O guia definitivo para a Sabedoria Convencional

Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

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Toda história precisa de um vilão, e todo protagonista precisa de um antagonista. Aqui no Mark's Daily Apple, meu nêmesis regular é ninguém menos que a Sabedoria Convencional (SC).

Mas primeiro, deixe-me qualificar essa afirmação. A Sabedoria Convencional não é necessariamente má. Tome por exemplo a postura médica corrente a respeito do tabagismo. Parece senso comum a nós agora que inalar vapor carcinogênico superaquecido regularmente leva a problemas de saúde, mas 50 anos atrás os médicos juravam de pés juntos que não fazia mal. Eles acendiam um cigarro enquanto mediam a sua temperatura, e era comum para grávidas desfrutar de uma bela fumaça. Essa era a SC que dizia respeito ao tabagismo (apesar de eu me perguntar que tipo de interesses monetários estavam por trás dela), por anos. Eventualemente, a ligação entre câncer de pulmão e tabagismo tornou-se inegável, e os cientistas agora concordam unanimamente que fumar faz mal à sua saúde. Levou algum tempo, mas eles acertaram e a SC mudou para reconhecer essa "nova" realidade.

Isso é raro, entretanto.

Na maioria dos casos, a SC é uma besta cambaleante: lenta ao se mover, mas difícil de alterar de trajeto uma vez que sua enorme cabeça bovina é colocada em movimento numa certa direção. É aquele velho chato e rabugento, gritando para aqueles moleques malditos saírem do seu gramado. É barulhento, pervasivo e impossível de ignorar - e de evitar. Frequentemente, carreiras inteiras são colocadas em aposta pela manutenção de sua veracidade. Quando essa veracidade é desafiada, tanto por críticos quanto por experimetnos, o desafiante é geralmente silenciado. Não, não estou falando de alguma teoria da conspiração na qual um cientista rival é colocado para escanteio por um grupo de cientistas malvados. Ao invés, é que um coro de assentimento pode ser mobilizado para afogar mesmo a tese mais rigorosamente defendida, quando a Sabedoria Convencional está na berlinda. O simples fato de que a SC errônea - especialmente a nutricional - é amplamente suportada não por pessoas malvadas, mas por pessoas altruísticas e bem-intecionadas, é que a faz ser difícil de derrotar. Cientistas, nutricionistas e médicos estão geralmente convencidos de que a SC que suportam e defendem serve aos melhores interesses da população. Eles não são gênios do mal; são pessoas boas que operam a partir de uma postura fundamentalmente falha.

Essas posturas fundamentalmente falhas forma a base da SC nutricional que conhecemos e desprezamos: a ligação entre a gordura dietária e doença cardíaca. Ela começou com o "Estudo dos 7 países", feito por Ancel Keys, no qual ele examinou taxas de doença cardíaca em dezenas de países procurando por suporte à sua hipótese de que a ingesta de gordura saturada se correlacionava positivamente com mortalidade por doença cardíaca. Ele foi capaz de levantar um grupo de 7 países que se encaixavam no perfil - mas somente após descontar e excluir dados de outras 14 nações que mostravam pouca ou nenhuma correlação! Keys quis provar uma posição prévia e, como é frequentemente o caso, conseguiu focar-se somente na evidência que a suportava.

Ainda assim, mesmo o mais inerte e aparentemente imóvel consenso pode mudar se confrontado com a tempestade perfeita de de evidência indiscutível, motivação financeira e crítica imperturbável. O ângulo financeiro é o mais difícil de tratar, é claro, mas é nossa responsabilidade - como céticos conscientes de todas as coisas convencionais - utilizar a evidência e levar a crítica àqueles que merecem. Boas intenções à parte, o importante é conseguir boa informação sobre saúde e questionar os status quo que não condizem com os fatos.

Eu quero esclarecer uma coisa: eu não questiono a Sabedoria Convencional porque me considero um cara "do contra" simplesmente por "ser do contra". Eu faço isso porque há um bocado de desinformação por aí afora, informação nutricional horrivelmente distorcida ou flagrantemente falsa que é ainda mais perigosa simplesmente porque foi cunhada Sabedoria Convencional pelo onisciente "eles" - quem "eles" são, é geralmenet difícil de dizer. Saiba apenas que "eles" sabem sobre o que estão falando (ou assim dizem). Se fosse aquele sem-teto perturbado, que ficasse na porta da loja de bebidas gritando sobre os perigos de uma dieta rica em gordura animal, ele seria fácil de ignorar. Mas quando "eles" são um grupo de experts de jaleco branco, vindos de siglas governamentais que soam importantes, nós tendemos a ouvir.

A SC raramente muda, mas quando o faz, é geralmente para o melhor. Eu já mencionei o exemplo óbvio do cigarro, mas a internet está tornando mais e mais difícil para os conselhos nutricionais sem embasamento passarem sem ser questionados. A maior parte das pessoas ainda recebe a sua informação dietária da Oprah ou da interpretação da mídia sobre o último estudo patrocinado pela indústria, mas um número crescente de indivíduos estão tomando o poder para si mesmos e para outros, com a riqueza de informação disponível online. As pessoas não tem mais que procurar pela análise dos "experts" em nutrição sobre determinado estudo; elas podem acessar a mesma informação, pegar os mesmos resumos e tirar suas próprias conclusões. E para aqueles de nós que podem não ter o tempo ou as ferramentas para destrinchar cada estudo, há blogs como esse aqui, ou o do Dr. Eades’, ou o Conditioning Research, ou o Whole Health Source, ou o site do Richard Nikoley que fazem o trabalho por você, tornando nossa incumbência fazer o "dever de casa" e garantir que não cometamos os mesmos erros que criticamos. É claro, há o fato de que, apesar de o caminho primal ser o caminho certo, não podermos perder nosso ceticismo. Uma nova SC "alternativa" está emergindo da blogosfera primal/paleo/low-carb, mas ela permanece uma minoria vocal, e manter o nosso rigor intelectual é crucial se quisermos fazer um impacto na sociedade como um todo.

Da mesma maneira que ômega-3, gordura animal satura e vegetais coloridos, um bom pedaço de ceticismo é parte de uma vida saudável. Nós temos cérebros, grandes, imensamente complexos, produto de milhões de anos de evolução, e deveríamos usá-los. Grok não confiava na Sabedoria Convencional; ele a criava. Aceitar o que "eles" dizem cegamente equivale a abrir mão do que nos faz essencialmente humanos: nossa habilidade de colocar a razão e a lógica na perseguição da verdade. Ao mesmo tempo, precisamos explorar, testar e constantemente examinar nossas idéias.

E assim, esse guia não tenta derrubar cada pedacinho da Sabedoria Convencional nutricional que seja enganoso ou falso (acho que já fazemos um trabalho bom nesse sentido, com os artigos regulares); eu simplesmente quer lembrar a cada um de vocês para nunca deixar de fazer questões e procurar verdades.

No final das contas, nós nos aceitamos talvez a maior SC de todas - aquela testada pelo tempo, naturalmente selecionada ao longo de centenas de milhares de anos, fundada nos fatos incontroversos da biologia evolucionária, que guiaram nossos ancestrais. Podemos jamais mudar as mentes da maior parte da sociedade, mas podemos fazer as pequenas - ou grandes - mudanças em nossas vidas que vão garantir a saúde, longevidade e bem-estar.

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