Álcool e Jejum

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Você pode beber álcool durante um jejum?

Garanto-lhe que adoraria que a resposta fosse “sim”. Como uma pessoa que pratica jejum intermitente uma ou duas vezes por semana, posso dizer-lhe que houve dias em que pensei em quebrar um jejum só para tomar uma boa cerveja Guinness. Isso não acontece com frequência, mas quando acontece, penso em todas as desculpas que usaria para me convencer de que deveria ser capaz de tomar uma bebida.

Geralmente eu chego com o argumento “porque é bom para você”. Então meu cérebro me atinge com o contra-argumento de “é melhor que jejuar?

Cérebro maldito! Sempre me vence.

Mas o que realmente acontece quando você consome álcool no estado de jejum? É prejudicial para a perda de gordura que esperamos do jejum intermitente?

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Vamos explorar.

Para começar uma revisão do álcool e do jejum, precisamos saber duas coisas básicas: o que acontece quando ingerimos álcool e para onde ele vai depois de ingeri-lo?

Depois de beber álcool, ele é prontamente absorvido pelo trato gastrointestinal. Cerca de 20% da absorção do álcool ocorre por difusão passiva através da parede do estômago com o restante absorvido pelo duodeno e pelas paredes do intestino delgado [Norberg A, 2003].

Uma vez que o álcool tenha sido absorvido, ele é eliminado lentamente. Isso ocorre principalmente através do metabolismo, basicamente, é queimado como combustível. Uma quantidade super pequena de álcool é excretada inalterada na respiração (0,7%), suor (0,1%) e urina (0,3%) [Holford NH, 1997].

Eis outro fato divertido: segundo a Wikipedia (que nunca está errada), o sistema digestivo humano médio produz aproximadamente 3 gramas de etanol por dia (pouco menos de 1/3 de uma cerveja)… completamente irrelevante para um artigo sobre jejum intermitente e álcool, mas interessante, no entanto.

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No entanto, como eu disse, o ponto aqui não é uma revisão completa dos benefícios para a saúde e metabolismo do álcool.

Na verdade, este artigo surgiu por causa de um estudo intitulado “Efeito do Consumo Moderado de Vinho Branco sobre o IgA Sérico e Insulina Plasmática sob condições de jejum”.

Neste ensaio, 5 homens não-alcoólatras foram solicitados a jejuar por 6 horas e consumir 40 gramas de álcool na forma de vinho branco meio-seco durante um período de 3 horas.

(Para você ter uma ideia, isso é apenas um pouco menos de 350ml de vinho)

Acontece que essa quantidade de consumo de álcool não elevou os níveis de insulina acima dos níveis de jejum (ficou abaixo de 10uU/ml) [Kokavec A, 2006]. Muito legal. Ainda mais legal é que essa descoberta está de acordo com vários outros estudos. Acontece que o álcool, mesmo nesses níveis, não tem muita influência nos níveis de insulina [Hawkins R, 1972].

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Agora, como a maioria das pessoas relaciona os níveis de insulina com a perda de gordura ou armazenamento de gordura, eu entendo por que você pode estar pensando: “UAU, O BRAD PILON DISSE QUE POSSO TOMAR MEIA GARRAFA DE VINHO DURANTE O MEU JEJUM!”

Não tão rápido.

Se você já leu Eat Stop Eat (e espero que você tenha), então sabe que há mais na queima de gordura do que apenas insulina. Nós também temos que olhar para o hormônio do crescimento (GH).

Felizmente, a pesquisa sobre a ingestão aguda de álcool e seu impacto sobre o hormônio do crescimento já foi feita. 

Infelizmente os resultados são… bem… equivocados.

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Em um ensaio concluído em 1971, 11 homens saudáveis ​​ingeriram aproximadamente 80 gramas de álcool após um jejum noturno. Isto é o equivalente a beber um pouco mais do que uma garrafa de vinho ou cerca de 8 cervejas.

Após a ingestão do álcool, os níveis de hormônio do crescimento subiram bem acima dos níveis normais. Dentro de 3 horas após o consumo do álcool, seus níveis de ácidos graxos livres de sangue (FFA) começaram a cair abaixo dos níveis normais de jejum. Curiosamente, os níveis de glicose no sangue permaneceram constantes durante as 3 horas de medição [Bellet S, 1971].

Este estudo é um pouco complicado, já que é uma dose relativamente alta de álcool. Com toda a honestidade, espero que ninguém esteja se perguntando se pode beber uma garrafa inteira de vinho durante o jejum.

De fato, pode-se sugerir que o aumento do GH foi uma reação ao estresse pelo fato de que esses senhores estavam mais do que provavelmente intoxicados por essa quantidade de vinho, que foi consumida rapidamente, e pela manhã.

Independentemente disso, parece que com um aumento no GH e uma diminuição na insulina, poderíamos ser capazes de tomar algumas biritas durante os nossos jejuns (SIM!). Lembre-se de que no Eat Stop Eat, os marcadores-chave de um estado em jejum são elevação de GH e diminuição da insulina.

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No entanto, também é sabido que tanto a ingestão aguda quanto crônica de álcool altera os padrões normais de sono. Tipicamente suprimindo o sono REM e aumentando o sono de ondas lentas, com a magnitude dessas alterações sendo diretamente relacionadas aos níveis de álcool no sangue [Yules RB, 1966]. Eu acho isso interessante porque também é bem sabido que a secreção noturna do hormônio do crescimento está relacionada ao aparecimento do sono de ondas lentas.

Então, olhamos para outro estudo que examinou os efeitos de uma bebida antes de dormir em 5 homens adultos. Neste teste, os homens em jejum consumiram 0,8 gramas de álcool por quilograma de peso corporal antes de dormir (para um indivíduo de 170 libras isso é cerca de 60 gramas de álcool, que é cerca de 6 cervejas ou 4 taças de vinho).

Como esperado, os níveis de álcool no sangue subiram e retornaram aos níveis basais entre 4-6 horas depois. Mas o interessante é o que aconteceu com seus padrões de sono.

O sono REM diminuiu, as ondas lentas aumentoram. Não só o sono foi perturbado (jeito científico de dizer que ficaram confusos), mas a ingestão de álcool diminuiu significativamente o pico de GH associado ao sono de ondas lentas em quase 70%.

Esta é uma alteração bastante significativa nos níveis de GH. Também é mais consistente com outros estudos em que até mesmo doses moderadas de álcool podem bloquear ou neutralizar várias respostas do GH no corpo [Prinz PN, 1980].

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Portanto, a insulina permanece baixa, mas o GH parece ser atrapalhado, a menos que a ingestão de álcool esteja no lado extremo.

Interessante, mas tanto a insulina quanto o GH são o que chamamos de “desfechos substitutos”. Na prática estamos realmente preocupados é com o que está acontecendo desfecho verdadeiro: a queima de gordura.

Felizmente, há um estudo para resolver esse problema.

Em um estudo publicado em 1999, 8 homens saudáveis ​​foram convidados a beber 24 gramas de álcool após um jejum de 12 horas. De imediato, posso dizer que este estudo é um pouco mais aplicável à nossa situação, já que esta quantidade de álcool é encontrada em cerca de duas cervejas, dois copos normais de vinho ou duas doses de 40ml de destilado… uma ingestão muito mais realista para um bebedor casual do que tentar beber 6-8 cervejas durante um jejum.

Neste estudo, após a ingestão de álcool a lipólise (gordura sendo liberada de suas reservas de gordura corporal) e a oxidação de gordura (gordura sendo queimada como combustível) despencou, representando uma diminuição de ~70% na queima de gordura. A oxidação de carboidratos não mudou, mas o gasto total de energia aumentou (sua taxa metabólica aumentou) [Siler SQ, 1999].

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Resumindo: uma dose bastante normal de álcool causou uma diminuição na queima de gordura, nenhuma mudança na queima de carboidratos e um ligeiro aumento na queima total de calorias em homens que estavam em jejum.

Então a questão permanece. Se a taxa metabólica aumenta, a oxidação da glicose permanece a mesma, e a queima de gordura diminui… o que diabos eles estavam queimando?

Acontece que a resposta é o álcool… mais ou menos.

O álcool que consumimos é convertido em algo chamado acetaldeído e depois em acetato. Podemos manipular o acetato, mas se bebermos depressa demais, as enzimas responsáveis ​​por essa conversão não podem acompanhar e o acetaldeído começa a transbordar e pode levar a danos e efeitos tóxicos. Portanto, faz sentido que até 77% do álcool que você ingere se torne acetato no sangue e que estejamos bem equipados para descartar este acetato [Manzo-Avalos S, 2010].

O destino primário do acetato circulante é a oxidação. Em outras palavras, ele é queimado como combustível, sendo eventualmente metabolizado em CO2 no coração, no músculo esquelético e até nas células cerebrais. Sim, até mesmo o seu cérebro é capaz de mudar e usar o acetato como combustível se estiver presente na corrente sanguínea.

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A tradução aproximada disso é: se o acetato estiver presente no seu sangue, ele será usado com prioridade sobre a gordura ou carboidratos e proteínas.

De fato, o acetato de sangue é uma prioridade tão grande que a mera presença pode diminuir a lipólise em aproximadamente 50%, mesmo quando você está em estado de jejum [Crouse JR, 1968].

E isso é o que acontece quando você bebe durante o seu jejum. Não é que você ganhe mais gordura (a menos que esteja bebendo demais), mas deixará de liberar gordura corporal, deixará de queimar gordura corporal e queimará acetato. Isso ocorre sem qualquer alteração nos níveis de insulina.

Então, infelizmente, parece que a resposta é que você não pode beber durante os jejuns sem diminuir suas habilidades de queima de gordura. Felizmente, com os jejuns Eat Stop Eat, você só jejua uma ou duas vezes por semana. Deixando 5 ou 6 dias para você pode tomar uma bebida. 

NOTA: Acho estranho que TODAS as pesquisas tenham sido conduzidas em homens. Sabemos que a quantidade de etanol metabolizada pelo estômago difere por sexo [Frezza M, 1990], mas não vejo razão para que isso exclua as mulheres da regra de “não beber durante um jejum”.

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Artigo de Brad Pilon, traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.

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