A gripe low-carb
Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
Vencer os carboidratos oferece uma constelação inteira de recompensas, a menor das quais não sendo um aumento brusco e constante de energia com o qual as pessoas não estão acostumadas (bem, talvez não depois dos 10 anos de idade...). As pessoas falam constantemente comigo que eles conseguem finalmente chegar ao fim do dia sem ter se sentido destruídos e letárgicos após o meio-dia. Eles a desfrutam de vigor e vitalidade suficientes para resisitirem a um dia inteiro de atividade. As ocupações da vida tornam-se mais fáceis de gerenciar: as demandas energéticas do trabalho diário ou das viagens a negócios, a confusão e constante bagunça das crianças, um final de semana de tarefas, etc. Uma refeição "pulada" não muda repentinamente a agenda para incluir a busca por um pão ou outro estimulante. Entretanto, para algumas pessoas, há um "quebra-molas" comum e temporário, embora passageiro, na estrada primal. Apesar de variar em formato, ele geralmente significa um par de semanas de concentração baixa, sensação de "cabeça-ôca" e fadiga. Apesar do seu corpo poder estar pronto para a corrida, o cérebro pode ficar um pouco para trás como um irmãozinho em uma roupa de neve pesada. É um jogo de "ei, espera aí!" enquanto os mecanismos e metabolismo do corpo se alinham. Ela é chamada de "gripe low-carb", e fique tranquilo porque é passageira.
Caro Mark,
Eu gostaria de saber se alguém que está seguindo o modo primal há algum tempo, teve algum problema com cognição nas primeiras semanas. Eu quase não consigo pensar direito, especialmente após comer, e também me sinto mentalmente fraca. Isso vai passar ? Apesar disso, meu corpo está ótimo!
Obrigado à Jessica pela sua questão em resposta ao excelente artigo do Matt Garland da semana passada. É um assunto comum nos emails que recebo.
Primeiramente, eu devo mencionar que algumas pessoas experienciam a gripe low-carb, e outras não. Via de regra, aqueles que já consumiam menos carboidrato há algum tempo parecem ter menos problemas ao diminuírem a ingesta de carboidratos mais um pouco. Ainda que possa soar racional, essa tendência não é uma regra rígida. Eu conheço um número de praticantes que se encaixa nesse perfil e que ainda assim tiveram os sintomas que a Jessica descreve. Outros fora de "açúcar na estratosfera" para low-carb à queima-roupa, e se sentiram bem desde o primeiro dia. Vai entender. Pode ser devido à variação genética - vou falar sobre isso em outro artigo.
Apesar de a gripe low-carb não ser universal, isso não significa que é anormal. Para muitas pessoas, leva cerca de 2 a 3 semanas para sair da fadiga e da lentidão. Estudos acompanhando a performance de praticantes de low-carb mostratam que as desvantagens iniciais desapareciam após essa janela de tempo. Se o seu corpo está acostumado à glicose fácil, vinda de carboidratos, e agora precisa criar a própria glicose a partir de gorduras e proteínas (um processo um pouco mais complicado, mas inteiramente natural), e pode levar algum tempo até operar com velocidade normal. Fique descansado, pois nossos corpos podem e fazem o trablaho. Simplesmente leva um pouco de tempo para funcionar eficientemente. A transição na prática muda os caminhos metabólicos relacionados com expressão de genes, iaumento dos caminhos de oxidação de gorduras e diminuição dos caminhos de armazenamento de gordura. (Isso não é nada para se preocupar!). Em poucas semanas, o corpo já deve estar bastante eficiente em converter proteína e gordura em glicogênio que será estocado no fígado, provendo toda a glicose que precisamos para o funcionamento cerebral, glóbulos vermelhos, músculos, etc, sob circunstâncias regulares.
A quantidade de pesquisa especificamente direcionada a dietas low-carb e cognição é pequena fraca, no máximo. Um estudo recente, por exemplo, mostrou atrasos de memória mínimos na primeira semana de eliminação estrita de carboidratos (ao invés de redução), mas mais medidas não foram tomadas até que os carboidratos fossem reintroduzidos. Da mesma maneira, aquelas pessoas seguindo a dieta tradicional da Associação Dietética Americana exibiram mais confusão durante os testes do estudo. Eu não acho que esse estudo oferece qualquer avaliação legítima e útil de nenhuma das dietas.
Entretanto, há a sensação de que estamos estressando o cérebro e causando estragos ao não banhá-lo com um suprimento de glicose contínuo. Na verdade, podemos estar fazendo aos nossos cérebros o maior dos favores. Pesquisa recente taxou a doença de Alzheimer como uma diabetes "tipo 3", uma doença relacionada à resistência à insulina. Verdade seja dita, nossos cérebros podem funcionar com corpos cetônicos, subprodutos do metabolismo das gorduras e fontes de energia chaves em dietas de baixo e muito baixo carboidratos, que alguns dizem ser ainda mais saudável para nós. Veja a entrevista de Jimmy Moore com o Dr. Larry McCleary, um respeitado neurocirurgiao e autor de The Brain Trust Program: A Scientifically Based Three-Part Plan to Improve Memory, Elevate Mood, Enhance Attention, Alleviate Migraine and Menopausal Symptoms, and Boost Mental Energy (Em tradução livre: Programa de confiança cerebral: Um plano cientificamente baseado em três partes para melhorar a memória, o humor, a atenção, aliviar a enxaqueca, sintomas da menopausa, e aumentar a energia mental).
Tenha em mente que pessoas em transição para low-carb podem genuinamente enganar suas necessidades físicas quando não estão comendo gordura suficiente ou quando estão praticando rotinas de exercício de alta intensidade que duram mais de 1 hora, o que joga as reservas de glicogênio do corpo de cara no chão. Eu já ouvi de praticantes de CrossFit e P90X que insistem em manter sua alta intesidade diária enquanto transicionam para uma alimentação primal. Isso não é dizer que você não pode se exercitar com mais intesidade por um tempo maior numa dieta primal (apesar de não haver necessidade disso para obter um condicionamento perfeitamente sólido), mas mais de um hora para uma pessoa requer carboidratos extra quando o glicogênio é esgotado. Se você estiver sendo incomodado por esse "nevoeiro cerebral" mesmo sem fazer exercício intenso, dê uma relaxada na sua restrição de carboidratos ao adicionar mais uns 25g, e veja se faz diferença. Escute o seu corpo e meça a sua sensibilidade. Roma não foi feita em um dia, você não vai comprometer o seu benefício geral ao pegar leve.
Como qualquer primal estabelecido pode te dizer, esse revés temporário empalidece em comparação com os benefícios, uma vez que a transição passe. Sem os picos e vales constantes, induzidos pelos carboidratos, você vai desfrutar de um aumento mensurável de energia – contínuo e estável – em pouco tempo. Segure firme, e saiba que você vai estar do outro lado da ladeira logo! Enquanto isso, tome conta de si com um pouquinho de paciência extra e talvez um chá verde na hora certa, para um impulso modesto quando precisar dele.
Nota do editor:
Eu tenho visto muita gente falar também, sobre maneira para contornar as dores de cabeça, o aumento da ingesta de água e um pouco de sal. Um POUCO. Não vá comer três colheres de sal "para sarar mais rápido".
De minha parte, a minha gripe durou dois dias exatos. Após 48h de dor de cabeça leve e sensação de "cabeça cheia de algodão", sumiu magicamente.
Eu passei MUITO mal com carbos muito baixos, o auge foi no terceiro dia. Suor frio, fraqueza, irritabilidade monstro, vontade apenas de ficar deitada. Tive que buscar "Atkins flu" (não sabia que já tinha a gripe low carb, rs) e tomar caldo por duas noites seguidas. Foi péssimo. E eu já fazia low carb e já sentia os benefícios, só que resolvi baixar mais ainda numa tentativa vã de emagrecer. Super low carb não é pra mim, definitivamente, sem falar que só consegui emagrecer quando passei a comer um pouco de tubérculo e ficar na faixa de 100g de carbos por dia, o que ainda é low carb se comparada à dieta padrão.
ResponderExcluirE os efeitos da cetose, como mau-hálito e cheiro característico no corpo e na urina? Isso passa também? Depende do tempo que você levar para ficar "ceto-adaptado", né?
ResponderExcluirOlá, Luciana!
ExcluirPrimeiramente, nem todo mundo que entra em cetose fica com mau-hálito. Varia com a intensidade da cetose, e também de pessoa para pessoa.
Agora, se você está em cetose e apresenta mau-hálito, creio que dificilmente ele vai passar... O mau-cheiro é causado pela eliminação de cetonas através da respiração e do suor - enquanto você estiver "vivendo" de corpos cetônicos, algum excedente será eliminado desta maneira...
Se isso te incomoda, talvez seja um motivo para não permanecer em cetose... Ela não é fundamental para a perda de peso - é apenas mais uma ferramenta...