto a minha anemia induzida por sangramentos - num dia bom, o meu hematócrito chegava na faixa dos 20-25%, ainda longe do normal. Meus níveis de atividade continuaram a declinar, e a depressão, inflamação e sedentarismo resultantes faziam o meu peso subir como um balão e a minha atitude se deteriorar ainda mais. O trabalho extra que o meu coração tinha que fazer para bombear o sangue anêmico mais e mais rápido estava levando a problemas de pressão que fizeram os doutores receitarem medicamentos adicionais para aliviar o sintoma.
Foi uma discussão com um colega de trabalho que é intolerante ao glúten que me fez revisitar a idéia de que tudo isso poderia ter causa dietária. Ela descreveu seus sintomas antes de ter eliminado o glúten, e eles refletiram os meus - comecei a pesquisar sobre a vida sem glúten e mais ou menos na mesma época a minha esposa sugeriu que eu adotasse essa "dieta paleo". Parecia haver uma riqueza de informação disponível sobre esse estilo de vida sem glúten, então eu me propus construir um plano nutricional paleo extremamente rígido - eu ia descobrir de um jeito ou de outro se isso era algo que eu pudesse usar para me controlar. Foi durante essa época que descobrir o MDA e o Primal Blueprint.
Os princípios traçados no Primal Blueprint simplesmente fizeram sentido para mim. Sou biólogo com um interesse em biologia evolucionária. Parecia que esse estilo de vida foi feito para sob medida para mim! Nesse ponto eu já estava praticando paleo por algumas semanas e vendo sinais promissores. É claro que o peso estava sumindo, mas o mais importante era a maneira como eu me sentia.
Levou cerca de 3 a 4 semanas para o meu corpo se "sentir" adaptado. Comer comida limpa estava me causando todo o tipo de mudanças. Percebi que a minha habilidade de sentir gostos mais sutis na comida estava ficando mais forte. Atribuo isso à ausência de todo o lixo processado que criavam "ruído" para minhas papilas gustativas. Sem todo o barulho eu podia apreciar o gosto da comida que todos aqueles aditivos e suas quantidades ultrajantes de açúcar e sódio tinham mascarado por todo esse tempo. Outras mudanças físicas se manifestaram em todo um espectro de benefícios que iam do desaparecimento da pele ressecada nos cotovelos até o Santo Graal da minha jornada - ausência de dor abdominal. A inflamação e o sangramento pararam. É algo que consideramos óbvio, a habilidade de comer uma refeição e não nos dobrarmos de dor. Após viver assim por anos, não sentir como se tivesse tomado um tiro na barriga após cada refeição, é incrível - e ainda desafia qualquer descrição.
Energizado por esses desenvolvimentos positivos, comecei a me exercitar lentamente a princípio - apenas 20 minutos por vez, na esteira. Comecei a aumentar esse tempo à medida que minha força retornava. Nesse ponto eu soube que tinha feito a primeira decisão correta sobre a minha saúde, que ninguém tinha feito em anos. Daí em diante, cada pequena mudança que fiz para me alinhar mais com o estilo de vida primal me dava benefícios e eles eram todos complementares. Minha rotina de exercícios mudou de 20 minutos na esteira para 30 minutos correndo ao ar livre, depois para distâncias maiores 4 ou mais vezes na semana (beirando atividade aeróbica crônica) até a minha rotina atual de HIIT em dias alternados com dias de levantamentos pesados e corridas curtas, sessões de natação e caminhadas de vez em quando. Eu me pesava todo dia, mais para desenvolver uma compreensão do meu corpo do que para monitorar a perda de peso - que continuou a ocorrer em ritmo constante.
Minha atitude e modo de ver o mundo foram inteiramente alterados por esse estilo de vida. O presente de ser capaz de me desafiar fisicamente me foi retornado, e é um presente que não pretendo desperdiçar. Desenvolvi um vício por corridas de obstáculos! Abaixo está uma foto minha cruzando a linha de chegada da Spartan Beast 2013, o campeonato mundial em Killington. Para por em perspectiva - apenas 8 meses antes eu pesava 52kg a mais e estava tão anêmico que não conseguia subir um lance de escadas - meu coração batia tão forte que fazia meu torso tremer. Essa corrida foi de 12-14 milhas, subindo e descendo a montanha o dia inteiro, com mais de 40 obstáculos.
Já faz quase 1 ano desde os meus primeiros passos nessa estrada, apesar de que para ser perfeitamente honesto, meu peso não variou em meses. Eu tive apenas que esperar para pegar o resultado dos meus exames antes de enviar esse texto, porque queria comparar os dados lado-a-lado.
É fácil focar no que eu perdi durante um período de mudanças como esse (52kg, uma série de medicamentos inúteis e dores de cabeça frequentes), mas é muito mais valioso focar no que eu ganhei - energia, confiança, saúde, velocidade, força, vitalidade e juventude; como uma fênix nascendo das cinzas da minha vida anterior.
Antes
Depois
Me sentar para escrever essa história colocou em foco exatamente o quão longo e desafiador esse período da minha vida foi. Sem diagnóstico por anos, com diagnóstico errado por ainda mais tempo - eu perdi quase uma década dos meus anos mais vitais (28-37) porque não tinha confiança o suficiente para tomar decisões sobre a minha própria saúde. Não mais, minha vitalidade é minha para controlar. Sei que esse estilo de vida tem a sua cota de críticos e de duvidosos, e enquanto eu tenho um repertório forte de argumentos, contra-argumentos e mesmo dos meus próprios dados (veja a tabela acima), eu não entro em debate. Se há algo que essa experiência me ensinou, é que não há ninguém com uma responsabilidade maior sobre a sua saúde do que você mesmo, e depende de você não apenas fazer a mudança, mas comprometer-se com ela. Não é fácil - mas é simples.
É maravilhoso saber que quando as pessoas finalmente chegam ao ponto no qual elas sabem que uma mudança é necessária - há uma riqueza de informação e uma comunidade de apoiadores aqui no MDA esperando para ajudar na metamorfose. Isso é algo que espero prover também com o meu próprio blog dedicado à vida primal. Obrigado por lerem!
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